No bairro Santana, em Porto Alegre, todas as noites, às 20h, começa a bagunça: Millena, sete anos, mexe o molho com uma colher, a mãe, Monica Brum, 27 anos, pica a carne sem tirar o olho da menor, Isabella, dois anos, que se diverte limpando os tomatinhos. Enquanto isso, a maior fala sobre a escola e a história de um colega, e a menor derrama água e tenta pegar o talher da irmã. Estão armados o jantar e a diversão.

Momentos como esse viraram tema de uma iniciativa americana: o The Family Dinner Project (Projeto do Jantar Familiar, em tradução livre). Idealizado por uma organização sem fins lucrativos e com profissionais de diversas áreas, propõe que a família se reúna em alguma refeição pelo menos uma vez por dia. Se cozinhar junto, melhor ainda.

Uma das integrantes do grupo, Anne Fishel, professora da Universidade Harvard (EUA), resumiu os benefícios da prática em entrevista por e-mail:

– É uma chance para os membros da família falarem e serem ouvidos. Isso possibilita que se crie uma conexão e um afeto maior entre todos.

A conversa e a intimidade dessas ocasiões são os segredos para o desenvolvimento de uma maior confiança nos pais e o treinamento da escuta nas crianças, avalia a mestre em psicologia social e de personalidade Vivien Bock. É também nesse convívio diário que os filhos observam os pais e aprendem, na prática, etiqueta na mesa e comportamento.

– As questões culturais são transmitidas no dia a dia, não existe aula para isso – diz Vivien.

Os pequenos podem aprender até como se cozinha, por exemplo. Manter uma rotina também gera uma sensação de estabilidade para a criança, que ganha autoconfiança. De acordo com a coordenadora do serviço de psicologia do Hospital Universitário Ulbra/Mãe de Deus, Alessandra Wolf, uma explicação para os benefícios de jantar junto é de que, desde o nascimento, a alimentação é associada a uma sensação prazerosa e afetiva, como na amamentação.

O importante, de acordo com Vivien, é proporcionar atividades de integração entre a família, para que as crianças saibam conviver socialmente – o que pode impactar mais tarde até no desempenho escolar. A comida não precisaria ser o motivo de reunião, mas, como é necessário se alimentar, junta-se o útil ao agradável. Se na sua casa todos estão correndo, o projeto americano garante que só o tempo da sobremesa pode ser suficiente.

Júlia Otero

The Family Dinner Project

- É um grupo americano que propõe que as famílias se reúnam uma vez por dia para fazerem uma refeição
- Entre os benefícios, estão maior conexão e afeto entre os familiares
- A refeição poderia ser café da manhã, almoço, jantar, lanches e até o momento da sobremesa
- A família não é considerada apenas pais e filhos, mas qualquer grupo de pessoas
- Saiba mais no site - clique aqui.