Estima-se que 45% da população mundial apresentem algum grau de incompatibilidade alimentar. Para discutir o assunto, o Hospital Santa Isabel convidou Paulo Roberto Grimaldi Oliveira, graduado em Medicina pela UNIFESP, mestre em Anatomia Patológica pela UNIFESP e doutor em Oncologia pelo hospital A.C.Camargo, para trazer o que há de mais moderno no diagnóstico desse tipo de problema que ataca diretamente o intestino.
“Responsável pela produção de 80% da serotonina do nosso corpo e muito importante para o nosso sistema imunológico, o intestino é considerado hoje o nosso segundo cérebro”, revela Grimaldi. “Por isso é tão importante identificar que tipo de alimento está agredindo-o”, completa.
Durante a 26ª Jornada Científica do HSI, o patologista explicou que a incompatibilidade/intolerância alimentar é uma reação de defesa do nosso corpo contra o ataque de alguns alimentos, podendo manifestar-se através de uma série de sinais e sintomas inespecíficos. A doença celíaca é uma doença decorrente dessa luta entre o organismo e o glúten. Afeta 1 em cada 100 a 200 pessoas, dependendo do país pesquisado. É induzida pelo glúten e provoca lesões inicialmente no intestino delgado. Outros sinais de incompatibilidade alimentar compreendem queixas gastrintestinais, cutâneas, respiratórias, neurológicas, ginecológicas, doenças autoimunes, obesidade, dificuldade para perder peso, processos alérgicos e doenças crônicas.
O diagnóstico da doença celíaca é feito através do quadro clínico, sorologia - IgA-anti-transglutaminase (ATA) e IgG-anti-endomísio - e biópsia de duodeno/jejuno alto obtida por endoscopia. “Havendo a confirmação, a pessoa precisa eliminar o glúten da dieta”, afirma Grimaldi. Um estudo realizado pela Universidade de York, no Reino Unido, revelou que 75,8% dos pacientes que seguiram rigorosamente a dieta prescrita tiveram uma nítida melhora no quadro clínico três semanas após início da dieta restritiva. 92,3% dos pacientes notaram a volta dos sinais e sintomas ao reintroduzir esses alimentos em sua dieta.
Um levantamento feito nos Estados Unidos identificou que na população norte-americana os 10 alimentos mais incompatíveis com o ser humano em ordem de frequência são glúten, leite e derivados, amendoim, milho, frutos do mar, açúcar, soja, laranja, carne e ovo. “No Brasil, ainda estamos na fase inicial dos estudos, mas já percebemos um alto índice de incompatibilidade com leite de vaca e derivados. E os principais sintomas dessa incompatibilidade são excesso de gases intestinais, cólicas abdominais, mau hálito, sensação de distensão abdominal, azia, diarréia, problemas de pele, osteopenia, osteoporose, doenças autoimunes e obesidade”.
Para identificar quais alimentos provocam incompatibilidade alimentar, é preciso realizar um exame que pesquisa e quantifica o anticorpo chamado IgG (imunoglobulina G) no sangue. Atualmente no Brasil, o método empregado é o ELISA - Enzyme Linked ImmunoabSorbant Assay – que testa 109 alimentos, entre leites (cabra, ovelha e vaca) e ovos (clara e gema); peixes, crustáceos e frutos do mar; frutas; grãos; ervas e especiarias; carnes; nozes e castanhas; e vegetais. “Este exame pode resolver definitivamente um problema que há anos atormenta um paciente, mas que nenhum médico conseguiu identificar”, completa Paulo Roberto Grimaldi Oliveira.
O laboratório Pathos, que realiza esse tipo de exame, atua no Hospital Santa Isabel, na área de Anatomia Patológica.