A novela das 21 horas da Globo, Amor à Vida, trouxe à discussão o Lúpus, doença que atinge a Paulinha, filha dos protagonistas. Embora seja uma patologia que inspire cuidados e mais grave quando atinge crianças, o médico do Serviço de Reumatologia do Hospital Mãe de Deus, Dr. Odirlei Monticielo, esclarece que a necessidade de transplante hepático em curto espaço de tempo e decorrente da doença é uma situação fictícia criada pelo autor, raramente acontece na realidade. É mais comum termos acometimento dos rins que, se não tratado adequadamente, pode levar a necessidade de transplante renal ao longo do tempo.
O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença autoimune, na qual o sistema imunológico ataca e destrói tecidos saudáveis por entender haver “algum agente inimigo” no corpo, que na verdade não existe. Pode envolver qualquer parte do organismo. Desta forma, muitos podem ser os sinais e sintomas, tais como febre, aumento dos linfonodos, cansaço, manchas na pele que pioram com exposição solar, queda de cabelo, dor nas juntas, dor no peito que piora com a respiração, urina escura e espumosa, inchaço nas pernas, anemia, diminuição das plaquetas e alterações neuropsiquiátricas.
O seu diagnóstico muitas vezes é desafiador, dependendo muito da avaliação médica e do acompanhamento do paciente. Não existe um exame que isoladamente possa defini-lo.
Não há como prever se uma pessoa terá ou não Lúpus. A doença não é infecto-contagiosa. O importante é saber quais sintomas são mais comuns e quando deve procurar assistência médica e qual especialidade recorrer.
Entenda algumas características dessa doença e como combatê-la.
- Fatores relacionados com seu surgimento: Alterações genéticas, fatores ambientais (infecções virais, radiação solar, tabagismo) e fatores hormonais como o estrogênio, o que ajuda a explicar a maior prevalência em mulheres.
- Perfil dos pacientes: as mulheres são mais afetadas, especialmente na idade reprodutiva. Também pode ocorrer em crianças, onde costuma ser mais grave, e em idosos, onde geralmente é mais branda.
- Tratamento: não existe cura, mas existe tratamento que mantém a doença em remissão. Um dos mais importantes medicamentos é a hidroxicloroquina, que atua como imunomodulador, o que objetiva regular as alterações do sistema imune. O glicocorticóide é muito utilizado no controle das manifestações agudas, mas não deve ser mantido por toda a vida, devido a seus potenciais eventos adversos, tais como aumento da pressão arterial, diabetes, catarata, aumento de peso, estrias na pele e muitos outros. E, em situações mais graves, lançamos mão de medicações que suprimem o sistema imune, ou seja, fazem as defesas hiperativadas serem diminuídas. Dentre estas medicações, a Azatioprina, o Metotrexato e a Ciclofosfamida são as mais utilizadas. Recentemente, novas drogas tem sido descobertas para o tratamento do LES e também poderão ser integradas ao nosso uso. Jamais faça uso de medicações sem a orientação médica.
- Hábitos saudáveis, como dieta balanceada, a prática de exercícios físicos, evitar tabagismo, repor vitamina D e evitar exposição a radiação solar (também lâmpadas fluorescentes) são importantes aliados. Também é necessário fazer as vacinas conforme calendário vacinal e manter acompanhamento psicológico das pacientes. Uma outra dica é evitar a reposição hormonal e o uso de anticoncepcionais com estrogênio.
- A gestação no Lúpus é possível, desde que a doença esteja sob controle por pelo menos 6 meses e a paciente não esteja usando medicação que possa causar problemas ao feto.