
Trocar fraldas, amamentar, ninar, dar banho e colo. Em geral, a atenção necessária com os recém-nascidos requer tempo integral e, por isso, a maioria das mulheres acaba esquecendo, ou mesmo preterindo, os cuidados consigo. É comum elas não se preocuparem, por exemplo, com dores nas mãos, punhos, cotovelos e ombros, que podem surgir a partir da repetição dos movimentos realizados nas atividades maternas. Fique de olho: o desconforto pode ser um sintoma de tendinite.
De acordo com o professor da Faculdade de Medicina da PUCRS e chefe do serviço de fisiatria do Hospital São Lucas, Carlos Issa Musse, o conhecimento científico a respeito da patologia evoluiu muito nos últimos 15 anos.
— Hoje sabemos que a doença não é apenas inflamatória e ocorre a partir de um processo crônico de espessamento e proliferação desordenada das células do tendão, um tecido fibroso e resistente. Ela se relaciona diretamente com o superuso e os hábitos cotidianos, atingindo mães e atletas — esclarece ele.
Uma ecografia, em geral, confirma a doença
No caso das mulheres, há a sobrecarga mecânica, ao lidar com a criança, agravada pelas alterações biológicas da gestação. Isso porque a tendinite também deriva da retenção de líquidos no final da gravidez e da secreção de um hormônio pela placenta chamado relaxina.
— Essa substância, ao mesmo tempo em que aumenta a flexibilidade dos ligamentos do púbis e o relaxamento do útero para facilitar o parto, contribui para a mobilidade anormal e o amolecimento de todas as articulações do corpo — explica a fisioterapeuta Suzana Moreira.
O diagnóstico é feito pelo médico com base nas queixas do paciente, como dor e limitação de movimentos. Conforme o fisiatra, no exame o tendão geralmente está dolorido e, ao tocá-lo, pode-se observar e sentir o aumento do volume e sua consistência alterada. Ele acrescenta que, de modo geral, a imagem de uma ecografia é suficiente para a confirmação da doença.
Na lida com os pequenos
A amamentação é uma das situações determinantes para o desenvolvimento da doença, já que a postura das mães e a forma como elas seguram o seu bebê nem sempre é correta.
O próprio ato de amamentar pode acarretar torcicolo, pois a mãe normalmente fica olhando o bebê. Os tendões comprometidos com mais frequência durante a atividade são os do punho e os das mãos e, com menor incidência, os do ombro, indica Musse. Ele aponta ainda que dores nas costas, geradas pelo posicionamento incorreto da coluna cervical e dorsal ao trocar fraldas, por exemplo, também são recorrentes.
Como evitar
— Durante a gestação, faça exercícios de fortalecimento, resistência e alongamento com moderação e orientação profissional
— Exercícios na água, como hidroginástica e hidroterapia, resultam em pouco impacto nas articulações, ajudam no combate às dores nas costas e contribuem para aliviar alguns desconfortos da gestação. E não esqueça: é necessário fazer repouso entre as atividades
— Ao amamentar, procure sentar-se em uma poltrona ou sofá confortável, onde as coxas estejam totalmente apoiadas na base do assento, os joelhos na mesma linha do quadril e os pés apoiados no solo. A coluna deve estar junto ao encosto para não "escorregar". De vez em quando, olhe para frente para não sobrecarregar o pescoço
— Observe a altura do trocador e da banheira, evitando inclinar o tronco para frente. Procure deixá-los em uma altura em que sua coluna fique ereta
— Um apoio para elevar o bebê durante a amamentação, para que ele não sobrecarregue seus braços, pode ser útil. As almofadas em forma de C, que encaixam na cintura, são as mais adequadas
— Ao pegar o bebê no berço, dobre sempre os joelhos e se abaixe mantendo a coluna ereta. E lembre-se: fique atenta a sua postura
— Evite, na gestação e no pós-parto, ações que intensifiquem o emprego das mãos e pulsos, como digitar, usar tablet e smartphone, tricotar e bordar
— O uso de acessórios como slings e cangurus pode ser uma boa alternativa para não forçar demasiadamente os braços ao carregar a criança. Mas, atenção: é preciso que o posicionamento da coluna esteja correto e que a postura seja adequada. Do contrário, você estará liberando seus braços da sobrecarga e a depositando em outra região
Fontes: fisiatra Carlos Issa Musse e fisioterapeuta Suzana Moreira
Hora de remediar e tratar
Gelo, repouso e a colocação de talas removíveis resolvem a tendinite na maioria das vezes. É importante imobilizar a região afetada para que ela não sofra ainda mais com a sobrecarga e a força aplicadas. Usar apoios, ou mesmo almofadas e travesseiros, proporciona conforto e facilita o alinhamento postural.
Medicamentos como analgésicos e anti-inflamatórios também podem ser utilizados, dependendo da intensidade da dor e da gravidade da doença. Entretanto, nem pense em tentar a automedicação: a prescrição do remédio pelo especialista é imprescindível, já que alguns podem ser excretados pelo leite materno e comprometer a saúde do bebê. Intervenções cirúrgicas são realizadas em pouquíssimos casos.