Recentemente, a cantora britânica Melanie B, ex-Spice Girls, anunciou à imprensa que foi diagnosticada com dislexia aos 43 anos. Em seu relato, ela contou como o desconhecimento da doença afetou sua produtividade na infância e na vida adulta. Cerca de 8% da população é diagnosticada com este transtorno. O professor da Escola de Ciências da Saúde e Pesquisador do Instituto do Cérebro (InsCer), Augusto Buchweitz, explica que a dislexia se apresenta na aprendizagem da leitura, que é inesperadamente laboriosa, lenta e imprecisa. “A dislexia está relacionada com uma dificuldade no reconhecimento da relação entre as letras e seus sons correspondentes”, esclarece.
A origem da dislexia é neurobiológica. Ela está associada com um funcionamento atípico de sistemas neurais que, durante o aprendizado da leitura, precisam se adaptar para que a criança consiga aprender a “quebrar o código” do sistema escrito. Os circuitos neurais que apresentam funcionamento e estrutura atípica na dislexia incluem dois centros mais posteriores no cérebro, um occipitotemporal (ou seja, na junção entre os lobos occipital e temporal) e outro parietotemporal (na junção destes lobos), ambos no hemisfério esquerdo.
O diagnóstico se estabelece, primeiramente, com a constatação da ausência de déficit cognitivo, transtornos de saúde mental e outros fatores que possam afetar o desenvolvimento cognitivo e a aprendizagem. “Seria inesperado que esta criança não desenvolva a leitura fluente e precisa como seus pares”, elucida Prof. Augusto.
O pesquisador ainda esclarece alguns mitos sobre a dislexia:
A dislexia é um problema de visão: a dislexia não está relacionada com problemas de visão, mas com a habilidade de decodificar letras em sons.
A dislexia é um problema social: a dislexia não vê classe social, sexo, etnia, cultura ou qualquer outro fator social. Ela afeta a todos. O diagnóstico, por isso mesmo, depende da exclusão de fatores sociais e psicológicos que possam estar na raiz da dificuldade de aprender a ler. Pelo contrário, a vulnerabilidade social dificulta o diagnóstico da dislexia, pois há mais fatores, como má-alimentação, negligência e escolarização inadequada, que podem estar na raiz de uma dificuldade de leitura que, na presença destes agravantes, pode não estar relacionada com o transtorno de aprendizagem especificamente.
A dislexia passa com o tempo: a dislexia não é uma doença, uma patologia, nem tem “cura”. O leitor disléxico sempre enfrentará a leitura como um trabalho mais árduo do que seus pares. Por isso, é preciso desenvolver estratégias e adaptar/personalizar o trabalho de leitura com quem sofre desse transtorno.