O futuro do tratamento da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é entender melhor como ela afeta os brônquios e os pulmões. Esse foi o principal ponto debatido no Congresso da Sociedade Respiratória Europeia (ERS), o evento mundial mais importante da área de pneumologia, que terminou no último dia 22 de setembro, em Barcelona. Estudos revelam que a inflamação da asma não é igual a da DPOC, o que reforça a necessidade de um tratamento desenvolvido especificamente para a DPOC. Neste contexto, durante o Congresso, a Nycomed, companhia farmacêutica global, apresentou o primeiro medicamento que irá tratar a inflamação da DPOC, o roflumilaste.
Na inflamação da DPOC uma enzima chamada de fosfodiesterase 4 (PDE4) tem uma participação muito importante. A PDE4 está presente em várias células inflamatórias, entre elas neutrófilos e leucócitos, associadas à inflamação característica da DPOC. Ao inibir a ação desta enzima, outra proteína, que tem função imunomoduladora, tem seus níveis elevados e reduz assim a função pró-inflamatória dessas células. Segundo o médico pneumologista Dr. José Roberto Jardim, a inflamação crônica da DPOC causa modificações estruturais e o estreitamento progressivo das vias aéreas. Com o passar do tempo, o paciente diminui muito a capacidade respiratória e se torna incapaz de exercer atividades simples do dia-a-dia, como tomar banho, subir uma escada e caminhar, sentindo muita falta de ar. “É uma doença altamente incapacitante e o paciente vive constantemente com a sensação de afogamento. O que muitas pessoas não sabem, é que a DPOC é progressiva e irreversível. A doença atinge homens e mulheres, normalmente, acima dos 40 anos e principalmente aqueles que fumaram por mais de 20 anos”, diz o médico.
A descoberta da origem e da estrutura da inflamação da doença traz uma nova perspectiva para os pacientes. “Com estes estudos, conseguimos entender porque muitos pacientes com a doença pulmonar obstrutiva crônica não respondiam aos corticoides, anti-inflamatórios usados para tratar a asma e a DPOC. Agora, sabemos que a inflamação dos pulmões de quem tem DPOC é resistente aos corticoides. Isso revela que é necessário um anti-inflamatório específico para tratar a inflamação característica da DPOC”, afirma o pneumologista Dr. Jardim.
O controle da inflamação da DPOC é importante para não aumentar as chances de crises, ou exacerbações, e não agravar a doença, que é progressiva. As crises de DPOC acontecem quando há aumento da tosse, da quantidade de escarro, que se torna amarelo ou verde e piora da falta de ar. As crises pioram a qualidade de vida do paciente e aceleram a evolução da doença, explica Dr. Jardim.
Para o Manoel de Souza Machado Junior, presidente da Associação Brasileira de Portadores de DPOC e portador da DPOC há 15 anos, é notável o avanço no diagnóstico e o tratamento da doença nos últimos anos. “Mas sabemos que ainda temos um longo caminho a percorrer, principalmente na conscientização sobre os malefícios do cigarro, na melhora do diagnóstico e finalmente na publicação de novos consensos e protocolos clínicos que ajudem os pacientes já diagnosticados a terem acesso aos medicamentos e demais terapias”, conclui Sr. Manoel.
Sobre a DPOC
O termo DPOC é usado para descrever a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica que causa inflamação crônica e lesão pulmonar. A bronquite crônica e o enfisema são formas de manifestação da DPOC. A bronquite é caracterizada pela inflamação dos brônquios, ou seja, as vias que carregam oxigênio do ar para os pulmões ficam mais estreitas, causando dificuldade em respirar, pois aumenta o esforço necessário para o ar entrar e sair dos pulmões. Já o enfisema ocorre quando os alvéolos perdem a elasticidade e sofrem ruptura, reduzindo a capacidade do pulmão extrair o oxigênio do ar e enviar para o corpo.
TESTANDO A DPOC
A Organização Global de DPOC desenvolveu um questionário para aumentar o conhecimento sobre a doença. Se você responder SIM para 3 questões ou mais deve procurar um médico para realizar os exames que podem diagnosticar a DPOC.
1. Tem mais de 40 anos?
2. É fumante ou ex-fumante?
3. Apresenta tosse diária e constante?
4. Apresenta catarro pulmonar ou muco, na maioria dos dias?
5. Sente mais falta de ar que as pessoas da mesma idade?