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Suicídio e tabu
 
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06/12/2011

Suicídio e tabu

Especialista explica os principais fatores de risco e qual a melhor forma de enfrentar esse problema

Pensar na morte. É possível que a maioria das pessoas adultas já o tenha feito. Projetar algo que é inerente ao ser humano e que faz a vida importante: a morte dá valor ainda maior ao nosso (pouco) tempo sobre a Terra. Mas existe uma diferença entre pensar no fim do seu tempo no mundo e desejar que sua vida acabe. Planejar esse final, então, é algo ainda mais sério. Suicídio é um tema que é tabu. As pessoas evitam falar sobre pessoas e fatos que lembrem a ideia. E isso, por um lado, ajuda. Afinal, pesquisas dizem que entre 5 e 8 pessoas próximas a alguém que se suicidou podem ficar afetadas a ponto de desejar atentar contra a própria vida. E não são somente os amigos e parentes. Vizinhos, colegas de trabalho, conhecidos no bairro, todos ficam sensibilizados.

Por outro lado, simplesmente fazer de conta que o assunto não existe é ainda pior. “As pessoas que estão pensando no suicídio normalmente pedem ajuda. Mas esse pedido de ajuda nem sempre é verbalizado”, afirma Alexandrina Meleiro, psiquiatra especialista no tema e pesquisadora ligada ao Instituto de Psiquiatria (IPq) da USP.

Esse pedido de ajuda, explica Alexandrina, pode ser por meio de atitudes, como o isolamento social, cartas e e-mails de despedidas ou mesmo pelo aumento do consumo de álcool e drogas, em um comportamento visivelmente autodestrutivo.

Outras vezes, o indivíduo verbaliza seus sentimentos, mas não é ouvido. “Muitas pessoas ouvem alguém falar sobre suicídio e banalizam, acham que aquele indivíduo está querendo chamar a atenção. O que essas pessoas não se questionam é justamente isso: se ela está querendo chamar a atenção, talvez o problema seja realmente sério. Ignorar um pedido de ajuda assim pode ser justamente a gota d’água que pode levar aquele indivíduo a dar mais um passo em direção ao suicídio”, exemplifica Alexandrina.

Grupos de risco

Os fatores de risco para o suicídio são amplos. Mas é bom salientar: fazer parte desses grupos de risco não é determinante. Normalmente os pensamentos suicidas são resultado da associação de uma série de fatores. E mais importante: os fatores de risco têm menos peso nesse processo do que os fatores de proteção.

Ser impulsivo é o primeiro fator de risco. Pessoas impulsivas podem determinar que a vida não tenha mais saída e tomar decisões imediatas e impensadas. “Se essa pessoa não tiver estrutura emocional para lidar com as dificuldades ou tiver problemas como dependência de álcool e outras drogas, isso é uma somatória perigosa”, diz Alexandrina.

Os transtornos do humor, especialmente a depressão, também é outro fator de risco. Nesse caso reside outro erro no senso comum sobre o problema: achar que somente uma grave depressão pode ser algo preocupante. “Qualquer nível de depressão pode levar a pessoa a ter pensamentos ou levar a cabo o suicídio”, alerta a especialista.

Determinadas profissões também são relacionadas com maiores taxas de suicídio. “Profissões que deixam as pessoas em contato com substâncias químicas – como venenos –, drogas e armas, são as que mais representam riscos”, diz. Policiais e médicos fazem parte de um grupo de alto risco de suicídio. No caso dos policiais, a somatória de fatores ainda passa pela pressão do dia a dia, estresse constante, alto risco de desenvolvimento de depressão e, claro, a constância da arma ao alcance das mãos.

Mas um dado relativo à profissão impressiona: médicas mulheres têm até cinco vezes mais propensão a cometer o suicídio do que aquelas com outras profissões. Aí fica evidente a questão da somatória de fatores. Homens e mulheres, por exemplo, apresentam padrões diferentes quando o assunto é suicídio: os homens são o triplo em termos de número de mortes, porém as mulheres cometem até três vezes mais tentativas. “No caso das médicas, saber que substância usar talvez contribua, da pior forma, para o problema”, explica Alexandrina.

Doenças crônicas também pontuam negativamente nessa tabela de riscos. A incidência de suicidas entre os doentes de câncer (especialmente os de pâncreas, de próstata e o de mama) é alta, assim como entre indivíduos em estágios iniciais de doenças neurodegenerativas como a doença de Parkinson e a doença de Alzheimer. “As doenças neurodegenerativas contribuíram também para o aumento significativo do número de suicídio entre idosos”, alerta a psiquiatra.

Enfatizar os fatores de proteção

“Os fatores protetivos têm um grande peso em todo esse processo. A pessoa pode ter diversos fatores de risco associados, mas pequenos fatores de proteção, que parecem nem fazer tanta diferença em uma análise mais superficial, são decisivos para evitar que as pessoas tentem o suicídio”, lembra Alexandrina.

Ter uma religião ou ser espiritualizado é algo que contribui positivamente no processo. Os motivos são diversos, mas talvez o mais importante seja a convivência com outras pessoas que compartilham de crenças associadas a pensamentos positivos, mensagens de superação e que estão dispostas a apoiar os indivíduos do seu grupo. Se a religião envolve missa ou cultos, melhor ainda: a interação social é outro fator de proteção.

Mas ter amizade com os vizinhos e pessoas do bairro também vale. Conversar com o dono da banca da esquina sobre o “tempo de chuva”, ou fazer amizade descompromissadamente na padaria, pode ser uma boa dica.

Ser casado também contribui, na maioria das vezes, para se proteger dos pensamentos suicidas. Claro que relacionamentos que envolvem brigas e violência doméstica não estão entre os fatores protetivos, muito pelo contrário. Então fique atento à saúde do seu relacionamento e pese o quanto ele é positivo para você.

Ter filhos é algo que promove pensamentos positivos e esperançosos quanto ao futuro e ajuda a superar situações que podem, momentaneamente, impactar os indivíduos que estão entre os grupos de risco para o suicídio.

E, finalmente, estar bem consigo mesmo e ter objetivos na vida são atitudes que podem anular qualquer fator de risco. Um profissional de saúde mental pode ajudá-lo a superar dificuldades e ficar mais forte para enfrentar os problemas, sejam eles quais forem. Pensar na vida e encontrar estratégias para resolver o que não está bem é sempre a melhor saída.


Autor: Enio Rodrigo
Fonte: O que eu tenho?

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