Entre as características dos disléxicos, podemos citar a lentificação do processamento de informações, principalmente relacionadas à leitura, escrita e interpretação de textos.
Isso ocorre devido ao processo de leitura utilizado pelo disléxico, que ativa áreas do cérebro não especializadas para essa função, fazendo a tarefa ser um processo de decodificação não automatizado, o que leva à lentificação da resposta e ao cansaço excessivo relatado por alunos com dificuldades de aprendizagem em tarefas de leitura e escrita, principalmente as mais demoradas como, por exemplo, as provas de vestibular.
Sendo assim, como proceder em relação ao processo de seleção utilizado pelas faculdades e universidades?
Já existe um consenso entre as principais instituições de ensino do Brasil de que se deve dar ao disléxico condições diferenciadas por ocasião do vestibular.
E quais são estas condições?
A principal delas é um maior tempo para a realização da prova (cerca de uma hora e trinta minutos a mais).
Essa condição é fundamental se levarmos em conta a diferença apresentada pelos disléxicos em relação à velocidade de trabalho (na leitura e escrita).
Além dessa condição, é oferecido ao disléxico o direito de ter um ledor à sua disposição. Este ledor, de preferência uma pessoa que tenha bom conhecimento do distúrbio, realiza a leitura da prova para o aluno e este, com este recurso, processa a informação mais rapidamente e registra sua resposta. O ledor não interfere nessa escolha.
Esse assistente de prova pode ainda revisar as anotações na folha de resposta, pois o aluno poderia marcar a resposta certa no caderno e transcrever de forma errada para a folha de respostas (que é a que realmente conta para a apuração). O assistente faria então a conferência da transcrição.
O ledor pode ainda ser auxiliar na redação (um dos maiores obstáculos para o disléxico numa prova de vestibular). Umas das formas de auxiliar nesse momento é o aluno elaborar a redação e ditar para o ledor escrever. A nota ponderada também pode ter critério diferenciado.
Há universidades que disponibilizam ainda o uso de calculadoras. Vamos explicar...
Uma vez que os disléxicos encontram dificuldade em decorar, são mais lentos em realizar operações matemáticas, pois fazem o roteiro completo das tabuadas para cada conta que fazem (o que é claro leva muito mais tempo). Ainda existe a questão da interpretação do enunciado, que pode levar tempo (lembre-se que o texto precisa ser decodificado).
Essas condições diferenciadas não colocam os disléxicos em melhores condições que os demais alunos ao acesso à universidade, mas os colocam em condições de igualdade, considerando suas (dos disléxicos) necessidades diferenciadas para expressarem os conhecimentos adquiridos.
Pode-se observar que essas condições e possibilidades têm feito muita diferença em relação à autoestima das pessoas com dificuldades de aprendizagem, colocando-as em condições de galgarem posições que de outra forma talvez não pudessem alcançar.
O valor do profissional disléxico já tem despertado o interesse inclusive de grandes empresas que também estão oferecendo essas mesmas condições diferenciadas aos disléxicos que participarem de concurso público para ingresso nos quadros de funcionários.
A ABD - Associação Brasileira de Dislexia tem profissionais capacitados que têm exercido essa função de ledores ou assistentes nas provas de vestibular e concurso público ou orientado as instituições de ensino e empresas interessadas.
É importante citar que essas condições diferenciadas devem ser solicitadas pelos interessados por ocasião de inscrição para o vestibular ou concurso público, além de apresentarem laudo conclusivo constando o diagnóstico de dislexia realizado por equipe multidisciplinar especializada.
Maria Inez Ocanã De Luca
Psicóloga
Pós-graduada em Aprendizagem com foco em saúde
Mestre em Psicologia da Saúde
Especializanda em Neuropsicologia
inez.deluca@dislexia.org.br
inezpsi@hotmail.com