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Infectologista, esclarece a respeito das bactérias produtoras de KPC
 
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24/11/2010

Infectologista, esclarece a respeito das bactérias produtoras de KPC

A superbactéria KPC está sobre controle? Quem é o principal alvo? O que fazer para se proteger? O infectologista, Gabriel Narvaez, esclarece essas e outras dúvidas

Segundo Dr. Gabriel Narvaez – infectologista e gestor médico do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Sistema de Saúde Mãe de Deus – não há surto de bactérias produtoras de Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase (KPC) no Rio Grande do Sul. E para que haja controle da sua disseminação, é preciso que a população adote uma postura, principalmente em relação à lavagem das mãos. “Esse problema é sério para os pacientes que estão imunologicamente comprometidos e não para as pessoas da comunidade que permanecem apenas transitoriamente no hospital”, afirma.

Após o surgimento de vários casos de contaminação por bactérias produtoras de KPC ocorridas no Brasil desde o início do ano - considerando que no mês de outubro o Distrito Federal foi o que contabilizou o maior número de pessoas infectadas e de mortes causadas pela superbactéria – o Estado ficou em alerta. Por isso, a equipe do SIS.SAÚDE conversou com um dos maiores especialistas no assunto, o infectologista e gestor médico do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Sistema de Saúde Mãe de Deus, Dr. Gabriel Narvaez.

Descubra na matéria, abaixo, que foi realizada a partir da entrevista com Dr. Narvaez, o que é e como age a KPC. Conheça, ainda, a história da sua disseminação pelo mundo e saiba como se proteger. Assista também aos vídeos que trazem a entrevista realizada com o doutor Narvez, na qual ele explica com detalhes a ação das bactérias produtoras de KPC, assim como as medidas de prevenção e de controle.

O QUE É A KPC

A KPC é uma produção enzimática gerada por alguns tipos de bactérias, chamadas de enterobactérias (bactérias presentes no trato gastrointestinal), que invalidam a ação de antibióticos de largo espectro, os carbapenêmicos, utilizados para atingir um maior número de bactérias.

Narvaez afirma que as enterobactérias, que atualmente produzem as enzimas KPC, não são novas. A primeira descrita foi a klebsiella, que é uma bactéria comum do intestino. Definitivamente, a novidade está no mecanismo de resistência adicional que esse tipo de bactéria lançou mão, pois ser sensível aos carbapenêmicos era a norma e o habitual para as enterobactérias. Porém, essas bactérias passaram a ter resistência a essa modalidade de antibióticos.

O grande problema é a forma como essas bactérias passaram a resistir aos carbapenêmicos. Essa resistência não ocorreu através das estruturas dos cromossomos, fazendo com que a resistência demorasse mais tempo para ser transmitida entre os grupos de bactérias. Mas essas bactérias utilizaram elementos móveis situados no citoplasma, chamados de transposons. Essas estruturas transmitem a resistência aos carbapenêmicos com muito mais facilidade para outras bactérias, até mesmo de espécies diferentes, explica o médico.

O especialista comenta que a resistência bacteriana é um problema antigo, mas que está crescendo e é extremamente grave. Principalmente, porque em algumas situações, há pouca margem para negociação em termos de antibiótico-terapia disponível.

Narvaez acrescenta que a KPC surgiu provavelmente a cerca de 10 anos. Os primeiros registros ocorreram nos Estados Unidos, na Califórnia, e depois começaram a se disseminar em todo o mundo. Nos Estados Unidos, entre os anos 2000 e 2002, só 1% das bactérias multirresistentes eram constituídas por esse grupo de produção de KPC. Cinco anos depois, 8% já o são. O aumento foi de oito vezes em um espaço relativamente curto de tempo. Quer dizer que essa é uma bactéria antiga com um novo mecanismo de resistência que quebra um paradigma por ser uma enterobactéria e não um bacilo gran-negativo não fermentador, tendo em vista que a resistência aos antibióticos era mais comum nesses bacilos.

Para obter mais informações sobre as bactérias produtoras de KPC, assista ao vídeo, abaixo, que traz a entrevista exclusiva realizada com o doutor Gabriel Narvez. 

 

 

PREVENÇÃO E CONTROLE NO AMBIENTE HOSPITALAR

Referente às medidas de prevenção e controle das bactérias multirresistentes no ambiente hospitalar, Narvaez explica que existem condutas específicas que o hospital deve seguir caso nele haja bactérias muito resistentes a antibióticos. Ele esclarece, ainda, que essas condutas ocorrem de acordo com a frequência e com a peculiaridade principal da bactéria disseminada no ambiente hospitalar. Para as bactérias que são frequentes e que apresentam um taxa de infecção que se mantêm sempre alta e que não são epidêmicas, as medidas de bloqueio acabam sendo pouco efetivas e antieconômicas. Dessa forma, essas medidas devem ocorrer, principalmente, quando essas bactérias são recentes no ambiente hospitalar, ou seja, estão em baixa frequência.

As medidas também devem ser diferenciadas se houver apenas um tipo de bactéria ou se existir uma variedade delas, isto é, se elas são de clone único ou multiclonal. Assim, quando a bactéria é de um único tipo, as práticas associadas de controle da transmissão horizontal (de paciente para paciente) e de racionalização do uso de antibiótico são mais efetivas. Quando é multiclonal, as medidas de bloqueio dessas bactérias se tornam mais complicadas e difíceis.

Uma das questões abordadas pelo especialista é a racionalização do uso de antibióticos, considerada como uma medida muito importante. Se o uso dessa medicação for abusiva, as bactérias mais sensíveis a essas medicações acabam sendo eliminadas, deixando espaços microbiológicos para serem ocupados pelas bactérias mais resistentes. Tais bactérias até podem ser menos aptas a ocuparem esses espaços, mas o ambiente se torna mais propício para a sua proliferação. Portanto, a emergência de bactérias resistentes no ambiente hospitalar está diretamente relacionada ao uso indiscriminado e impróprio de antibióticos.

O infectologista esclarece, ainda, que é preciso bloquear a transmissão horizontal, ou seja, entre os pacientes. Logo, a principal medida é a lavagem adequada das mãos. Por isso, é fundamental que as pessoas se conscientizem da importância dessa atitude.

Porém, Essas bactérias também apresentam a peculiaridade de ocuparem o ambiente ao entorno do paciente, pois podem se instalar nas roupas e em objetos dos pacientes. Dessa forma, é preciso estabelecer ainda precauções de contato, tais como a higienização do ambiente, uso de equipamentos adequados, entre outras. Por isso, é preciso ter o máximo de cuidado para que essas bactérias não sejam levadas, principalmente, de um paciente que esteja em estado regular para outro que esteja na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), por exemplo, pois para o último a situação pode ser muito grave.

Logo, As infecções causadas pelas bactérias produtoras de KPC ocorrerem, principalmente, em pessoas com imunossupressão, ou seja, pacientes internados em UTIs, pessoas idosas, com problemas neurológicos, com necessidade de uso de ventilação mecânica, com sonda na bexiga, entre outras.

“Precisamos desmistificar um pouco essa situação. As pessoas têm de entrar nos hospitais conscientes disso e seguir as regras estipuladas pela instituição, pois seguindo as recomendações e higienizando as mãos, elas não ficarão doentes e nem levarão essas bactéria para a comunidade. É preciso que as pessoas tenham uma postura adequada para enfrentar esse problema que é sério para os pacientes que estão imunologicamente comprometidos e não para as pessoas da comunidade que permanecem apenas transitoriamente no hospital”, afirma Narvaez.

Assista ao vídeo, abaixo, e confira as principais medidas de prevenção e controle das bactérias multirresistentes. 

 

 


Autor: Entrevista: Elisa Barcellos; Roteiro: Marli Appel; Apoio técnico: Guilherme Wendt
Fonte: SIS.Saúde

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