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Evidengue – inovação no controle domiciliar da dengue
 
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25/02/2010

Evidengue – inovação no controle domiciliar da dengue

Método desenvolvido no Brasil mostra 100% de eficácia no controle a ovipostura de fêmeas adultas do mosquito transmissor, em recipientes caseiros como potes e vasos de flor

O mosquito Aedes aegypti, o principal vetor dos virus da dengue, se dispersa pela ovipostura em superfícies adjacentes a ambientes aquáticos naturais e artificiais, depois de repasto sanguíneo. Larvas e pupas do mosquito são tipicamente encontradas em recipientes domiciliares industrializados, como caixas d’água, tambores, baldes, tanques de lavar roupa e pratos coletores de água de vasos de planta, tanto no intradomicílio como em áreas próximas.

Estudos de Focks & Chadee (1997) verificaram que os vasos de planta e os pratos coletores de água a eles associados, ainda que pouco abundantes em algumas regiões, foram os tipos de criadouros mais produtivos para larvas e pupas do Aedes aegypti entre 11 tipos de recipientes pesquisados em Trinidad e Tobago. Resultado semelhante foi encontrado por Maciel-de-Freitas et al. (2007) entre 12 tipos de recipientes pesquisados numa área de favela da cidade do Rio de Janeiro. Mesmo não sendo abundantes nesta área, os vasos de planta tiveram alta produtividade de pupas na estação de seca.

Também em Belo Horizonte, o hábito cultural de manter vasos de plantas nas residências é frequente e pode contribuir para a manutenção da reprodução dos mosquitos. Frente a isso, foi desenvolvida pela pesquisadora Virgínia Schall uma capa de tela mosquiteiro (capa evidengue), registrada como Modelo de Utilidade (MU) no INPI em 2003 .

Desde então, a eficácia da evidengue contra a oviposição das fêmeas de Aedes aegypti em vasos de planta tem sido avaliada em laboratório e campo. Um artigo publicado pela equipe de Schall na Revista de Saúde Pública em 2009 , demonstrou em laboratório que a capa evidengue (figura 1) é 100% eficaz para vedar os pratos e, consequentemente, impedir a ovipostura de fêmeas adultas do mosquito nesse tipo de recipiente.

 

Capa evidengue (clique para ampliar)


Em uma outra publicação, na revista Cadernos de Saúde Pública, Jardim e Schall (2009) discutem a importância de difundir o conceito de vedar os recipientes com água em lugar de tampar, o que de fato pode prevenir a entrada dos mosquitos. Na mesma publicação, apresentamos o conceito de proficiência de uso, que é usar a capa de modo correto, para que ela de fato vede o recipiente. Afinal, assim como cintos de segurança, capacetes de motos, camisinhas, o uso adequado é essencial para seu efeito preventivo.

Em outros estudos, a equipe vem demonstrando a importância do uso da capa associado ao ensino em sala de aula. Os alunos que recebem a capa, ao levarem-na para casa, falam sobre o que aprenderam e incentivam os pais ou responsáveis a usarem a evidengue para proteger seus vasos de planta.

Aqui estamos trabalhando com a ideia veiculada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) denominada Know-do-gap, ou seja, a distância entre o fazer e o saber. A capa pode ser um elo que associe o saber do aluno sobre a dengue, aprendido na escola, e a ação de cuidado no ambiente domiciliar, vedando os recipientes com água sob vasos. Supõe-se ainda que a capa possa ser um estímulo para pensar na importância do cuidado com outros recipientes.
 

Com ações preventivas na escola, os alunos levam a capa evidengue até suas residências (clique para ampliar)

Está em andamento um estudo na região metropolitana de Belo Horizonte onde as caixas d´água e os vasos estão sendo vedados com as capas e os índices larvares (através do método conhecido como LIRAa) estão sendo acompanhados para verificar a efetividade dessa proteção na diminuição do número de recipientes infestados pelos mosquitos na região.

Espera-se que desse desenvolvimento resulte uma tecnologia de envoltórios de tela de poliéster com aplicação mais ampla em recipientes domiciliares de coleta e armazenamento de água, entre os quais as caixas d’água, os tambores, os baldes, as piscinas etc. Se usados proficientemente, envoltórios como a evidengue permitiriam a vedação total desses recipientes. Acrescente-se que os materiais de confecção da capa são telas de poliéster com menos de 1 mm de abertura, duráveis e resistentes à umidade e ao fogo. Podem ser feitos em diversas cores e representarem adornos nas residências, facilitando a sua adoção. Confeccionados em grande número podem ter preços muito acessíveis para a grande população.

Referências:


FOCKS, D.A.; CHADEE, D. D. Pupal survey: an epidemiologically significant surveillance method for Aedes aegypti: an example using data from Trinidad. Am J Trop Med Hyg, v. 56, n. 2, p. 159-67, 1997.

MACIEL-DE-FREITAS, R.; MARQUES, W.A.; PERES, R.C.; CUNHA, S.P.; LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, R. Variation in Aedes aegypti (Diptera: Culicidae) container productivity in a slum and a suburban district of Rio de Janeiro during dry and wet seasons. Mem Inst Oswaldo Cruz, v. 102, n.4, p. 489-496, 2007.

SCHALL, V.T. Inventor: Fapemig/Fiocruz/MG. Patente MU8303239-8. 28/11/2003.

SCHALL, V. T.; BARROS, H. S.; JARDIM, J. B.; SECUNDINO, N. F. C.; PIMENTA, P. F. P. Dengue prevention at the household level: preliminary evaluation of a mesh cover for flowerpot saucers. Revista de Saúde Pública, v. 43, p. 895-897, 2009.

Sobre a autora:

Virgínia Schall possui graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (1978), Mestrado em Fisiologia (área de concentração: Neurofisiologia) pela Universidade Federal de Minas Gerais (1980) e Doutorado em Educação pela Pontífica Universidade Católica do Rio de Janeiro (1996). É pesquisadora titular da Fundação Oswaldo Cruz, tendo criado o Laboratório de Educação em Ambiente e Saúde (LEAS), no Instituto Oswaldo Cruz, RJ.

Em 2001, criou o Laboratório de Educação em Saúde do Centro de Pesquisa René Rachou (CPqRR/FIOCRUZ,MG). Concebeu o primeiro projeto do Museu da Vida (FIOCRUZ, Rio de Janeiro), e participou da equipe de implantação do mesmo, sendo responsável pela criação do Ciência em Cena, teatro que apresenta peças sobre temas científicos. Recebeu diversos prêmios científicos, destacando-se o de Divulgação Científica José Reis do CNPq e o de Divulgação Científica Francisco de Assis Magalhães Gomes do Estado de Minas Gerais.

Acesse outras publicações da autora aqui.
 


Autor: Dra. Virginia Torres Schall
Fonte: Fundação Oswaldo Cruz

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