.
 
 
Crianças e adolescentes também podem apresentar transtornos mentais
 
Artigos
 
     
   

Tamanho da fonte:


03/05/2011

Crianças e adolescentes também podem apresentar transtornos mentais

Conheça os sintomas mais comuns e saiba identificá-los

Introdução

Ainda é de desconhecimento geral que crianças e adolescentes podem apresentar transtornos mentais, bem como há  uma dificuldade de diagnóstico e pessoas treinadas para realizarem esse diagnóstico. Por causa disso, no ano de 2004, foi lançado um manual para orientação de programas de conscientização para a identificação de transtornos mentais em crianças, intitulado de “Expanding awareness of in adolescence – Awareness program manual” (Expansão da Consciência em Saúde Mental na Infância e Adolescência – Manual para um Programa de Conscientização).

Esse manual contou com a coordenação de Christina W. Hoven, psiquiatra da Columbia University-New York State Psychiatric Institute, e apoio de The Presidential World Psychiatric Association (WPA) em coolaboração com The World Health Organization (WHO) e The International Association for Child and Adolescent Psychiatry and Allied Professions (IACAPAP). Embora de grande valia e importância na orientação de programas de conscientização para a saúde mental, esse Manual ainda não conta com uma versão traduzida para o português disponibilizada à população em geral.

As orientações que esse Manual oferece focam em como desenvolver uma campanha de conscientização em níveis: nacional, comunitária e individual; e quais as informações são necessária para apoiar uma campanha e as técnicas para a implementação da campanha.

Esse Manual foi utilizado em um estudo que testou um programa para a conscientização da possibilidade de suicídio em crianças e adolescentes, que englobou diversos países emergentes, incluindo o Brasil, obtendo resultados positivos. Segundo os pesquisadores, o estudo demonstrou o potencial de uma pesquisa em saúde mental com uma administração rigorosa nos métodos de pesquisa em regiões emergentes, oferecendo uma maior probabilidade de intervenções destinadas a satisfazer as necessidades específicas de populações com menor poder aquisitivo (HOVEN et al., 2009).

Transtornos mentais e sintomas

Segundo o Manual citado, os sintomas mais comuns e semelhantes na maioria dos transtornos mentais em crianças e adolescentes incluem:

  • Irritabilidade;
  • Comportamento despreocupado;
  • Explosões frequentes;
  • Retirada social;
  • Reclamações físicas frequentes.

Como é difícil de ser identificado os transtornos mentais em crianças e adolescentes, é necessário avaliar os prejuízos funcionais apresentados, que são indícios contundentes. Os prejuízos funcionais podem ser definidos como uma dificuldade de se realizar atividades do dia-a-dia, como relações interpessoais, escola, lazer, etc. (HOVEN et al., 2004).

Contudo, os transtornos mentais específicos podem apresentar sintomas também específicos, demonstrados a seguir, com base no Manual citado.

Depressão

 

Depressão em crianças e adolescentes é um transtorno sério e está aumentando em prevalência nos últimos anos. Calcula-se que 2,5% das crianças e 8,3% dos adolescentes podem apresentar depressão a qualquer hora, e até 7% desses adolescentes deprimidos podem cometer suicídio. Os sintomas comuns da depressão em crianças e adolescentes incluem:

  • Tristeza frequente, persistente ou choro;
  • Diminuição do interesse em atividades agradáveis;
  • Isolamento social ou comunicação pobre;
  • Quantidade incomum de tempo só;
  • Aumento da irritabilidade, raiva ou hostilidade;
  • Reclamações físicas frequentes;
  • Comportamento autodestrutivo ou conversa sobre suicídio;
  • Baixa autoestima e culpa.

Transtorno bipolar (também chamado de maníaco-depressivo)

Esse transtorno é diagnosticado em geral na adolescência. Um número crescente de adolescentes tem sido diagnosticado como bipolar. Uma pessoa que é bipolar tem períodos alternados de mania e de depressão (a depressão, os sintomas estão descritos acima).

Os sintomas da fase de mania incluem:

  • Autoestima inflada;
  • Diminuição da necessidade de sono;
  • Comportamento de alto risco;
  • Fala ou pensamentos rápidos.

É importante diagnosticar o transtorno bipolar prematuramente, pois, há um risco significativo de suicídio para essas pessoas. Também, se os adolescentes bipolares são diagnosticados erroneamente como tendo depressão, a eles podem ser administrados medicamentos incorretos que pioram os sintomas ao invés de ajudar.

Transtornos de ansiedade

Os transtornos de ansiedade também são altamente prevalentes na infância. Enquanto alguma ansiedade é habitual, a ansiedade que interfere  no comportamento normal e funcional, na escola, lazer, etc., pode ser um sinal de um problema mais sério.

Aproximadamente 13% das crianças e adolescentes podem sofrer de um transtorno de ansiedade durante um período de seis meses. Os sintomas mais comuns incluem:

  • Muitas preocupações sobre coisas antes de estas acontecerem;
  • Preocupações ou interesses constantes sobre o desempenho escolar, amigos, jogos esportivos, etc.;
  • Pensamentos ou ações repetitivos;
  • Medos extremos de cometer erros;
  • Baixa autoestima.

Também há vários tipos específicos de transtornos de ansiedade que deveriam ser notados. Estes apresentam sintomas distintos e podem requerer tratamentos diferentes. Os vários tipos são:

  • Fobias: medos irreais e excessivos sobre uma certa situação ou objeto.
  • Transtorno de ansiedade social: ansiedade opressiva e autoconsciência excessiva em relação aos outros.
  • Transtorno de ansiedade generalizada: preocupação extrema e irreal sobre atividades da vida em geral.
  • Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC): pensamentos repetitivos e/ou intrusivos, comportamentos compulsivos (repetitivos) que interferem no funcionamento ou causam angústia.

Transtorno de estresse pós-traumático (TSPT)

Eventos extremamente rompantes - como violência, guerra, desastres naturais ou abuso - podem causar traumas psicológicos em crianças e adolescentes. Uma reação por algum tempo para o trauma não é incomum, incluindo extrema ansiedade, pesadelos, choro, irritabilidade, retirada social, culpa ou outros sintomas. Porém, quando esses sintomas (reações) não diminuem ao longo do tempo, podem ser indicativos do desenvolvimento de TSPT. Os sintomas incluem:

  • Re-experimentação do evento traumático em situações percebidas como similares;
  • Falta rotineira de lembranças do evento ou uma falta geral de responsabilidade (por exemplo, interesses diminuídos ou um senso de ter uma falta de futuro);
  • Aumento nas perturbações do sono, irritabilidade, concentração pobre, reações de susto e comportamentos regressivos.

Transtornos de conduta

Enquanto todas as crianças, às vezes, exibirão comportamentos de oposição, crianças e adolescentes com transtorno de conduta apresentam problemas mais sérios no funcionamento social e familiar. Por exemplo, calcula-se que 5,5% das crianças e adolescentes possuam um problema de comportamento agressivo.

Essa desordem também coloca uma criança ou adolescente em risco mais alto para o comportamento suicida. Alguns sintomas desse transtorno incluem:

  • Agressão dirigida a pessoas ou animais;
  • Destruição de propriedade;
  • Furto ou roubo;
  • Violação séria de regras.

É especialmente importante observar, porém, que crianças ou adolescentes que exibem tais sintomas podem ter outros problemas de saúde mental. O que exige um diagnóstico diferencial.

Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)

Enquanto todas as crianças ou adolescentes são eventualmente hiperativos ou impulsivos, os com TDAH apresentam problemas de comportamento mais severos que podem interferir no funcionamento da escola, lazer, família, etc.

O TDAH é observado em 3 a 5% das crianças, e pode ser caracterizado por:

  • Distração e dificuldade de prestar atenção;
  • Falar muito e dificuldade de jogar ou brincar quietamente;
  • Dificuldade de seguir orientações múltiplas;
  • Dificuldade de permanecer sentado.

Abuso de álcool e drogas

O abuso de álcool e drogas pode ser um problema significativo, particularmente para adolescentes. Depressão e outros transtornos podem conduzir a tal abuso, como as tentativas individuais para se “automedicar”. Enquanto muitos adolescentes experimentarão álcool e drogas, o abuso pode conduzir a consequências sérias para a saúde. Algum dos sintomas são:

  • Fadiga e/ou reclamações repetidas sobre a saúde;
  • Olhos vermelhos e vítreos, e/ou uma tosse duradoura;
  • Mudanças súbitas de personalidade ou humor;
  • Comportamento irresponsável e julgamento pobre;
  • Perda do interesse comum nas atividades;
  • Argumentações sem sentido, quebra de regras e/ou retirada da família.

Transtornos alimentares

Os transtornos alimentares iniciam-se frequentemente na adolescência, e é mais comum em meninas. Pode ser caracterizado por uma relação distorcida com a alimentação e uma obsessão com o peso e a forma do corpo. Alguns sintomas são:

  • Intenso medo de ganhar peso;
  • Recusa de manter o peso corpóreo esperado para a idade ou altura;
  • Episódios periódicos de alimentação excessiva;
  • Comportamento compensatório para prevenir ganho de peso (como vomitar, usar laxantes e pílulas para o emagrecimento).

Esquizofrenia

A esquizofrenia surge principalmente na adolescência e pode ser difícil de diagnosticar. Há vários tipos de esquizofrenia, mas em todos os tipos se observa angústia; às vezes, falta de limites apropriados do “eu”; e, geralmente, dificuldade de avaliar com precisão os pensamentos pessoais. Os sinais na adolescência incluem:

  • Comportamento estranhos ou fala;
  • Confusão do sobre a realidade;
  • Pensamentos paranóicos (de perseguição);
  • Ansiedade severa e medos;
  • Problemas sociais.

Autismo

O autismo é um transtorno do desenvolvimento, frequentemente diagnosticado em torno dos três anos de idade. Enquanto os critérios para o diagnóstico do autismo e subtipos estão sendo continuamente refinados, o aspecto central do transtorno é um prejuízo no funcionamento social de modo geral, que inclui:

  • Respostas impróprias a situações sociais;
  • Prejuízos na comunicação;
  • Falta de reciprocidade emocional;
  • Falta de expressões faciais ou contato visual;
  • Fracasso para desenvolver relações normais com o outro;
  • Restrição de comportamentos e gestos, frequentemente repetitivos.

Retardo mental

Aproximadamente 1% da população é diagnosticada com retardo mental, que significa um déficit no comportamento adaptável e uma inteligência abaixo da população em geral. O retardo mental varia de moderado para severo. Com o mudar das atitudes sociais e novas compreensões, muitas das pessoas com graus moderados podem apresentar uma vida produtiva e relativamente normal. As pessoas com graus mais severos também podem chegar a aprender um papel significativo em suas famílias.

Outros transtornos

Há outros transtornos em crianças e adolescentes não descritos acima, incluindo vários problemas de desenvolvimento e inaptidões. Alguns transtornos mentais podem ser relacionados a condições médicas, e podem ser sérios o bastante para necessitar de intervenção médica prolongada. É importante observar que tais transtornos podem resultar em estigma social severo, tornando as crianças e adolescentes susceptíveis para o abuso, a negligência ou o abandono.

Opções de tratamento

Todos os transtornos mentais, na atualidade, possuem uma diversidade de opções de tratamento que incluem medicações e psicoterapias. Os transtornos mentais são tratáveis, e quanto mais cedo é realizado o diagnóstico, mais promissores serão os resultados do tratamento. Se uma criança ou adolescente apresentar os sintomas de um dos transtornos descritos neste artigo, deve-se buscar o auxílio de um médico em primeiro lugar, em geral, do pediatra responsável pelo atendimento dessa criança ou adolescente.

Confira outras matérias relacionadas

Estudo polêmico sobre depressão e genética
Artigo publicado contraria afirmação de gene responsável pelo transtorno

Transtorno do Humor Bipolar
Terapia cognitivo-comportamental mostra-se mais eficiente

Reinvente-se a cada idade
Dos 15 aos 60, passamos por várias crises. Especialistas indicam como usá-las para se tornar uma pessoa melhor

Estudo clarifica o risco para a depressão
Estado mental dos pais altera os resultados do tratamento para adolescentes

A família e o autismo
Confira o vídeo que destaca o papel da mãe na saúde do filho autista

 

Referências

HOVEN, C. W. et al. Expanding awareness of in adolescence – Awareness program manual. The Presidential World Psychiatric Association (WPA), The World Health Organization (WHO), The International Association for Child and Adolescent Psychiatry and Allied Professions (IACAPAP), 2004. Disponível em: http://www.icaf.org/resources/papers/awareness_program_manual.pdf

HOVEN, C. W. et al. Awareness in nine countries: A public health approach to suicide prevention. Legal Medicine, no prelo.

 


Autor: Marli Appel - Equipe Sis.Saúde
Fonte: Vide Referências

Imprimir Enviar link

Solicite aqui um artigo ou algum assunto de seu interesse!

Confira Também as Últimas Notícias abaixo!

 
 
 
 
 
 
 
Facebook
 
     
 
 
 
 
 
Newsletter
 
     
 
Cadastre seu email.
 
 
 
 
Interatividade
 
     
 

                         

 
 
.

SIS.SAÚDE - Sistema de Informação em Saúde - Brasil
O SIS.Saúde tem o propósito de prestar informações em saúde, não é um hospital ou clínica.
Não atendemos pacientes e não fornecemos tratamentos.
Administração do site e-mail: mappel@sissaude.com.br. (51) 2160-6581