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Dependência Química e Saúde Pública
 
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08/11/2008

Dependência Química e Saúde Pública

Substância de maior consumo e incidência de dependência é o álcool

O uso e abuso de substâncias psicoativas são consideradosm problema de saúde pública, com implicações diretas na qualidade de vida do indivíduo e da sociedade como um todo. Além de problemas associados, como criminalidade e demais riscos, a comunidade científica alerta para a ocorrência de déficits no diagnóstico, perpetuando o problema e não fornecendo o devido tratamento.

A substância de maior consumo e, como conseqüência, a que apresenta a maior incidência de dependência, é lícita e de fácil acesso à maioria dos brasileiros. O álcool é consumido por 70% dos adultos, sendo que 10% apresentam problemas relacionados ao uso (FERREIRA e LARANJEIRA, 1998). Acidentes e mortes violentas estão associados ao uso/abuso de álcool, sendo responsável pela morte de 0,8% dos homens, e 0,1% das mulheres (MARIN-LEON, OLIVEIRA e BOTEGA, 2007).
 
Impactos diretos sobre a saúde são verificados em usuários de substâncias injetáveis, como a cocaína (MILLER, 2003), bem como cerca de 90% dos casos de câncer de pulmão estão associados ao tabaco (PARKIN et al., 1994). Desta forma, a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas realizou dois grandes estudos, em 2001 e em 2005, intitulado Levantamento Domiciliar sobre Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil, em parceria com o Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas (CEBRID). Com essa iniciativa, os levantamentos estimam o uso, a prevalência, a dependência da população brasileira em relação ao álcool e demais drogas, bem como verificam o índice de busca por tratamento em decorrência do uso. O intuito, além de caráter epidemiológico, é fornecer informações e estimar impactos do consumo de outras substâncias, não somente o álcool.
 
Do mesmo modo, comparando os dados do I Levantamento Domiciliar, realizado em 2001, pode-se avaliar o impacto de medidas políticas tomadas durante o período, bem como verificar nuances entre regiões.O último estudo envolveu 108 cidades brasileiras, com população acima de 200 mil habitantes, na faixa dos 12 aos 65 anos. Foi realizado um total de 7939 entrevistas, sendo 878 somente na região Sul, e os dados estão expressos na seqüência.
 
Gráfico 1: Uso na vida de substâncias psicoativas, exceto álcool e tabaco (2001 e 2005)
 
 
De acordo com os dados expressos no gráfico 1, pode-se perceber que a região Sul apresentou índices inferiores, nos dois períodos estudados, em relação aos números a nível nacional. Do mesmo modo, verifica-se um aumento na casa de 3,4% no consumo de substâncias no Brasil, exceto álcool e tabaco. Na região Sul, observou-se um decréscimo de 2,3% de 2001 a 2005.
 
Gráfico 2: Uso na vida de substâncias psicoativas – Brasil e Região Sul (2001)
 
 
 
 
Em relação ao tipo de droga, no ano de 2001, verificaram-se escores superiores na região Sul, em relação ao Brasil, no uso na vida de: tabaco (3%), maconha (1,5%), cocaína (1,3%), benzodiazepínicos (0,9%), álcool (0,7%), codeína (xaropes) (0,4%) e estimulantes (0,5%). Comparando com todas as regiões, a região Sul é a que apresenta os maiores índices de uso na vida de maconha e cocaína no período.
 
Do mesmo modo, na região sul foi mensurado ainda o uso na vida de opiáceos (1,2%), crack (0,5%), merla (0,1%) e heroína (0,1%).
 
Gráfico 3: Uso na vida de substâncias psicoativas – Brasil e Região Sul (2005)
 
 
 
 
Com vista aos resultados apresentados no II Levantamento, no ano de 2005, pode-se perceber que, em nível nacional, o uso na vida das seguintes drogas apresentou crescimento em relação ao ano de 2001: álcool (5,9%), tabaco (2,9%); benzodiazepínicos (2,3%), maconha (1,9%), estimulantes (1,7%), cocaína (0,6%) e solventes (0,3%) e decréscimo averiguado no consumo de orexígenos (0,2%) e codeína (0,1%).
 
Na região Sul, por sua vez, aumento de uso na vida de: tabaco (5,2%), álcool (4,5%), maconha (1,3%), solventes (1,2%), estimulantes (0,6%) e orexígenos (0,1%). O uso na vida de opiáceos, na região Sul, dobrou entre o primeiro levantamento e o segundo, atingindo a casa de 2,7% em 2005. O mesmo ocorreu no uso da vida de crack, que em 2001 era de 0,5% e, em 2005, atingiu 1,1%; diminuição do consumo de benzodiazepínicos (0,9%) e cocaína (0,5%) no período.
 
Comparando com o Brasil, é possível perceber que nos estados do Sul houve um crescimento superior no uso na vida de tabaco (2,3%) e solventes (0,9%). Embora o crescimento no consumo de algumas substâncias tenha sido inferior ao observado no Brasil, a região Sul ainda apresenta um uso na vida superior nas seguintes substâncias: tabaco (5,3%), maconha (0,9%), codeína (0,5%) e cocaína (0,2%).
 
Em relação à dependência de substâncias, os dados estão expressos no gráfico 4:
 
Gráfico 4: Dependência de substâncias psicoativas – Brasil e Região Sul (2001)
 
 
De acordo com os dados do I Levantamento, percebe-se que a Região Sul apresenta índices superiores ao resultado encontrado no Brasil em relação à dependência de tabaco (3,8% acima) e maconha (0,6% acima). Em relação à dependência de álcool, verificam-se escores inferiores aos nacionais (1,7%). Não foram publicados resultados de dependência de outras substâncias na região Sul no estudo de 2001. Contudo, no II Levantamento, tais análises foram realizadas e os dados serão discutidos a seguir. 
 
Gráfico 5: Dependência de substâncias psicoativas – Brasil e Região Sul (2005)
 
 
 
 
De acordo com o gráfico acima, é possível perceber um aumento do percentil de dependentes das principais drogas no Brasil, na casa de 1,1% para dependência de álcool, 1,1% de tabaco e 0,2% de dependência de maconha. Os outros índices apresentaram declínio em termos de Brasil.
 
Na região Sul, observou-se movimento oposto. Houve uma queda na dependência das principais drogas, na casa de 2,1% de dependentes de tabaco, 0,5% de dependentes de maconha e álcool. Diferentemente do estudo de 2001, os dados de 2005 informam sobre o número de dependentes de estimulantes, benzodiazepínicos e solventes.
 
Finalmente, cabe ao propósito desta análise, averiguar o número de pessoas que buscou atendimento para o uso de drogas.
 
Gráfico 6:  Porcentagem dos entrevistados que já buscaram tratamento para o uso de álcool e outras drogas no Brasil (2001 e 2005)
 
 
Em uma análise nacional, podemos perceber uma queda expressiva na busca de tratamento decorrente do uso de álcool e outras drogas, embora o consumo da maioria das substâncias tenha aumentado. Os homens são os que mais buscaram tratamento, em ambos os períodos analisados.
 
Gráfico 7: Porcentagem dos entrevistados que já buscaram tratamento para o uso de álcool e outras drogas na região Sul (2001 e 2005)
 
 
Avaliando apenas a região Sul, percebe-se uma estabilidade na busca por atendimento, sendo possível observar um leve decréscimo na busca de atendimento por parte dos homens (0,25%) e um ligeiro aumento de busca por tratamento pelo sexo feminino (0,5%), de 2001 a 2005.
 
 
Considerações Finais
 
 
Este estudo teve o intuito de analisar o impacto do uso/abuso de substâncias na saúde da população. Os números são expressivos, sobretudo em relação ao álcool, mas também é possível perceber um aumento geral no uso das principais drogas.
 
As implicações deste problema, com dimensões incalculáveis, devem ser permanentemente discutidas. A problemática do diagnóstico é um desafio para a área de saúde, bem como às esferas políticas cabe o planejamento de medidas protetivas ou mesmo intervencionistas. No âmbito da pesquisa, estudos que agreguem e ampliem o conhecimento já adquirido são de suma importância.
 
Em todo caso, este artigo não pressupõe que se esgote o assunto. Pelo contrário, visa apresentar um panorama do Brasil, com ênfase na região Sul, porém com a intenção de fomentar e incitar o diálogo entre diferentes partes, com vista à conquista de um método eficiente de intervenção em dependência química.
 
Referências
 

CARLINI, E.A., GALDURÓZ, J.C.F., NOTO, A. R., e NAPPO, S.A.I Levanamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas no Brasil - 2001. Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas - Departamento de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina e SENAD – Secretaria Nacional Antidrogas, Presidência da República, Gabinete de Segurança Nacional, 2002.

CARLINI, E.A. II Levantamento Domiciliar sobre o uso de drogas psicotrópicas no Brasil: estudo envolvendo as 108 maiores cidades do Pais - 2005; Brasília: Secretaria Nacional Antidrogas, 2007.

FERREIRA, M. P. & LARANJEIRA, R. Dependência de substâncias psicoativas. Em L. Ito & cols. (Orgs.), Terapia cognitivo-comportamental para transtornos psiquiátricos (pp. 105-121). Porto Alegre, RS: Artes Médicas, 1998.

MARIN-LEON L., OLIVEIRA, H.B. & BOTEGA, N.J. Alcoholism dependence mortality in Brazil: 1998-2002. Psicol Estud., v. 12, n.1, p. 121-4, 2007.
 
MILLER, M. The dynamics of substance use and sex networks in HIV transmission. J Urban Health, v. 80, n.4 (Supl. 3), p. 88-96, 2003.
 
PARKIN, D.M, PISANI, P., LOPEZ, A.D. & MASUYER,E. At least one in seven cases of cancer is caused by smoking: global estimates for 1985. Int J Cancer, v. 59, p. 494-504, 1994.

Revisão e edição: Renata Appel


Autor: Guilherme Wendt - Equipe Sis.Saúde
Fonte: Vide referências

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