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Esmeralda Kiefer – Engenheira civil e gerontóloga social
 
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03/12/2008

Esmeralda Kiefer – Engenheira civil e gerontóloga social

Filhos de pais idosos

De uma maneira geral, somos treinados para a juventude. Brincar, crescer, estudar, trabalhar, casar, ter filhos. Não necessariamente nesta ordem, atualmente.
 
E depois? Seguimos no piloto automático, trabalhando, trabalhando, trabalhando para criar e encaminhar nossos filhos. E quando eles estão prontos, a ponto de escolher como voar e para onde ir, nos deparamos com as incógnitas da segunda parte da jornada.
 
A partir da meia-idade, começamos a viver o ninho vazio e o tempo mais livre que vem de carona, sentindo as mudanças de corpo e mente, preparando a aposentadoria, construindo projetos alternativos.
 
Junto com as descobertas desta etapa, acompanhamos a velocidade exponencial do envelhecimento da população brasileira e somos confrontados com a velhice instalada no andar de baixo da nossa árvore genealógica.
 
Porém, acredito que não devemos nos guiar pela forte tendência  de dirigir holofotes para o envelhecer saudável e deixar nas sombras os possíveis problemas decorrentes da idade avançada e os cuidados necessários. É importante abrir espaço nas famílias para conversar sobre este assunto com um olhar compartilhado, mais amplo. E de preferência, antes que o lado menos colorido da longevidade paterna e materna assuma o papel principal.
 
As necessidades e solicitações dos pais idosos podem nos chegar de repente, por conta de uma crise como ataque cardíaco, acidente grave, viuvez. Ou através de pequenos sinais, devagar como água esquentando numa panela.
 
A partir daí, no meio da turbulência, parece que a roda da vida está em marcha à ré. Ao encarar o espelho retrovisor, num misto de estranhamento e medo, constatamos que os pais precisam de nós. Nos sentimos convocados a assumir uma tarefa para a qual não fomos preparados e justamente na época em que pensamos usufruir as liberdades e conquistas da nossa maturidade.
 
Apesar da obrigação imposta pela lei e pela tradição da cultura ocidental, nem todos os filhos têm o perfil de cuidador. Assim como nem todas as mães foram feitas para a maternidade. Muitos que se mostram fora do padrão acabam se sentindo culpados por serem diferentes.
 
Grande é a pressão sobre os filhos que deixam de atender as expectativas, gerando um desconforto dentro das famílias. Brigas, ressentimentos, queixas tendem a ocupar tempo e diminuir o convívio. Conseqüentemente, os pais acabam se sentindo um estorvo, pesada herança para aquele filho que permanece presente, e cuida, como se fosse único. Isto acontece, inúmeras vezes, mesmo havendo vários irmãos e irmãs.
 
Mas, antes de crucificar os ausentes, devemos compreender que é extensa a lista dos motivos e razões que influenciam este comportamento.
 
Claro que existem filhos aproveitadores, relapsos, descansados, omissos. No entanto, precisamos lembrar daqueles que não cuidam porque não conseguem vencer suas próprias limitações físicas ou emocionais. Nesta categoria podemos incluir os filhos de maior idade, os que trabalham em tempo integral, os que moram longe, os que guardam mágoas do passado distante, os que negam a finitude, os inseguros, os impacientes.
 
Por outro lado, para evoluir na discussão sobre o cuidar dos pais, é importante mencionar a parcela de contribuição dos próprios idosos no afastamento dos seus filhos.
 
Pouco se fala sobre isto. É muito mais freqüente adotar como referência a imagem do idoso queridinho, engraçadinho ou coitadinho indefeso, abandonado, maltratado pela família.
 
Mas, esta simplificação esconde a dura realidade presente em muitos lares. Idade não é salvo conduto para a pureza e a santidade. Os idosos, como as pessoas em qualquer faixa etária, também sabem ser manipuladores, chantagistas, malvados, teimosos, cáusticos. O passar dos anos apenas aperfeiçoa as características, as manias, os jeitos de cada um.
 
Como numa receita complexa, a mistura entre o doce e o salgado de uma existência pode resultar numa iguaria ou desandar até o intragável.
 
Enquanto filhos, temos a chance de aprender com o envelhecimento dos nossos pais como queremos ser quando nos tornarmos os mais velhos da família.
 
Esmeralda Kiefer é engenheira civil e gerontóloga social, diretora do Menino Deus Senior Residence condomínio para idosos.

Autor: Esmeralda Kiefer
Fonte: Eliana Freitas Mainieri

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