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Livro de psicanalista gaúcho ajuda a lidar com medos
 
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19/05/2011

Livro de psicanalista gaúcho ajuda a lidar com medos

O autor busca ajudar os adultos, inicialmente os pais e os demais cuidadores, a cumprirem o papel de intermediadores entre a realidade psíquica e a vida da criança

O psicólogo e psicanalista Julio Cesar Walz lançou a quarta edição revisada do seu livro Aprendendo a Lidar com os Medos - A Arte de Cuidar das Crianças. A obra é dedicada a todos que desejam entender melhor o universo infantil, o seu imaginário, o desenvolvimento psíquico, as relações entre pais e filhos, professores e alunos, etc. O autor busca ajudar os adultos, inicialmente os pais e os demais cuidadores, a cumprirem o papel de intermediadores entre a realidade psíquica e a vida da criança. Essa intermediação, segundo ele, são pontes criadas durante o cuidar, e auxiliará a criança a lidar com os medos, de forma a não deixá-la paralisada ou comprometer seriamente seu desenvolvimento cognitivo, por exemplo. “Quem efetivamente deseja melhorar sua relação com as crianças deve entender e exercitar melhor seu papel de cuidador”, afirma Walz. Nas 170 páginas, ele trata sobre o que de fato é necessário para os adultos contribuírem para a saúde dos pequenos ou não atrapalhá-los em seu desenvolvimento rumo aos insubstituíveis sentimentos pessoais de responsabilidade e criatividade. “O cuidar das crianças é e sempre será uma questão de saúde publica. Quem efetivamente deseja melhorar sua relação com as crianças deve entender e exercitar seu papel como cuidador”, resume.

A seguir, confira uma entrevista com Julio Cesar Walz.

Por que o medo foi escolhido como assunto do livro?

Na verdade, ele me foi solicitado pela editora Sinodal, de São Leopoldo. Aceitei o desafio porque o medo é um tema importante na vida. E diria mais. Boa parte de nossas ações e pensamentos nascem com o medo ou o provocam. E, apesar dessa centralidade, não é fácil falar/escrever sobre ele. Ao me propor a tarefa de um livro, queria apresentar um texto acessível, com um toque literário e uma boa fluência, além de instigar a curiosidade do leitor. Um dos objetivos deste trabalho está em ajudar os adultos, inicialmente os pais e os demais cuidadores, a cumprirem o papel de intermediadores entre a realidade psíquica e a vida da criança, para que ela, durante o seu crescimento, não venha a sofrer de excessos no seu desenvolvimento psíquico. Essa intermediação é o que chamei de construção de pontes através do cuidar. Não que o medo deixe de existir. Não. Ele apenas deixará, o que já não é pouco, de inundar a mente da pessoa. Afinal, o medo em excesso estagna a vida.

Qual a função do medo para os seres humanos?

O medo é uma emoção muito primitiva e faz parte da condição da vida biológica, tanto nos animais como nos seres humanos. Ele organiza direta ou indiretamente grande parte de nossas ações. Dentre as emoções, o medo é aquela que consegue produzir ações físicas imediatas como resposta de proteção, de ataque ou fuga: aumento da pressão arterial, dos batimentos cardíacos, etc. Por isso, é inevitável que qualquer ser humano sinta medo. Ele é fator de proteção. Mas como o ser humano também é um ser da cultura ou da linguagem, o medo acaba tendo um desenvolvimento que, muitas vezes, não condiz com a sua origem ou objetivo. Ou seja, o medo, que tem um caráter protetor, de avisar do perigo, de nos colocar em posição de alerta, acaba tendo manifestações desproporcionais, que não condizem com a realidade. Então, o medo vira uma experiência de fantasmas. Um medo sem nome. Sobre esse fundamento construí este livro.

Como diferenciar o medo normal do patológico?

Precisam ser avaliadas três variáveis deste medo, que são intensidade, duração e efeitos orgânicos. Quanto à intensidade, o medo será patológico se aparecer de forma desproporcional em relação à realidade psíquica ou à vida e estiver restringindo a liberdade de viver e crescer; quanto à duração, deve ser verificado se ela é desproporcional, ou seja, quando a pessoa, ao cessar a fonte do medo, ainda o sente da mesma forma; e os efeitos orgânicos são aqueles sintomas que afetam o humor, o corpo, a cognição ou a atividade motora. Assim, o medo patológico é aquele que gera uma restrição importante na vida e que tenha uma duração muito acentuada, por longo tempo.

Como os pais podem se preparar para auxiliar os filhos a lidarem com seus medos?

Na verdade eu usei o termo cuidar ao invés de preparar, mas cujo resultado, claro, seria de preparar. Os adultos cuidadores têm uma tarefa preciosa e fundamental: ajudar na construção de pontes mentais entre a saúde psíquica, a realidade do crescimento e a vida de uma criança. Por quê? Uma criança não tem condições, sozinha, de dar conta da vida e do viver. Ela necessita de um adulto que a proteja dos excessos comuns ao cotidiano. E uma das dimensões a ser cuidada em uma criança é o medo, que eu destaco dois, os quais são decisivos e inerentes ao desenvolvimento humano e nos acompanham ao longo de toda a vida. O primeiro medo é a ansiedade de separação. A separação gera um vazio, um hiato que precisa ser preenchido com palavras e ações. Nela se podem construir novos mundos, novos horizontes, novas experiências. Quando uma criança sai do colo e começa a engatinhar, sua percepção do espaço aumenta. Na separação também deixamos total ou parcialmente mundos para trás. Ela revela ao infante a dinâmica das perdas e dos ganhos. Quando o medo da separação é muito intenso a vida tende a ficar paralisada ou, usando uma figura bíblica, a pessoa transforma seu viver em uma estátua de sal. O segundo medo é a ansiedade de castração. Lá pelos três ou quatro anos, repentinamente, a criança pergunta algo do tipo: “pai, tu vai morrer? Ou, “pai, quando eu tiver 15 anos tu vai ter 50?”. Aqui a criança começa a mostrar sua percepção da diferença e adquire a noção de causa e efeito, ou melhor, de que as coisas começam e acabam. Às vezes elas dizem: “então não quero crescer, se não tu vai morrer, mamãe”.

Algumas crianças começam a segurar a evacuação ou deixam de fazê-la por longo período. Ficam com medo de irem junto, descarga abaixo, com as fezes. Elas até perguntam aonde vai o cocô. Pois bem, eu disse antes que os adultos são convocados e têm a tarefa fundamental de auxiliar na construção de pontes mentais, justamente para ajudar na proteção contra os excessos que podem paralisar a vida.

Um dos papéis da escola também é auxiliar a criança a lidar com os medos? Como pode fazer isso?

Se a escola entender seu papel de cuidadora, poderá realizar auxiliar ainda mais nessa tarefa de mediação simbólica, através do convívio, da continência, do cuidado básico com o novo de cada dia e ano para os alunos. Também poderá colaborar na elaboração natural das restrições que a escola solicita ao aluno e às famílias. Claro que no tema dos medos a base já virá de casa, por se tratar de uma experiência emocional muito primitiva.

Opiniões sobre o livro

Para o também psicanalista Júlio Conte, o texto poético do autor casa com maestria a linguagem cotidiana com o rigor científico, e ainda oferta nas entrelinhas um pensamento psicanalítico renovado. “Com essa combinação cria as pontes necessárias para um pensar criativo e o enfrentamento do medo nosso de cada dia. Walz faz isso com uma leveza e intimidade de quem não tem medo de errar nem medo de ser feliz.”

O diretor do Colégio Evangélico Jaraguá, de Jaraguá do Sul, Santa Catarina, considera o livro uma reflexão muito rica e generosa. “Aborda um tema que está presente no dia a dia de qualquer pessoa, mas especialmente no cotidiano das que trabalham, cuidam e convivem com crianças. Eu recomendo!”

O psiquiatra e psicanalista Paulo Guedes resume o trabalho dizendo ser uma verdadeira obra de arte. “É produto de extrema sensibilidade e criatividade, ingredientes essenciais para se poder tratar, com eficiência, de um tema tão delicado. Eu sinto necessidade de recomendar o livro, com entusiasmo, para todos aqueles que, de uma forma ou de outra, gostam de pessoas e de, portanto, relacionar-se com elas. Agora, às mães, aos pais e professores eu não apenas recomendaria, eu diria que se trata de leitura obrigatória”, avalia.

Aprendendo a lidar com os medos – A arte de cuidar das crianças

4ª edição revisada

Autor: Julio Cesar Walz

Edição do autor

Valor: R$ 50

Pode ser encontrado na Livraria Cultura e também ser adquirido pelo site www.livrariacultura.com.br.

 


Autor: Dóris Fialcoff
Fonte: Dóris Fialcoff

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