O segundo dia do 6º Congresso Gaúcho de Atualização em Pediatria foi marcado pela desmitificação dos transtornos comportamentais nos pequenos. O mais cercado de dúvidas é o autismo, que agora é um termo que não existe mais. O correto é a classificação "Transtorno do Espectro Autista", de acordo com a recente publicação da 5ª edição do Manual de Classificação de Doenças Mentais da Associação Americana de Psiquiatria (DSM-V). De acordo os critérios da publicação, uma em cada 88 crianças está dentro do espectro autista. Sendo assim, em comparação com a população infantil brasileira, os índices apontam para aproximadamente 1,5 milhão de pessoas.
- A razão pela qual a gente fala em espectro é porque ao invés de se falar em total ausência de comunicação, nós estamos falando em dificuldades na qualidade de socialização e comunicação. Se nós pensamos neste aspecto o transtorno do espectro autista, na realidade, é um problema de saúde pública mundial - explicou o palestrante Carlos Gadia, atuante nos Estados Unidos há mais de 20 anos e associado ao Dan Marino Center, um centro de referência em avaliação global e tratamento de crianças com necessidades especiais.
Esse transtorno se caracteriza por dois déficits básicos: deficiências de comunicação e socialização e comportamentos repetidos e estereotipados. Os pais quase sempre são os primeiros a identificar o problema, que se queixam por mudanças nos hábitos dos filhos.
- O papel do pediatra é estar alerta. Sabemos que quando mais precoces as intervenções forem, melhor o prognostico para estas crianças. Escutar aos pais é fundamental, pois muitas vezes estamos ocupados com outros problemas que levaram o paciente ao consultório e não percebemos a falta de socialização - aponta Gadia.
Em caso de dúvida, a orientação para os pais é não esperar. Procurar auxílio é fundamental, pois as intervenções, realizadas nos campos da fonoaudiologia, linguagem, comunicação não verbal e comportamento, podem reverter este quadro.
A infectologia foi outro tema que ocupou parte da programação do Congresso nesta sexta-feira. Entre as novidades apresentadas pelos médicos estão mudanças em calendário e sistemas de vacinação que trazem boas notícias para a sociedade.
Um exemplo é a alteração na data da tríplice viral que era uma primeira dose com um ano e o Ministério da Saúde antecipou a segunda dose para um ano e três meses.
- O mais importante é o motivo que levou a essa alteração que foi a incorporação de uma nova vacina que é a da Catapora. É uma doença própria da infância, mas que ocorre em outras idades também e nestes casos, até com mais gravidade do que em crianças. Pode ter suas complicações, inclusive com óbito e é prudente que seja incluído no calendário para que seja feita gratuitamente à população - comentou o médico membro dos comitês de Infectologia e de Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, Juarez Cunha.
Outra novidade é a recomendação da Organização Mundial de Saúde para fazer a vacina da febre amarela em dose única. Até hoje a orientação é repetir a imunização de 10 em 10 anos, mas já está em discussão a mudança no esquema vacinal que vai exigir alteração no sistema de saúde.
O 6º Congresso Gaúcho de Atualização em Pediatria é realizado no Centro de Eventos da PUCRS, até o dia 15 de junho. No sábado, os pediatras estarão reunidos em debates que envolvem a pneumologia, otorrinolaringologia, novas tecnologias e neonatologia. Além disso, Carlos Gadia retorna com mais uma palestra, desta vez para contemplar a importância do diagnóstico precoce do autismo.
Sobre a Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul
A Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul foi fundada em 25 de junho de 1936 com o nome de Sociedade de Pediatria e Puericultura do Rio Grande do Sul pelo Prof. Raul Moreira e um grupo de médicos precursores da formação pediátrica no Estado. A entidade cresceu e se desenvolveu com o espírito de seus idealizadores, que, preocupados com os avanços da área médica e da própria especialidade, uniram esforços na construção de uma entidade que congregasse os colegas que a cada ano se multiplicavam no atendimento específico da população infantil. Atualmente conta com cerca de 1.750 sócios, e se constitui em orgulho para a classe médica brasileira e, em especial, para a família pediátrica.