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30/08/2013

Vida longa à saúde

Profissionais de saúde se reúnem para discutir os impactos do envelhecimento da população para a saúde, no II Congresso Internacional de Acreditação

Mais de 600 profissionais da área de saúde estiveram reunidos nos dias 15 e 16 de agosto, no Rio de Janeiro, para discutir os impactos do envelhecimento populacional e o futuro da saúde para essa camada da população que não para de crescer. Como evoluir nos cuidados de longa duração para manter a qualidade de vida por mais tempo foi a discussão central do II Congresso Internacional de Acreditação, promovido pelo Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA) em parceria com a Joint Commission International (JCI).

Duas conferências internacionais foram o destaque do evento: a de Tracey Cooper, presidente da International Society for Quality in Health Care (ISQua) e de Paula Wilson, presidente da JCI, ambas organizações sem fins lucrativos que trabalham para melhorar a qualidade dos cuidados de saúde e segurança dos pacientes em cerca de 100 países no mundo.

Na conferência Qualidade social para pessoas idosas: como avaliar?, Cooper salientou que é preciso rever as Metas do Milênio e o progresso dos países no sentido de buscar essas metas. “Conforme a população envelhece, novas metas deverão ser estabelecidas”, ponderou ela, observando que a maior longevidade já está fazendo elevar outros números em relação a fatores que não estão dentro das metas. “Dados da World Alzheimer Report 2010 demonstram um aumento nos casos de demência; com uma previsão de alta muito preocupante até 2050, principalmente nos países de baixa e média renda, onde o número de pessoas com o problema sobe de menos de 40 milhões em 2010 para quase 120 milhões em 2050”, ressaltou. Nos países ricos, os dados apontam para um crescimento mais linear e discreto (mantendo-se abaixo dos 40 milhões).

A presidente da ISQua lembrou também que o número de idosos irá ultrapassar o número de crianças e que haverá grande crescimento populacional generalizado. Para se preparar para esses cenários, ela sugeriu algumas estratégias como: manter as pessoas saudáveis por mais tempo, maior foco na educação para os cuidados com a saúde pessoal, criar um modelo de cuidados integrados e investir no uso eficaz, financeiramente e clinicamente, de tecnologias, além de investir em aumentar a importância do papel dos cuidados primários e realizados nas comunidades.

Já a presidente da JCI, Paula Wilson, ressaltou que também é necessário melhorar a qualidade do cuidado. “Ainda há muitos erros, enganos e infecções que não deveriam acontecer no mundo todo. Processos rotineiros, rotineiramente falham. Precisamos assumir responsabilidade pelo paciente, melhorar a comunicação entre as transições nos cuidados e assumir uma política de tolerância zero para erros”, comentou defendendo o emprego da cultura da alta confiabilidade. Ela acrescentou que o trabalho tem que ser no sentido de prevenir. “Eventos adversos são catastróficos”, adverte.

Cooper, que também participou do painel A importância da segurança dos Pacientes de Cuidados de Longa Duração na Acreditação, defendeu que as instituições precisam garantir a segurança dos idosos no ambiente hospitalar e apontou que são precisos cuidados especiais para “essa população diferenciada”. A presidente da ISQua citou a medicação como um dos exemplos de gap potencialmente perigoso. “Estudos mostram que 35% das pessoas com idade avançada tomam mais que 10 remédios por dia. Quando esse idoso tem um problema agudo de saúde e vai a um hospital, ele pode acabar recebendo duas doses de um mesmo medicamento, ou pode acabar tendo uma interação medicamentosa desastrosa”, alertou.

Ela lembrou ainda que os cuidados em saúde para com o idoso, que tem mais problemas crônicos de saúde e, muitas vezes, fica debilitado por conta dessas doenças, são cíclicos, o que o leva a receber tratamento em diversos ambientes que vão além da saúde assistencial. “São cuidados em casa, pela família e por cuidadores, em creches para idosos, casas de repouso... E esses ambientes têm diferentes fronteiras e existem ‘buracos’ nos quais podemos cair quando passamos de um lado para outro”, ressaltou, acrescentando que o dever das pessoas envolvidas na área de saúde é criar mecanismos para reduzir esses espaços, integrando e conectando essas fronteiras.

Equilíbrio financeiro

Os cuidados com as doenças de longo prazo já está provocando impactos financeiros na saúde. Foi o que mostrou o diretor médico da Amil, Antônio Jorge Kropf. Ele frisou que a receita dos planos de saúde tem um crescimento anual médio de 11%. Em contrapartida, as despesas crescem cerca de 18% ao ano. Neste cenário, Kropf demonstrou preocupação com o financiamento da saúde no futuro se não houver uma situação de estabilidade e mudança de cultura.

Neste cenário de envelhecimento da população, ele afirmou a atenção deve ser mais voltada para os pacientes crônico ambulatorial do que para os pacientes terminais e defendeu a importância da acreditação para auxiliar as operadoras nesse processo. “O desafio das operadoras hoje é classificar o paciente, alocá-lo ao prestador que tenha padrões de desfecho adequado, monitorar resultados, mensurar a performance de médicos e de serviços em relação aos resultados e ter um instrumento de melhoria de todo esse processo. A acreditação, por meio da implantação de padrões de desempenho e indicadores contribui de forma significativa para a mensuração de resultados e performance, em especial para a linha de cuidados de longa duração”, pontuou o diretor da operadora de planos de saúde.

Sistema de saúde é falho no cuidado do idoso

Se até 2050, a população idosa acima de 65 anos será maior do que o número de crianças até 14 anos de todo o mundo, o caminho aponta para aumento da demanda nos cuidados de longa duração. Paul vanOstenberg, vice-presidente da JCI, ressaltou que embora se fale em sistema de saúde, o que se tem na saúde hoje não é de fato um ‘sistema’, já que existem enormes lacunas entre os ambientes de cuidados, principalmente entre o hospital e o local para onde o paciente vai depois da alta hospitalar. E essas transições entre um cuidado e outro são especialmente importantes no caso de pacientes idosos, que costumam sofrer de múltiplas doenças. “A responsabilidade não acaba quando o cliente entra em uma ambulância e vai para outro lugar. A comunicação falha entre as unidades de cuidados faz com que a pessoa seja readmitida no sistema de saúde, resultando em custo e desperdício – de 25 a 45 bilhões de dólares, por ano, nos Estados Unidos”, apontou.

O vice-presidente da JCI ressaltou que precisa haver metodologias de transição entre: o atendimento primário (médico da família) e o especialista (quando a patologia demanda um encaminhamento); o atendimento primário e os médicos do hospital; as equipes do hospital; os turnos de enfermagem; e médicos e enfermeiros. Além disso, precisa haver uma forma de comunicação entre toda essa cadeia e o home care, os cuidados de longa duração e até mesmo com a pessoa que cuida do paciente em casa. Como saída, ele recomendou estabelecer políticas e procedimentos padrões de comunicação para a transição – o que passar, para quem passar, de que forma passar, de que forma obter retorno para que se saiba que a comunicação realmente foi recebida por alguém.

Gerente de Qualidade do Hospital Israelita Albert Einstein (SP), Carla Behr, que participou do painel O Cuidado mais seguro para o paciente no ambiente externo do hospital, revelou que grande número de eventos adversos, incluindo lesões permanentes e até a morte, ocorrem em atendimentos realizados fora do hospital. De acordo com ela, pesquisa da Weill Cornell Medical College constatou que, em 2009, o número de indenizações por negligência pagas e comunicadas ao National Practitioner Data Bank para eventos ocorridos em ambiente ambulatorial foi semelhante ao número no ambiente hospitalar.

Comunicação eficiente influi no cuidado

Coordenadora de Práticas Assistenciais do Hospital 9 de Julho (SP), Fernanda Camargo reforçou que o ambiente seguro passa pelo trabalho multidisciplinar. “Em um sistema de saúde cada vez mais complexo, o trabalho da equipe multiprofissional faz toda a diferença. É preciso gerenciar o todo”, opinou.

Na opinião da superintendente assistencial do Hospital Moinhos de Vento (RS), Vânia Rohsig, o sucesso do plano de cuidado depende diretamente do trabalho integrado das equipes de enfermagem, médica, clínica, de nutrição, da farmácia, fisioterapia e até mesmo a pastoral, que devem estabelecer metas em um único sentido: a recuperação do paciente. Segundo ela, é preciso vencer as barreiras físicas, das diferentes equipes, de escalas de trabalho, da complexidade do cenário e da regulação do mercado e até mesmo o modelo de remuneração utilizado no país e a falta de estrutura adequada pós-alta hospitalar. Rohsig acredita também que “é preciso ainda engajar o próprio paciente no seu plano de cuidado”.

“Muitas vezes um médico não tem conhecimento do exame solicitado pelo outro colega e, portanto, não vê o paciente de forma integral. É esse paciente que chega aos nossos hospitais sem nenhuma informação do plano de cuidado que ele vinha trabalhando com o seu médico”, ressaltou Rohsing. Ela chamou atenção ainda para o fato de após a alta hospitalar não haver uma equipe de transição para o cuidado necessário do paciente de volta a sua residência.

Apontadas por Camargo como o principal problema da equipe multidisciplinar, as falhas de Comunicação representam um gasto anual de cerca de U$S 4,6 milhões nos hospitais norte-americanos com 500 leitos de internação, de acordo com o estudo publicado no Journal of Healthcare Management, em 2010.

Futuro

Para a superintendente do CBA, Maria Manuela Alves dos Santos, o congresso foi uma forma de sensibilizar os profissionais que atuam na área de saúde sobre a temática do envelhecimento. Para ela, as apresentações dos palestrantes nacionais e internacionais, principalmente, são uma mostra do que os maiores centros de saúde do mundo estão estudando e projetando para o futuro. Nesse sentido, Maria Manuela afirma que o tempo é curto para as mudanças necessárias. “A acreditação pode ajudar em dois aspectos: alta confiabilidade, onde adotamos o lema ‘tolerância zero’ nos serviços de saúde. E acreditar por sistemas ao invés de unidades e serviços, ou seja, acreditar a integralidade da assistência à saúde”, conclui.


Autor: Carolina Laert
Fonte: SB Comunicação

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