Para propor práticas que melhorem a qualidade de vida da população negra, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) promoveu na segunda-feira, 26, o encontro científico Ressignificar o Quesito Raça-Cor, no auditório do Hospital Materno Infantil Presidente Vargas. O evento integra a programação pelo Mês de Mobilização Pró Saúde da População Negra.
O secretário-adjunto de Saúde, Jorge Cuty, falou da importância do movimento, que tem o propósito de promoção da saúde integral, diminuindo injustiças, exploração e violência. “Temos que continuar lutando, dia após dia, para irmos contra questões que dificultem o acesso à saúde”, afirmou.
O professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Daniel Canvese, doutor em Saúde Coletiva, apresentou dados de 2012 que apontam a taxa bruta de homicídios da população negra em Porto Alegre: 192 por 100 mil habitantes, o que representa o dobro da taxa da população branca. É a quinta maior taxa do país entre as capitais - duas vezes maior que São Paulo e uma vez maior que o Rio de Janeiro -, mais de seis vezes acima da média nacional. Com relação à saúde, ele destaca a importância da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, mas lembra que o país tem uma série de indicadores que comprovam que o desafio ainda é grande. "É necessário que essa política seja fortalecida em outras atividades e ações de saúde como prioridade nos municípios", afirma Daniel.
"Segundo o Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil, o desafio é bastante grande na questão da mortalidade materno-infantil, no acesso ao serviço de saúde, ou seja, a questão da discriminação é, sem dúvida, um problema que precisamos enfrentar, além da questão da violência", comenta. Do ponto de vista da Saúde Mental, Daniel aponta as consequências tanto do racismo sutil quanto de uma manifestação mais enfática, desdobrando-se em hábitos e comportamentos nocivos, como tabagismo e falta de sono, que podem gerar situações de desemprego e adoecimento.
Apesar de o Brasil ser o maior contingente de população negra fora da África, do ponto de vista acadêmico são escassos os estudos que têm se preocupado em investigar ou avaliar a questão, conforme explica o professor. "Do ponto de vista demográfico e epidemiológico, é desafiador compreendermos que a porcentagem de população negra em Porto Alegre é o dobro do Estado do Rio Grande do Sul. Então, é uma política pública que deve ser prioritária para a cidade, especialmente nos espaços dos bairros", considera Daniel. Na Restinga, por exemplo, o contingente de população negra é alta, bem como a taxa de homicídios.
Restinga - Entre as experiências institucionais exitosas, Daniel destaca o curso de promotores de saúde da população negra, além do grupo de trabalho sobre o observatório de saúde da população negra, da SMS. Na Ufrgs, a disciplina de saúde coletiva tem feito um trabalho direto com moradores da Restinga, com a abordagem dos determinantes sociais de saúde, espaço de discussão e reflexão, estudo que será apresentado diretamente à comunidade.
Na sequencia, a professora Raquel Silveira, doutora em Psicologia Social e Institucional da UFRGS, lançou um questionamento: Qual é a nossa resistência em assumir a temática do quesito raça-cor como de todos nós? Ela deu um panorama da questão do racismo no Brasil, citando diversos autores que abordam a temática, além das relações de saber e poder. "Não há neutralidade nos conhecimentos produzidos", enfatizou.
O encontro contou ainda com a presença da coordenadora do Comitê de Saúde da População Negra da Gerência Centro, Solange de Souza Brito, promotora do encontro, e da coordenadora da área técnica de Saúde da População Negra da SMS, Elaine Oliveira. O Mês de Mobilização Pró Saúde da População Negra é desenvolvido em todas as unidades de saúde, CGVS, Atenção Básica, pronto atendimentos, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), hospitais e controle social.