O Centro de Referência no Atendimento Infanto-Juvenil (CRAI), do Hospital Materno-Infantil Presidente Vargas (HMIPV), serve de exemplo a outros estados brasileiros e, a partir deste mês, até novembro, vai inspirar os debates da 9ª Jornada Estadual de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. Santa Maria, Rio Grande, Santa Rosa, Passo Fundo, Uruguaiana, Caxias do Sul e Gravataí serão mobilizadas para o combate ao abuso sexual infantil, em seminários e oficinas com o tema O CRAI como Modelo para Cinco Regiões.
Recentemente, o CRAI recebeu a visita de representantes do Ministério Público de Brasília para conhecer o serviço pioneiro no Brasil. Com dez anos de atuação (a serem completados em outubro), o Centro acolheu, em 2010, 1.500 crianças e jovens. Em 2009, o número foi de 1.510, contra 949, em 2008, e 789 em 2007. Um levantamento de 2002 até o ano passado demonstra que a grande maioria dos abusos é praticada por familiares das vítimas. Pela ordem, os principais agressores são os pais. Depois, vêm padrastos, tios, avôs ou mães, irmãos e madrastas.
A apuração revela também que 74% das vítimas são meninas e 26%, meninos. Na maioria das vezes, são crianças de 5 a 8 anos ou de 9 a 12 anos - faixas de idade que representam, cada uma, 28% dos casos. Crianças de zero a 4 anos aparecem em 20% das ocorrências e adolescentes de 13 a 15 anos, em 19%. Na faixa de 16 a 18 anos, o índice cai para 5%.
Atendimento humanizado - O CRAI tomou a linha de frente da guerra contra o abuso sexual infantil no Rio Grande do Sul, assumindo a tarefa de prestar às vítimas e a seus familiares todas as etapas de cuidados necessários nessa situação. Elas vão desde o atendimento médico e psicológico até o registro de ocorrência policial, exame de corpo de delito e procedimentos para que a Justiça se encarregue da punição ao agressor que, se for um familiar, terá de ser afastado do convívio com a criança. Depois do acolhimento inicial, a criança ou adolescente e os familiares são conduzidos para assistência na rede municipal de Saúde.
A junção dos serviços em um mesmo local evita, em primeiro lugar, o sofrimento emocional de quem, antes do surgimento do CRAI, tinha de passar por exame físico no Departamento Médico Legal (DML). Não bastasse o trauma que já estavam vivendo, as crianças tinham de conviver ali com os mais diferentes tipos de casos.
No CRAI, além de estarem protegidos por privacidade, meninas e meninos que chegam lá encontram um ambiente por onde circulam também outras crianças à espera de consultas com pediatras. Enquanto isso, todos brincam e assistem a programas infantis na TV. "Gosto disso, porque todas as crianças se misturam, sem estigmatização", diz a psicóloga Eliane Soares, coordenadora do Centro.
Conforto - Para os pais ou responsáveis, a estrutura oferecida também é confortante. Encaminhada ao CRAI pelo Conselho Tutelar de Guaíba, a dona de casa Márcia, 38 anos, saiu de lá bem menos aflita. "Conversei bastante, houve muita clareza sobre o que fazer dali em diante e fiquei mais calma. Tirei todas as dúvidas", conta.
A equipe do CRAI é composta por mais 2 psicólogos além da coordenadora, 3 assistentes sociais, 2 auxiliares de perícia, 2 pediatras, 4 psiquiatras peritos, 4 médicos legistas, 1 auxiliar de Enfermagem, 1 inspetor de polícia do Departamento Estadual da Criança e do Adolescente (Deca) e 2 estagiários administrativos de nível médio. Participam também estagiários de Psicologia e de Serviço Social.
Dos casos que atendem, 71% são de Porto Alegre, 21% vêm da Região Metropolitana e 8%, do Interior, por recomendação de prefeituras. Os profissionais que trabalham ali não têm dúvida de que o abuso sexual se dá em todas as classes sociais. E se ainda consegue se manter muitas vezes invisível, é por causa do pacto de silêncio que prevalece em inúmeros casos. Portanto, cada denúncia equivale a uma vitória.
CENTRO DE REFERÊNCIA NO ATENDIMENTO INFANTO-JUVENIL
Hospital Materno-Infantil Presidente Vargas
(avenida Independência, 661, 6º andar, Bloco C, Sala 619)
(51) 3289-3367
Atendimento: segunda a sexta-feira, das 8h às 18h.
Atendimentos fora do horário podem ser encaminhados ao setor de Emergência do Hospital, para avaliação.
Denúncias de abuso sexual: DISQUE 100.