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12/03/2013

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Panorama do tratamento do câncer na atualidade: o que há de inovação?

Embora décadas de pesquisa, o câncer continua como uma das principais causas de mortalidade em vários países e a estimativa é de aumento sucessivo da sua incidência ao longo do tempo, a tal ponto que a previsão de novos casos, no mundo, para o ano de 2030 é de mais de 22 milhões contra 12,7 milhões ocorridos no ano de 2008, segundo a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer de Lyon, na França. 

Contudo, progressivamente, há o desenvolvimento de abordagens de tratamento que permitem maior qualidade de vida aos pacientes e até a sua cura. Em termos gerais, os tratamentos para a patologia incluem: cirurgia, radioterapia e quimioterapia. 

Cirurgia 

A cirurgia é principalmente indicada quando o tumor é detectado precocemente e há a chance de sua extração antes da propagação das células cancerosas para outras regiões do corpo, ou seja, as metástases. 

Segundo o oncologista e pesquisador Dr. Stephen Stefani, do Instituto do Câncer Mãe de Deus, com a evolução dos exames de imagem, o mapeamento do tumor pode ser realizado com mais precisão, garantindo sua remoção cirúrgica com menos perda de tecidos adjacentes. “Um dos avanços na área é o exame PET/CT (positron emission tomography/computed tomography), que associa medicina nuclear e tomografia computadorizada, permitindo avaliar o tumor molecular e morfologicamente ao mesmo tempo”. 

Radioterapia 

A radioterapia utiliza a radiação para atacar as células cancerosas e é realizada para diminuir o tumor a fim de sua remoção cirúrgica ou após a cirurgia para impedir o seu crescimento. Nos últimos anos, surgiram equipamentos que permitem a geração de imagens, através de tomógrafos, associada à aplicação da radiação de forma a possibilitar a localização mais exata do tumor. 

“É possível aplicar uma dose de radiação ainda mais focada ao tumor, poupando os órgãos adjacentes, diminuindo os efeitos colaterais e alcançando melhores resultados, até com maior possibilidade de cura em alguns casos”, frisa Dr. Fernando Obst, médico radioterapeuta do Instituto do Câncer Mãe de Deus.  

Quimioterapia 

A quimioterapia utiliza drogas para o combate das células cancerosas com o objetivo de eliminar o tumor, impedir a sua propagação e aliviar os sintomas. Está mais bem indicada para os casos com metástases. 

Um dos maiores avanços científicos na área refere-se ao câncer de mama HER2-positivo (human epidermal growth factor-2), que atinge em torno de 25% das mulheres com essa patologia. A droga trastuzumab, um anticorpo monoclonal, foi disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no Brasil, em 2012. 

“Uma das suas principais características é que se trata de uma terapia dirigida contra determinadas células, selecionando o alvo de uma maneira mais eficaz que as quimioterapias convencionais, diminuindo os efeitos colaterais da terapia”, enfatiza o mastologista Felipe Zerwes, do Instituto do Câncer Mãe de Deus. 

Porém, parte das pacientes desenvolve resistência ao trastuzumab, o que tem incentivado pesquisas com novas drogas, em especial,  a associação de anticorpos monoclonais com agentes citotóxicos potentes quimioterápicos. 

Em estudos clínicos recentes, tanto a associação do pertuzumab com o trastuzumab como a do emtansine com trastuzumab (também chamada de T-DM1) reduziram a progressão do câncer de mama HER2-positivo com metástases e ofereceram menos efeitos colaterais que o tratamento apenas com trastuzumab. Esses compostos estão em fase de estudos clínicos finais e, portanto, ainda não contam com aprovação de agências reguladoras, como a Food and Drug Administration (FDA), nos Estados Unidos; ou a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), no Brasil. 

Para o tratamento da leucemia linfocítica crônica, o tipo mais comum em adultos, em 2011, a Anvisa aprovou a droga rituximabe (MabThera®), um anticorpo monoclonal cuja combinação com a quimioterapia é a opção de tratamento mais comum. As pesquisas a respeito demonstraram que a terapêutica pode diminuir a progressão da patologia e reduzir a mortalidade ao longo do tempo. A fim de ampliar a eficácia dessa abordagem terápica, atualmente, a associação dessa droga a outras está em estudos clínicos, tal como o rituximab-ABVD (doxorrubicina, bleomicina, vinblastina, dacarbazina). 

Outros avanços na área do tratamento do câncer incluem as quimioterapias orais, possibilitando que o paciente possa ser tratado em casa e não precise de administração de drogas intravenosas no ambiente hospitalar. Nesse campo, o tratamento do melanoma, um tipo de câncer de pele com alta letalidade, despontou com inovações. 

O vemurafenib (Zelboraf®), indicado para o tratamento do melanoma metatástico com mutação do gene BRAF V600E, aproximadamente 60% dos casos, foi aprovado pela Anvisa em 2012. Os estudos sobre a droga relataram uma redução de 63% do risco de morte e 74% da progressão do tumor em comparação à quimioterapia tradicional. 

 “O vemurafenib é um exemplo das chamadas drogas inteligentes ou imunoterápicas”, comenta Dr. Stefani. 

Outra droga inteligente para o tratamento do melanoma que revelou resultados promissores em pesquisas é o ipilimumabe (Yervoy®), aprovado pela FDA e Agência Europeia de Medicamentos em 2011. No Brasil, já recebeu aprovação pela Anvisa e estará no mercado em breve, segundo informações da Bristol-Myers Squibb, empresa que detém sua patente no país. 

Drogas inteligentes ou imunoterápicas 

As chamadas drogas inteligentes, como o ipilimumabe, vemurafenib ou trastuzumab, dentre outras, fazem parte de uma nova geração de medicações para o câncer que atuam estimulando a resposta imunológica do organismo contra o tumor. 

O sistema imunológico possui a capacidade de distinguir entre os antígenos do próprio organismo, moléculas consideradas como úteis; ou não-próprios, elementos percebidos como estranhos e ameaçadores, produzidos por vírus, bactérias, etc. 

O tumor cancerígeno surge devido a um bloqueio do sistema imunológico de realizar a detecção dos antígenos produzidos pelas células cancerosas, caso contrário, essas células seriam eliminadas. 

Várias técnicas para identificar antígenos de tumor estão em desenvolvimento e uma grande variedade foi identificada. Esses achados estão armazenados em um banco de dados online denominado de Cancer Immunome Database (http://ludwig-sun5.unil.ch/CancerImmunomeDB/), livre para pesquisa, com a finalidade de permitir informações para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes na imunoterapia. 

Nanotecnologia 

Pesquisadores estão tentando desenvolver a nanotecnologia para combater o câncer com a finalidade de aumentar a eficácia bem como diminuir os efeitos colaterais de muitas medicações. A nanotecnologia diz respeito à aplicação de dispositivos, drogas ou de qualquer substância que possuam tamanho nanomérico, ou seja, infimamente minúsculos (1-100 nm). “No tratamento para o câncer, a principal busca é de dispositivos nanoméricos que possam entregar drogas diretamente ao tumor de forma a penetrar nas membranas das células cancerosas, fazendo com que o tratamento seja alvo-derecionado”, diz Dr. Stefani. 

Na atualidade, estudos com seres humanos, utilizando a nanotecnologia, estão em andamento para alguns tipos de câncer, como o de mama, próstata e gástrico. Os estudos em estágios mais avançados referem-se às nanopartículas poliméricas biodegradáveis, que encapsulam alguns tipos de fármacos anticancerígenos, transportam até o tumor e promovem a liberação controlada na medida em que são degradadas no organismo, minimizando as reações tóxicas das medicações. 

Mapeamento genético 

O desenvolvimento de muitos tipos de câncer possui a participação de alterações genéticas. A partir dessa constatação, vários estudos foram desenvolvidos nos últimos anos para identificar os tipos de genes e suas mutações envolvidos em cada tipo de câncer, o que pode beneficiar o desenvolvimento de novas drogas. 

A fim de permitir uma melhor compreensão das bases genéticas envolvidas, alguns bancos de dados online foram criados. Dentre estes, destaca-se o The Cancer Genome Atlas (TCGA, https://tcga-data.nci.nih.gov/tcga/), que visa sistematizar os estudos genéticos realizados sobre três tipos de câncer: glioblastoma multiforme, de pulmão e de ovário. 

Além disso, o mapeamento genético pode possibilitar, no futuro, uma medicina personalizada. 

“O desafio da oncologia moderna é identificar o painel genético do tumor de forma a permitir a escolha do tratamento mais adequado para cada paciente”, explica Dr. Stefani.  

Lembrando... 

Algumas medidas auxiliam a prevenção do câncer, tais como: 

- evitar o fumo e o excesso de bebidas alcoólicas;

- manter atividades físicas regulares;

- ter uma alimentação saudável que inclua frutas e vegetais;

- evitar a exposição excessiva ao sol;

- combater a obesidade.

 O rastreio é eficaz na identificação de alguns tipos de cânceres, incluindo:

 - câncer de mama: mamografia;

- câncer de próstata: exame de toque e de prova do antígeno prostático (PSA);

- câncer cervical: teste de Papanicolau;

- câncer colorretal:  teste de sangue oculto nas fezes, sigmoidoscopia ou colonoscopia.

 

Fontes

Bauer K, Rancea M, Roloff V, Elter T, Hallek M, Engert A, Skoetz N. Rituximab, ofatumumab and other monoclonal anti-CD20 antibodies for chronic lymphocytic leukaemia. Cochrane Database Syst Rev. 2012 Nov 14;11:CD008079.

Bray F, Jemal A, Grey N, Ferlay J, Forman D. Global cancer transitions according to the Human Development Index (2008-2030): a population-based study. Lancet Oncol. 2012 Aug;13(8):790-801. 

Kasamon YL, Jacene HA, Gocke CD, Swinnen LJ, Gladstone DE, Perkins B, Link BK, Popplewell LL, Habermann TM, Herman JM, Matsui WH, Jones RJ, Ambinder RF. Phase 2 study of rituximab-ABVD in classical Hodgkin lymphoma. Blood. 2012 May 3;119(18):4129-32. 

Khushnud T, Mousa SA. Potential Role of Naturally Derived Polyphenols and Their Nanotechnology Delivery in Cancer. Mol Biotechnol. 2013 Feb 1. 

Murphy CG, Morris PG. Recent advances in novel targeted therapies for HER2-positive breast cancer. Anticancer Drugs. 2012 Sep;23(8):765-76. 

Zhang H. Multifunctional nanomedicine platforms for cancer therapy. J Nanosci Nanotechnol. 2012 May;12(5):4012-8.


Autor: Marli Appel
Fonte: Blip Comunicação

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