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Mães de crianças com microcefalia relatam o abandono dos companheiros em Pernambuco
 
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05/02/2016

Mães de crianças com microcefalia relatam o abandono dos companheiros em Pernambuco

Médicos ouvidos pela reportagem relatam que os casos são cada vez mais frequentes e afetam principalmente jovens

Em Pernambuco, Estado com maior número de notificações de microcefalia, muitas mães têm sido abandonadas pelos companheiros após descobrir que o filho do casal é portador da má-formação. Médicos ouvidos pela reportagem relatam que os casos são cada vez mais frequentes e afetam principalmente jovens em relações instáveis.

Médicos que trabalham no atendimento de pacientes com microcefalia contam que os homens têm mais dificuldade do que as mães para aceitar a deficiência do filho.

— Eu me surpreendi com a quantidade de mães que estão cuidando do filho sozinhas, porque o pai simplesmente resolveu largar a família — conta uma pediatra que não quis se identificar. O rompimento também atinge relações mais duradouras.

Após dois anos de namoro e nove de casamento, a promotora de eventos Carla Silva, de 32 anos, foi abandonada pelo pai dos seus três filhos quando ainda estava internada na maternidade. O motivo, conta, era a condição da caçula, Nivea Heloise, que nasceu com menos de 28 centímetros de perímetro encefálico.

— Ele me culpou por ela nascer assim. Disse que a menina era doente porque eu era uma pessoa ruim — relembra.

O casal se conheceu após ele começar a frequentar a mesma igreja evangélica que ela, em uma periferia do Recife. Carla havia acabado de sair de um relacionamento longo e até resistiu às investidas dele por quatro meses.

Depois, começaram a namorar, se casaram e tiveram dois meninos, hoje com 3 e 5 anos. Durante a gravidez da caçula, porém, a relação já estava abalada.

A promotora de eventos contraiu o zika vírus no segundo mês de gestação. Pela TV, via os casos que associavam a doença à microcefalia e pensou que a filha, ainda no útero, poderia se tornar uma vítima.

— Os exames não apontavam nada, mas eu fui me preparando — diz. Ela descobriu que a criança era portadora da má-formação logo depois do parto.

— Não foi um choque. Eu vi e me tranquilizei Mas o pai dela, não — conta.

Nivea completa dois meses hoje, mas só foi registrada pelo pai 30 dias após o nascimento.

— Pensei em fazer a certidão de nascimento como mãe solteira, mas minha sogra fez pressão até ele assumir — diz Carla.

Desde dezembro, no entanto, o ex-marido não mora mais com a família. Também não responde a mensagens no celular e a bloqueou de um aplicativo de bate-papo, conta.

Com rotina de exames em hospitais, a filha tem demandado atenção integral de Carla durante o dia. Já as convulsões provocadas pela microcefalia não a deixam dormir de madrugada.

— Ela chora muito, se treme inteira e contrai as mãos — afirma a mãe.

A contar do nascimento de Nivea, ela ainda não conseguiu trabalhar.

—Quando eu voltar, vai ser ainda mais difícil — afirma.

Para a infectologista pediátrica Angela Rocha, coordenadora do setor do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, que recebe a maior parte dos pacientes com microcefalia em Pernambuco, o problema de abandono dos pais afeta principalmente mulheres jovens, com relacionamentos instáveis e que tiveram uma gravidez indesejada.

— Normalmente, o homem tem essa dificuldade de assumir — afirma Angela.

Segundo a infectologista, alguns rompimentos acontecem ainda antes de o casal descobrir que o filho tem microcefalia.

— Em muitos casos, o parceiro já tinha se afastado na hora que engravidou. Em outros, quando a criança nasce — diz.

Foi assim para a pequena Layla Sophia, de dois meses, que ainda não conhece o pai.

— Foi uma gravidez inesperada, logo no começo do namoro da minha filha. Quando estava com seis meses de barriga, ele deixou ela — conta Iranilda Silva, de 45 anos, avó da criança.

A filha de Iranilda também contraiu o zika vírus durante a gestação. Para a família, natural de Ouricuri, no sertão de Pernambuco, a microcefalia era totalmente desconhecida. Mas nem a má-formação da criança a reaproximou do pai.

—Ele sabe de tudo, até porque mora do nosso lado, mas nunca foi lá (ver a criança) — contou a avó de Layla Sophia. 


Autor: Estadão
Fonte: Zero Hora

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