Ana Paula Anzolin diz não saber ao certo como decidiu ser farmacêutica, mas lembra que desde criança brincava com caixas de medicamentos e exames clínicos dos pais. “Acredito então que não fui eu que escolhi ser farmacêutica, e sim esta profissão que me escolheu”, reflete a mestranda no curso de Envelhecimento Humano da Universidade de Passo Fundo (UPF) como bolsista Capes do Governo Federal, e que também é especialista em Farmácia Clínica em UTI.
Em sua pesquisa, Ana Paula, que é natural de Nova Bassano, na Região da Serra, e mora atualmente em Passo Fundo, diz ter o objetivo de comprovar o benefício do óleo ozonizado via tópica para doença de artrose. “Ele já é usado no exterior, então algumas pessoas trazem esta medicação de fora e relatam benefícios”, alega a farmacêutica, destacando que apesar de ainda não ser autorizada pelo Conselho Federal de Medicina, a ozonioterapia foi incluída neste ano como uma Prática Integrativa e Complementar do SUS pelo Ministério da Saúde.
CRF-RS - Quando e como surgiu a iniciação científica na sua graduação?
Ana Paula Anzolin - Ela surgiu logo cedo na minha graduação, no 3º semestre mais especificamente. Em uma conversa de corredor descobri que a professora Charise Bertol, minha atual orientadora, estava fazendo seleção para novos alunos. Fui conhecer a professora e o laboratório e com uma sensação de gratidão e medo do novo iniciei minha carreira na pesquisa. E sem dúvidas o que me fez gostar e ficar na área foram as pessoas com quem convivi e convivo até hoje. Em especial destaco minha ex-colega de laboratório e uma grande amiga, Larissa Cestonaro, que juntamente com a Dra. Prof. Charise me ensinaram a dar os primeiros passos na pesquisa.
CRF-RS - Como foi a transição da graduação para o mestrado e os desafios para obter a bolsa da Capes?
Ana Paula Anzolin - A transição para o mestrado foi ao natural, gosto da área acadêmica e pretendo seguir nela. Sobre as bolsas no mestrado, há poucas bolsas Capes disponíveis para nós alunos, portanto é necessário muito estudo e dedicação, porém não é impossível conseguir.
CRF-RS - Comente o interesse pela pesquisa sobre o ozônio e as diferentes etapas desse estudo.
Ana Paula Anzolin - O ozônio surgiu na minha vida acadêmica em 2014 quando era bolsista PIVIC e, juntamente com a Larissa e a Dra. Charise, realizamos um trabalho sobre a toxicidade do ozônio. Quando optei por ingressar no mestrado, tive a grande felicidade de poder continuar trabalhando com o ozônio. Nossa pesquisa vem sendo desenvolvida em diversas etapas: a professora Dra. Charise estuda a ozonioterapia desde 2014, e em 2017 publicamos um artigo sobre a toxicidade do ozônio: Ozone generated by air purifier in low concentrations: friend or foe?. Já em 2018, publicamos uma revisão sistemática sobre o ozônio na osteoartrose: Ozone therapy as an integrating therapeutic in osteoartrosis treatment: a systematic review. Portanto, após anos de estudo, colocamos em prática o teste em humanos, do qual inicia no diagnostico até o pós-tratamento desses pacientes.
CRF-RS - Qual é o foco da sua pesquisa agora no mestrado e onde ela é realizada? Quem mais está envolvido nela?
Ana Paula Anzolin - Meu foco no momento é comprovar o benefício do óleo ozonizado via tópica para doença de artrose. Já é usado no exterior e algumas pessoas trazem esta medicação de fora e relatam benefícios. A pesquisa é realizada no centro ambulatório do hospital da cidade e no curso de farmácia da UPF. Está envolvida na pesquisa a coordenadora e orientadora Charise Dallazem Bertol, o Dr. Renato Tadeu dos Santos e Dr. Diego Collares, médicos ortopedistas, eu como mestranda do curso de envelhecimento humano, as alunas de iniciação científica Micheila e Sílvia e a mestranda de Bioexperimentação Gabriela. Portanto, uma grande equipe multidisciplinar que está por trás de toda a pesquisa clínica.
CRF-RS - Fale mais sobre a busca por pacientes com artrose e o óleo ozonizado. Cite também a busca pela máquina que produz o ozônio e a parceria com o laboratório para realizar os exames sem custos.
Ana Paula Anzolin - Conseguimos apoio da Cedil, Empresa Sentinela, Indústria de medicamentos Cristália e Rádio Uirapuru. Após fazer um cálculo matemático, identificamos que precisaríamos de 82 pacientes (41 do grupo de tratamento e 41 do grupo de placebo). Para a população ficar sabendo do nosso trabalho, disponibilizamos nas redes sociais e na Rádio Uirapuru, que divulgou o estudo. Em questão de duas semanas tínhamos todos pacientes, foi incrível a repercussão da população. Pacientes que não são apenas de Passo Fundo e sim de várias cidades da região norte do Estado.
Para produzirmos o óleo ozonizado, a empresa Sentinela, de Ronda Alta, em parceria com uma empresa de Caxias do Sul, produziu o ozonizador e está colaborando na ajuda dos custos para os exames laboratoriais. Como precisávamos realizar o diagnóstico de artrose nos pacientes como critério de inclusão no estudo, fizemos uma parceria com a Empresa Cedil, de Passo Fundo, que está realizando todos os raios X para nossos pacientes. O óleo, material básico para a produção do medicamento, foi uma parceria com a Indústria Farmacêutica Cristália. Portanto, com isso, os pacientes que participam do estudo não têm custo nenhum e estão satisfeitos com os resultados. Não foi relatado nenhum efeito adverso grave até o momento
CRF-RS - A ozonioterapia não é autorizada pelo CFM. De que forma está sendo testada a eficácia do procedimento e o que se espera em caso de sucesso?
Ana Paula Anzolin - A ozonioterapia é autorizada em diversos países, como Itália, Rússia, Espanha, mas no Brasil ainda não. Entretanto, em 2018, no 1º Congresso Internacional de Práticas Integrativas e Saúde Pública (INTERCONGREPICS), o Ministério da Saúde incluiu a ozonioterapia como uma Prática Integrativa e Complementar (PICs) do SUS. Então se caso o medicamento trouxer sucesso, o passo seguinte é conseguir registro com a Anvisa e proporcionar à população um medicamento novo para a artrose, de fácil acesso e mais barato que os que estão no mercado.
CRF-RS - Enquanto desenvolve a pesquisa de mestrado, você também atua em uma distribuidora de medicamentos. Comente essa rotina.
Ana Paula Anzolin - Minha rotina é dividida entre o mestrado na UPF e meu trabalho como farmacêutica na distribuidora de medicamentos Dimed. Uma rotina exaustiva, porém muito gratificante. A bolsa da Capes apenas cobre o valor da mensalidade da instituição e não tenho outro recurso financeiro, portanto sobrevivo com o salário de farmacêutica e consigo organizar meus horários entre as duas rotinas.
A rotina de pesquisadora não é fácil. É exaustiva e não temos incentivo adequado do governo, o que compensa é ver o sorriso e ouvir o muito obrigado dos pacientes. Isso não tem dinheiro que pague e é o que mantém nossos pesquisadores na luta pela descoberta de novos produtos. Agradeço imensamente ao CRF-RS pela oportunidade de divulgar minha pesquisa e fica também meu convite: se caso algum investidor quiser investir em nosso laboratório e em nossa ideia, as portas estão abertas.