.
 
 
Tarja preta: dose, remédio ou veneno?
 
+ Sa�de
 
     
   

Tamanho da fonte:


03/12/2009

Tarja preta: dose, remédio ou veneno?

Saiba os benefícios e problemas que esses remédios trazem

— Doutor, quero que o senhor me receite Rivotril.

— Por que você quer Rivotril? — pergunta o médico.

— Porque preciso estudar e passar em um concurso público.

O cenário é o consultório do psiquiatra Marcos Zaleski, em Florianópolis, especialista em dependência química pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e mestre em Psicofarmacologia no Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

— Não sei se tenho alguma doença. Insônia, sim. Uma colega de trabalho me deu Rivotril e foi ótimo.

O espaço é o balcão de uma loja no Bairro Kobrasol, em São José, na Grande Florianópolis. A atendente conta que a medicação devolveu-lhe a sensação de relaxamento, pois, mesmo depois de horas no MSN (programa de conversa simultânea pela internet) rolava na cama e não conseguia dormir.

Como a caixinha do remédio terminou, foi consultar com a mesma médica da amiga. Argumentou problemas pessoais, em família e no trabalho. Conseguiu o que queria:

— A médica perguntou se eu já havia tomado algum remédio. Disse que não, mas que minha tia tomava Rivotril e que todo mundo notava melhoras nela.

No bairro Prainha, em Florianópolis, o assunto é parecido:

— Os filhos crescem e a gente não descansa enquanto não voltam para a casa. Só mesmo com calmante para se aquietar — conta a mulher, que toma a medicação receitada por uma médica do SUS.

Rivotril é o remédio da moda. Um tranquilizante do grupo dos benzodiazepínicos, usado para controlar a ansiedade. Está na ponta da língua de pessoas que utilizam algum medicamento tarja preta. Precisem deles ou não.

Uma pesquisa do Ministério da Saúde aponta que o Rivotril é o segundo medicamento mais vendido no Brasil.

A Secretaria de Estado da Saúde não tem levantamento sobre o consumo dos remédios com tarja preta no Estado. O órgão repassa valores de acordo com as exigências dos municípios, por meio da Assistência de Saúde Básica, e cada um tem autonomia para a compra dos medicamentos.

Com mais de 20 anos de experiência no ramo, o médico Marcos Zaleski reclama:

— O profissional se pergunta o que está fazendo ali. O paciente acha que sabe o que tem e vem de casa com o nome da medicação.

Inversão de papéis, onde o médico deveria primeiro ouvir o paciente para depois dar o diagnóstico e recomendar o tratamento, é cada vez mais comum. Repete-se do consultório sofisticado ao centro de saúde da periferia.

Na antessala do consultório ou na fila do SUS, outra conclusão: o paciente também se apoderou de expressões antes restritas à classe médica. Não importa se tem o curso superior ou séries primárias. O vocabulário inclui termos como fobias, ansiedade, pânico, déficit de atenção e transtornos mentais.

A questão tornou-se mais evidente a partir dos anos 1990, quando os assuntos do cérebro romperam as barreiras científicas. Exames como ressonância magnética começaram a alimentar os pacientes com novas informações. A medicina mostrou às pessoas o que estava dentro de sua caixola. Fez mais: explicou a elas o efeito que determinada droga causa em algumas regiões do cérebro.

Houve outras mudanças. O modelo antes chamado simplesmente de loucura, passou a ser visto de forma diferente, como doença mental. Até os anos 1980, o psiquiatra era visto quase como um não-médico. Hoje, é comum um vestibulando dizer que fará Medicina para se dedicar à psiquiatria.

Casos de depressão avançam no mundo

É bom que façam isso. Previsões da Organização Mundial da Saúde indicam que a depressão, por exemplo, afeta 120 milhões de pessoas no mundo. É considerada a quarta enfermidade mais incapacitante. Um estudo feito em 1996 indicou que, em 2020, será a segunda doença entre a população, perdendo, apenas, para doenças isquêmicas do coração.

Mas não dá para esquecer de Paracelso. Médico e alquimista suíço que viveu entre 1493-1541, Phillipus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim avisou: a dose certa diferencia um veneno de um remédio.

Já a psiquiatra Letícia Maria Furlanetto, professora no Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina, sugere cautela:

— A questão nem é tanto a dose. Mas que exista um profissional para receitar, acompanhar e suspender o uso quando necessário.

Fora disso, diz, a banalização é um demônio.

:: O que são as tarjas

Tarja preta: informa que o medicamento é de alto risco, não pode ser consumido sem prescrição médica. A venda deste tipo de medicamento deve ser obrigatoriamente com a apresentação da receita médica.

Tarja vermelha: de menor risco, embora também seja vendido apenas com receita médica. Não representa risco de vida, mas apenas de efeitos colaterais.

Sem tarja: pode ser vendido sem a apresentação da receita médica, mas o consumidor deve manter os cuidados recomendados para os demais medicamentos.

:: A escalada do ansiolítico no Brasil

Em 1998, o ansiolítico da época, o Lexotan, estava em sexto no ranking dos mais vendidos. Dez anos depois, o Rivotril aparece em segundo lugar.

1998

1 - Cataflam (analgésico e anti-inflamatório)

2 - Novalgina (analgésico e antitérmico)

3 - Hipoglós (pomada contra assaduras)

4 - Neosaldina (analgésico e antiespasmódico)

5 - Voltaren (antirreumático, anti-inflamatório e analgésico)

6 - Lexotan (ansiolítico)

7 - Redoxon (vitamina C)

8 - Buscopan Composto (antiespasmódico e analgésico)

9 - Sorine (descongestionante nasal)

10 - Vick Vaporub (unguento descongestionante)

2004

1 - Microvlar (anticoncepcional)

2 - Neosaldina (analgésico e antiespasmódico)

3 - Hipoglós (pomada contra assaduras)

4 - Buscopan Composto (antiespasmódico e analgésico)

5 - Novalgina (analgésico e antitérmico)

6 - Rivotril (ansiolítico e anticonvulsivante)

7 - Tylenol (analgésico e antitérmico)

8 - Cataflam (analgésico e anti-inflamatório)

9 - Neovlar (anticoncepcional)

10 - Luftal (antigases)

2008

1 - Microvlar (anticoncepcional)

2 - Rivotril (ansiolítico e anticonvulsivante)

3 - Puran T4 (hormônio tireoidiano)

4 - Hipoglós (pomada contra assaduras)

5 - Neosaldina (analgésico e antiespasmódico)

6 - Buscopan Composto (antiespasmódico e analgésico)

7 - Salonpas (analgésico e anti-inflamatório)

8 - Tylenol (analgésico e antitérmico)

9 - Novalgina (analgésico e anti-inflamatório)

10 - Ciclo 21 (anticoncepcional )


Autor: Ângela Bastos - Diário Catarinense
Fonte: Ministério da Saúde

Imprimir Enviar link

Solicite aqui um artigo ou algum assunto de seu interesse!

Confira Também as Últimas Notícias abaixo!

 
 
 
 
 
 
 
Facebook
 
     
 
 
 
 
 
Newsletter
 
     
 
Cadastre seu email.
 
 
 
 
Interatividade
 
     
 

                         

 
 
.

SIS.SAÚDE - Sistema de Informação em Saúde - Brasil
O SIS.Saúde tem o propósito de prestar informações em saúde, não é um hospital ou clínica.
Não atendemos pacientes e não fornecemos tratamentos.
Administração do site e-mail: mappel@sissaude.com.br. (51) 2160-6581