.
 
 
AVCs atingem até bebês
 
Notícias
 
     
   

Tamanho da fonte:


14/12/2009

AVCs atingem até bebês

Portadores de anemia falciforme são as maiores vítimas dos acidentes vasculares cerebrais na infância

Mal costumeiramente associado aos adultos, o acidente vascular cerebral (AVC), doença que mais mata no Brasil e em muitos países do mundo, também atinge crianças - não poupa sequer os bebês que ainda estão na barriga da mãe. Embora a causa do problema tenha origens diferentes, os sintomas e as sequelas do mal são as mesmas. Em casos mais graves, quando a circulação sanguínea no cérebro é interrompida por muitas horas, funções como respiração, locomoção e fala são comprometidas seriamente e nem sempre voltam ao normal. Algumas crianças permanecem em estado vegetativo.

O fator de risco mais comum para a ocorrência do AVC infantil é a anemia falciforme. A pediatra e hematologista Ísis Magalhães explica que esse tipo de anemia é genética, não tem cura e afeta mais crianças negras do que brancas. O mal altera as hemoglobinas e os vasos sanguíneos. Essas estruturas ficam obstruídas, o que facilita a ocorrência do AVC. "Cerca de 10% das crianças vítimas dessa anemia acabam sofrendo o acidente vascular cerebral. Em proporções bem menores, o AVC na garotada também pode ocorrer devido a outras disfunções no sangue ou no sistema imunológico, a infecções, a meningite e a cardiopatias. A anemia chama mais atenção porque, em nossa região, a cada 1,2 mil nascimentos, temos uma ocorrência. Os médicos devem ficar atentos", alerta a médica.

Nem todos os profissionais de saúde conseguem perceber e diagnosticar o AVC em crianças. Há duas décadas, muitos nem acreditavam que ele poderia ocorrer em pacientes tão jovens. Até hoje, os estudos sobre os derrames infantis são raros - e não existem documentação ou estimativas oficiais da incidência no Brasil. De acordo com Ricardo Teixeira, neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília, os sintomas do AVC em crianças são os mesmos manifestados pelos adultos. "O complicado é que a criançada nem sempre sabe explicar o que está sentindo, mas as manifestações são as mesmas. Os sintomas são súbitos para todas as idades. Perda repentina da força e da sensibilidade, alteração visual, desequilíbrio e comprometimento nas funções da fala e entendimento são os mais comuns e marcantes", observa.

Rapidez necessária

O diagnóstico é importante, porque os riscos de uma nova ocorrência de AVC são grandes. "Nesse caso, o acidente é mais intenso e pode comprometer a qualidade de vida do paciente de forma definitiva", alerta o neurologista. Por impedir a circulação sanguínea e a oxigenação no cérebro, o AVC provoca a morte de células nervosas responsáveis pelo controle de funções corporais. Dependendo da área afetada, resulta em fraqueza nos membros, em problemas para se comunicar, enxergar ou ouvir, em incapacidade de raciocínio e compreensão, em perda de memória e em dificuldade para expressar emoções.

Os problemas emocionais e de depressão, como choro e risos inapropriados, são as principais manifestações das repercussões psiquiátricas e psicológicas. "É um evento preocupante em crianças, mas é importante salientar que a capacidade de regeneração do cérebro delas é maior que a do adulto. Então, a possibilidade de vencerem as sequelas é maior, principalmente se o diagnóstico e o tratamento forem feitos rapidamente", ressalta o neurologista.

O pequeno Ruan Ferreira dos Santos, 9, começava a falar as primeiras palavras quando teve o AVC, aos 2 anos e 3 meses de idade. Por sorte, o menino estava internado durante o episódio. O diagnóstico foi rápido, mas ainda assim algumas sequelas persistem. Embora faça fisioterapia, os movimentos do lado direito estão comprometidos. "Ruan sofreu muito, mas é uma criança forte. Depois do AVC, ele perdeu todos os movimentos e ficou cego. Acredito que ele lutou muito pela vida e por sua recuperação, mesmo não tendo dimensão das dificuldades. A visão voltou perfeita e ele não tem problemas de aprendizado. Vai à escola, é brincalhão e muito ativo. Ainda assim, fico atenta, pois, por conta da anemia, sabemos que ele pode ter outro AVC. Isso me preocupa muito", lamenta a dona de casa Sheila Ferreira de Oliveira, mãe de Ruan.

Transfusões

Para minimizar as chances de um novo acidente em crianças com anemia falciforme, é preciso que elas façam transfusões sanguíneas periodicamente. "Também é fundamental que essas crianças tenham acesso ao doppler transcraniano, exame capaz de mensurar o fluxo sanguíneo em artérias cerebrais e detectar o risco do AVC. A técnica é indolor para os pacientes", explica a pediatra. No Distrito Federal, apenas uma máquina está disponível para atender a toda a população. "Medicamentos usados em adultos para evitar o AVC não estão disponíveis para crianças. A terapia de transfusão de sangue e o exame são realmente as únicas alternativas para afastar as chances de um acidente vascular em meninos e meninas", salienta Ísis.

Mateus Gabriel dos Santos, 16 anos, faz transfusão de sangue a cada 21 dias. "Tive o AVC aos 9, e estava em casa quando aconteceu. Uma dor muito forte na cabeça é tudo que consigo lembrar desse dia. Fiquei muito mal, pois perdi os movimentos do lado direito e não conseguia falar", conta o adolescente. Para se recuperar, Mateus faz fisioterapia e hidroterapia em dias intercalados da semana. "Ainda tenho limitações, mas os movimentos estão voltando aos poucos. É preciso ter paciência, mas acredito que vou ficar bom e faço planos para minha vida. Quero ser bancário e comprar um carro bem bonito para passear pela cidade", diz o menino.

Na reabilitação, médicos e fisioterapeutas trabalham para evitar que os músculos fiquem rígidos e deformados, impedindo os pacientes de executar movimentos. O processo de reaprendizagem exige paciência e obstinação tanto das vítimas do AVC como dos cuidadores, que têm função importante durante toda a reabilitação. O teste do pezinho pode identificar a anemia falciforme em crianças recém-nascidas.

Na barriga da mãe

O acidente vascular cerebral (AVC), popularmente conhecido como derrame, é uma doença cardiovascular provocada pela falta ou restrição da irrigação de sangue no cérebro. Veja como ele pode ocorrer em crianças:

Quando acontece

O AVC ocorre quando um vaso ou artéria que leva nutrientes e oxigênio para o cérebro é bloqueado ou rompido

Crianças

A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera AVCs na infância os casos em crianças de 29 dias a 18 anos, mas estudos recentes comprovam que o AVC pode vitimar bebês ainda na barriga da mãe

Crianças negras são mais afetadas, porque são mais suscetíveis à anemia falciforme, fator de risco para o AVC infantil

Em países desenvolvidos, o AVC afeta cerca de 15 crianças a cada 100mil habitantes/ano

No Brasil, ainda não existem dados estatísticos, mas estima-se que a doença acometa 18 crianças a cada 100 mil habitantes/ano

Sintomas do AVC nos pequenos

Os sintomas do AVC nas crianças são semelhantes aos em

Adultos:

Hemiplegia (paralisia de metade do corpo)

Convulsões, principalmente nas primeiras 24 horas do início do evento

Perda dos movimentos

Causas

Nas crianças, estão relacionadas a:

Doenças no sangue, principalmente a anemia falciforme

Disfunções do sistema imunológico

Infecções

Tratamento

O importante para começar o tratamento de uma vítima infantil do AVC é identificar a causa, o que indica os tipos de sequelas que podem ocorrer com a criança e a terapia para amenizá-las

Fonte: Instituto do Cérebro de Brasília

Para saber mais
Aposta na regeneração

Especialistas apostam na plasticidade cerebral - capacidade do cérebro de destacar células nervosas sadias para realizar funções de células danificadas - para a recuperação dos membros lesionados pelo AVC. Outro aspecto importante é a reintrodução do paciente no convívio social, por meio de leves passeios ou pela realização de atividades comuns ao cotidiano. Um estudo publicado há menos de um ano pela revista científica Stroke revela que 90% dos brasileiros dizem não ter qualquer tipo de informação sobre o AVC , fato que atrapalha a prevenção e o tratamento. Dados do Ministério da Saúde indicam que, em 2008, pelo menos 168 mil pessoas foram hospitalizadas no Brasil em decorrência de AVCs. Cerca de 30 mil pacientes morreram.


Autor: Márcia Neri
Fonte: Correio Braziliense

Imprimir Enviar link

Solicite aqui um artigo ou algum assunto de seu interesse!

Confira Também as Últimas Notícias abaixo!

 
 
 
 
 
 
 
Facebook
 
     
 
 
 
 
 
Newsletter
 
     
 
Cadastre seu email.
 
 
 
 
Interatividade
 
     
 

                         

 
 
.

SIS.SAÚDE - Sistema de Informação em Saúde - Brasil
O SIS.Saúde tem o propósito de prestar informações em saúde, não é um hospital ou clínica.
Não atendemos pacientes e não fornecemos tratamentos.
Administração do site e-mail: mappel@sissaude.com.br. (51) 2160-6581