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Estudo recente realizado por Lakhan e Vieira
 
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26/01/2009

Estudo recente realizado por Lakhan e Vieira

Suplementação alimentar como recurso auxiliar nos transtornos mentais

INTRODUÇÃO

Baseados em um estudo recente (LAKHAN e VIEIRA, 2008), que realizou um levantamento de vários outros estudos, vamos apresentar, neste estudo, os suplementos alimentares que podem auxiliar na melhora dos sintomas de quatros transtornos psiquiátricos: depressão maior, transtorno bipolar, esquizofrenia e transtorno obsessivo-compulsivo. Os suplementos alimentares são produtos farmacêuticos de substâncias alimentares e que são tomados em complementação à alimentação por falta dessas substâncias no organismo.
 
Antes de abordarmos o tema proposto, alertamos que esses suplementos não devem ser tomados por conta própria, pois, cada pessoa necessita de nutrientes e quantidades diferenciados. É necessário buscar um médico específico para o levantamento da necessidade de cada organismo, bem como das quantidades necessárias.
 
Também, é importante frisar que esses suplementos alimentares não devem substituir as medicações correntemente utilizadas para os tratamentos de transtornos mentais. No entanto, essas mediações nem sempre fazem efeito na totalidade dos sintomas em muitas pessoas, bem como existe um percentual de pessoas que tais medicações não surtem o efeito de tratamento desejável. Assim, para essas pessoas, um tratamento com suplementos alimentares poderia ser uma alternativa viável.
 
Outro aspecto a ser colocado é que os suplementos alimentares não substituem uma alimentação saudável. Contudo, mesmo pessoas com alimentações saudáveis podem apresentar deficiências alimentares específicas por falhas do próprio organismo.
 
Assim, com este estudo, nossa intenção é alertar as pessoas bem como a comunidade médica da importância de uma alimentação saudável e que, muitas vezes, essa alimentação não é promovida pela própria pessoa ou por seu organismo, necessitando ser suplementada. O estudo de Lakhan e Vieira (2008) comprova essa questão, pois, os estudos analisados por eles encontraram deficiências de determinados nutrientes associadas aos transtornos mentais citados.
 
Os transtornos mentais somados apresentam alta prevalência nas populações mundiais, encontrando-se entre 4,3% e 26,4%, dependendo da população e dos critérios utilizados para o levantamento (LAKHAN e VIEIRA, 2008). Estudo multicêntrico realizado no Brasil encontrou sintomas de transtornos psiquiátricos, no geral, em 34% da população de Brasília e Porto Alegre e 19% da população de São Paulo (ALMEIDA-FILHO et al., 1997).
 
Ademais, existem populações que podem apresentar índices de prevalência maiores que a população em geral, tal como as pessoas da terceira idade. Estudo de Gazalle et al. (2004) identificou que sintomas de tristeza, um dos sintomas da depressão, foram observados em 43,2% das pessoas da terceira idade na cidade de Pelotas-RS.
 
Também, algumas populações são mais susceptíveis a transtornos psiquiátricos que outras. Na mesma cidade de Pelotas, a prevalência de depressão maior em mulheres na fase de pós-parto foi de 19,1% (MORAES et al., 2006). A prevalência em mulheres com HIV foi observada na ordem de 25,8% (MELLO e MALBERGIER, 2006).
 
CLASSIFICAÇÕES
 
Depressão
 
Segundo o Manual DSM-IV (DSM-IV - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 1995), os sintomas de depressão são: humor deprimido na maior parte do dia, falta de interesse nas atividades diárias, alteração de sono e apetite, falta de energia, alteração na atividade motora, sentimento de inutilidade, dificuldade para se concentrar, pensamentos ou tentativas de suicídio. Para o diagnóstico de um episódio depressivo maior é necessário que o indivíduo apresente pelo menos cinco dos sintomas citados, sendo que um dos sintomas deve ser o humor deprimido ou falta de interesse e deve ocorrer em um período de pelo menos duas semanas.
 
A prevalência de depressão maior nas populações mundiais é de 3% a 5% (TENG et al., 2005). Foi observado em Porto Alegre, Brasília e São Paulo uma prevalência do conjunto de sintomas desse transtorno em: 10,2%, 2,8% e 1,9%, respectivamente (ALMEIDA-FILHO et al., 1997).
 
Transtorno bipolar
 
O transtorno bipolar pode ser caracterizado por episódios recorrentes de depressão, mania, hipomania ou um estado misto (episódio mania e depressão) (LAKHAN e VIEIRA, 2008). Esse transtorno é igualmente prevalente no gênero feminino e masculino e acomete mais pessoas solteiras ou separadas (LIMA et al., 2006).
 
Em estudo realizado na cidade de São Paulo, encontrou-se uma prevalência de 8,3% considerando-se todos os tipos de transtornos bipolares e seus espectros (MORENO, 2004). Apenas o transtorno bipolar com episódios de mania e ciclotimia (episódio mania e depressão) ficou na ordem de 1,1%, 0,4% e 0,3% em Porto Alegre, Brasília e São Paulo, respectivamente (ALMEIDA-FILHO et al., 1997).
 
Esquizofrenia
 
De acordo com o Manual de Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento de CID-10 (WHO, 1993), “os transtornos esquizofrênicos são caracterizados, em geral, por distorções fundamentais e características do pensamento e da percepção e por afeto inadequado ou embotado” (p. 85). Inicia-se, normalmente, na idade de 20 anos tanto para homens como para mulheres, tendendo a ser mais precoce para o gênero masculino que para o feminino (DSM-IV - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 1995).
 
A prevalência desse transtorno nas populações mundiais é entre 0,2% e 2,0% (DSM-IV - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 1995). A prevalência de todos os tipos de transtornos psicóticos, que inclui a esquizofrenia, obteve uma percentual de 2,4%, 0,3% e 0,9% em Porto Alegre, Brasília e São Paulo, respectivamente (ALMEIDA-FILHO et al., 1997).
 
Transtorno obsessivo-compulsivo
 
Segundo o Manual de Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento de CID-10 (WHO, 1993), o transtorno obsessivo-compulsivo é caracterizado por “pensamentos obsessivos ou atos compulsivos recorrentes” (p. 140). A prevalência é similar para o gênero masculino e feminino e, normalmente, inicia-se na adolescência ou no começo da vida adulta, podendo também iniciar-se na infância (WHO, 1993).
 
A prevalência nas populações mundiais foi estimada entre 1,5% e 2,1%. A prevalência encontrada de transtorno obsessivo-compulsivo em Porto Alegre e Brasília foi de 2,1% e 0,7%, respectivamente (ALMEIDA-FILHO et al., 1997).
 
SUGESTÕES DE SUPLEMENTOS ALIMENTARES
 
As sugestões de suplementos alimentares encontram-se na tabela abaixo, conforme estudo de Lakhan e Vieira (2008). As causas propostas dizem respeito a deficiências de substâncias alimentares verificadas nos estudos analisados pelos autores, associadas aos transtornos mentais analisados. A partir dessas deficiências, foram administrados suplementos alimentares que auxiliaram significativamente na diminuição dos sintomas relacionados a cada transtorno mental em boa parte das populações estudadas (mais de 50%).
 
Tabela 1: Transtornos mentais, causas propostas e suplementos alimentares
 
Nota: SAM, S-adenosilmetionina. GABA, ácido gama-aminobutírico.
Fonte: Lakhan e Vieira, 2008.
 
Embora o extrato de hipérico fosse acrescentado no estudo de Lakhan e Vieira (2008) como complemento do tratamento do transtorno obsessivo-compulsivo, este não é um suplemento alimentar. É um extrato retirado de uma planta (família Hypericaceae), disponível comercialmente, cujo componente principal é a hipericina. Em estudos (FAVA et al., 2005; SZEGEDI et al., 2005), essa substância mostrou aliviar os pensamentos recorrentes e sintomas compulsivos respectivos ao transtorno obsessivo-compulsivo bem como depressões moderadas. De acordo com Diniz et al. (2007), o interesse por estudos com essa planta aumentou nos últimos anos devido às suas propriedades antiviral, antidepressiva e moduladora da morte celular (apoptose) em células cancerígenas (neoplásicas). Contudo, alguns estudos revelaram alguns efeitos colaterais dessa medicação (CORDEIRO et al., 2005; SANTOS-FILHO e BERNARDO-FILHO, 2005).
 
Ademais, as medicações fitoterápicas necessitam de controle rigoroso de qualidade em todo o seu processo de plantio, produção, manipulação e armazenamento para que apresentem uma qualidade adequada e surtam os efeitos desejáveis, o que nem sempre pode ocorrer (DINIZ et al., 2007). A qualidade de amostras de extrato de hipérico, coletadas de laboratórios que comercializam essa substância no Brasil, revelaram-se 100% em desacordo com as quantidades de hipericina e outros componentes estipulados pela Anvisa, por meio da Resolução RDC 89/2004 (BRASIL, 2004), apresentando uma subdosagem, o que pode reduzir a sua eficácia clínica (BARA et al., 2006; RIBEIRO et al., 2005).
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
 
Levando em conta que a prevalência de sintomas de transtornos psiquiátricos é alta no Brasil, especialmente, em algumas capitais, tal como em Porto Alegre-RS, sugestões de suplementações alimentares que possam auxiliar na redução desses sintomas são de especial importância. Como comentado, nem todos os casos podem ser satisfatoriamente atendidos apenas com medicações tradicionais.
 
A suplementação alimentar, desde que devidamente administrada a cada caso, deve ser avaliada como um tratamento coadjuvante especificamente pelas equipes médicas que apresentam a missão de enfocar o paciente em todas as suas necessidades e garantir sua qualidade de vida integral. Também vale lembrar da importância de recomendações de uma alimentação saudável aos pacientes, bem como as populações serem alertadas continuamente que uma alimentação insatisfatória está associada a quadros de transtornos mentais.
 
No caso dos fitoterápicos, a questão torna-se bastante delicada, pois, nem sempre o processo de qualidade parece ser inteiramente respeitado no Brasil, o que pode prejudicar a sua ação. Como qualquer medicação, os fitoterápicos também apresentam reações adversas que dependem de cada organismo. Por isso, sua administração deve ser cuidadosamente acompanhada pelo médico responsável. De modo algum essas substâncias devem substituir as medicações psiquiátricas tradicionalmente utilizadas. O uso de fitoterápicos, como medicação psiquiátrica, deve ser restrita a casos específicos que não responderam bem a medicações tradicionais, desde que o controle de qualidade possa ser garantido.
 
Referências
 
ALMEIDA-FILHO, et al. Brazilian multicentric study of psychiatric morbidity. Methodological features and prevalence estimates. The British Journal of Psychiatry, v. 171, n. 6, p. 524-529, 1997.
 
BARA, M. T. F. et al. Determinação do teor de princípios ativos em matérias-primas vegetais. Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 16, n. 2, p.  211-215, abr.-jun. 2006. Disponível em: www.scielo.br/pdf/acb/v20s1/25572.pdf. Acesso em 28 jan. 2009.
 
BRASIL (Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Resolução – RE nº 89, de 16 de março de 2004. Lista de Registro Simplificado de Fitoterápicos. Brasília, 2004.
 
CORDEIRO, C. H. G.; CHUNG, M. C.; SACRAMENTO, L. V. S. Interações medicamentosas de fi toterápicos e fármacos: Hypericum perforatum e Piper methysticum. Revista Brasileira de Farmacognosia, v.15, p. 272-278, 2005. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-695X2005000300019&script=sci_arttext. Acesso em: 23.01.2009.
 
DINIZ, A. C. B.; ASTARITA, L. V.; SANTAREM, E. R. Alteração dos metabólitos secundários em plantas de Hypericum perforatum L. (Hypericaceae) submetidas à secagem e ao congelamento.Acta Botânica Brasileira, v. 21,  n. 2, p. 442-450, jun. 2007.   Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-33062007000200017&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 26  jan.  2009.
 
DSM-IV - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
 
FAVA, M. et al. A double-blind, randomized trial of St. John's wort, fluoxetine, and placebo in major depressive disorder. Journal Clinical Psychopharmacology, v. 25, n. 5, p. 441-447, 2005.

GAZALLE, et al. Sintomas depressivos e fatores associados em população idosa no Sul do Brasil.Revista de Saúde Pública, v. 38, n. 3, p. 365-371, 2004. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-89102004000300005&script=sci_arttext. Acesso em: 22 jan. 2009.

LAKHAN, S. E.; VIEIRA, K. F.  Nutritional therapies for mental disorders. Nutrition Journal, v. 7, n. 1, p. 1-8, 2008. Disponível em: www.nutritionj.com/content/7/1/2. Acesso em: 21 jan. 2009.
 
LIMA, M. S.; TASSI, J.; NOVO, I. P. Epidemiologia do transtorno bipolar / Epidemiology of bipolar disorders. Revista de Psiquiatria Clínica (São Paulo), v. 32, supl.1, p. 15-20, 2005. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-60832005000700003. Acesso em: 22 jan. 2009.
 
MELLO, V. A.; MALBERGIER, A. Depressão em mulheres infectadas pelo HIV. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 28, n. 1, p. 10-17, 2006. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462001000300009. Acesso em: 22 jan. 2009.
 
MORAES, I. G. S. et al. Prevalência da depressão pós-parto e fatores associados. Revista Saúde Pública, v. 40, n. 1, p. 65-70, 2006. Disponível em: artigocientifico.uol.com.br/uploads/artc_1140635061_97.pdf. Acesso em: 22.01.2009.
 
MORENO, D. H. Prevalência e características do espectro bipolar em amostra populacional definida da cidade de São Paulo. São Paulo: USP, 2004. Tese (Doutorado em Medicina), Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, 2004.
 
RIBEIRO, et al. Controle de qualidade fisico-químico de matérias-primas vegetais. Revista Eletrônica de Farmácia, v. 2, n. 2, p. 176-179, 2005. Disponível em: www.farmacia.ufg.br/revista/_pdf/vol2_2_supl/resumos/ref_v2_2_supl-2005_p176-179%20Ribeiro.pdf. Acesso em: 26  jan.  2009.
 
SANTOS-FILHO, S. D.; BERNARDO-FILHO, M. Efeito de um extrato de Hipérico (Hypericum perforatum) na marcação in vitro de elementos sangüíneos com tecnécio-99m e na biodisponibilidade do radiofármaco pertecnetato de sódio em ratos Wistar.Acta Cirúrgica Brasileira, v. 20, suppl. 1, p. 76-80, 2005. Disponível em: www.scielo.br/pdf/acb/v20s1/25572.pdf. Acesso em: 26 jan. 2009.
 
SZEGEDI, A. et al. Acute treatment of moderate to severe depression with hypericum extract WS 5570 (St John's wort): randomised controlled double blind non-inferiority trial versus paroxetine. British Medical Journal, v. 330, n. 7494, p. 759, 2005.
 
TENG, C. T.; HUMES, E. C.; DEMETRIO, F. N. Depressão e comorbidades clínicas. Revista de Psiquiatria Clínica, v. 32, n. 3, p. 149-159, 2005. Disponível em: urutu.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol32/n3/149.html. Acesso em: 22 jan. 2009.
 
WHO (Manual de Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento de CID-10, 1993.

Autor: Marli Appel - Equipe Sis.Saúde
Fonte: Vide referências

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