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Tratamento integrativo para a demência
 
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07/10/2009

Tratamento integrativo para a demência

Benefícios da abordagem

Neste estudo, objetivamos avaliar um tipo de tratamento integrativo para a demência na terceira idade. Com base em outros estudos, pretendemos identificar os fatores que levaram ao tratamento avaliado a ter sucesso na estabilização e diminuição das perdas cognitivas específicas da demência.
 
Como envelhecimento da população, a demência passou a ser um problema sério de saúde pública (CHARCHAT-FICHMAN et al., 2005). A prevalência dessa patologia é estimada em 5% para as pessoas acima de 65 anos e mais de 20% para as acima de 80 anos de idade (BRAGIN et al., 2005). No Brasil, o estudo de Herrera Jr. et al. (2002) demonstrou que a prevalência dessa doença tendeu a aumentar após 65 anos e a dobrar a cada cinco anos posteriores.
 
A demência é um termo geral para várias doenças neurodegenerativas que afetam principalmente as pessoas da terceira idade. Essa patologia pode ser descrita como um quadro clínico de declínio geral na cognição como também um prejuízo progressivo funcional, social e profissional. As demências podem incluir: o Mal de Alzheimer, a demência vascular, a demência com corpos de Lewy, a demência fronto-temporal e a demência de Korsakoff, entre outras (BASIT et al., 2009).
 
O tratamento integrativo que pretendemos avaliar foi proposto no estudo de Bragin et al. (2005). A amostra do estudo foi formada por 35 pacientes (20 do gênero masculino, 15 do feminino) com uma idade média de 71,05 anos, diagnosticados com demência moderada e depressão. O tratamento proposto pelos autores incluiu: antidepressivos (sertralina, citalopram ou venlafaxina XR, apenas ou em combinação com bupropiona XR), inibidores de colinesterase (donepezil, rivastigmine ou galantamine), como também vitaminas e suplementos (multivitaminas, vitamina E, ácido alfa lipóico, omega-3 e coenzima Q-10). As pessoas participantes do estudo foram encorajadas a modificar a sua dieta e estilo de vida bem como a executarem exercícios físicos moderados. Os resultados do estudo demonstraram que a abordagem integrativa não apenas diminuiu o declínio cognitivo em 24 meses, mas até mesmo melhorou a cognição, especialmente a memória e as funções executivas (planejamento e pensamento abstrato).
 
Atualmente, o principal tratamento oferecido para as demências baseia-se nas medicações inibidoras da colinesterase (donepezil, rivastigmina ou galantamina), que oferecem relativa ajuda na perda cognitiva, característica das demências, porém, com uma melhora muito pequena (HOLMES, 2008; KATZ, e PETERS, 2008). Nesse sentido, a melhora das funções cognitivas verificadas no estudo avaliado não pode ser relacionada apenas a esse tipo de medicação.
 
Embora os pacientes do estudo avaliado evidenciassem um quadro de demência moderada e depressão, pesquisa de Kessing et al. (no prelo) demonstrou que o uso de antidepressivos em longo prazo, em pessoas com demência sem um quadro de depressão, diminuiu a taxa de demência e minimizou as perdas cognitivas associadas, sem, no entanto, ter reduzido tais perdas totalmente. Esse estudo também identificou que os antidepressivos utilizados em curto prazo geraram mais prejuízos às funções cognitivas em pessoas com demência. Portanto, apenas o uso de antidepressivos em longo prazo foi que surtiu um efeito protetivo.
 
Desse modo, podemos considerar que os antidepressivos usados em longo prazo, além de tratarem os quadros de depressão, que podem estar associados aos quadros de demência, são benéficos para o tratamento desta patologia. Alguns estudos revelaram que os antidepressivos podem ter efeitos neuroprotetivos, aumentando o nascimento e permitindo a sobrevivência de neurônios nas zonas do hipocampo (parte do cérebro relacionada principalmente à memória) (MOWLA et al., 2007; SCHMITT et al., 2006). Contudo, o uso apenas de antidepressivos não é suficiente para uma melhora acentuada das perdas cognitivas da demência.
 
Em questão aos exercícios físicos, segundo Pérez e Carral (2008), estes apresentam um potencial de melhorar a plasticidade do cérebro, reduzindo as perdas cognitivas ou minimizando o curso progressivo da demência. A importância dos exercícios físicos no tratamento da demência pode ser apoiada por outros estudos (CHEN et al., 2008; COTMAN e BERCHTOLD, 2007; GARZA et al., 2004; LANGE-ASSCHENFELDT e KOJDA, 2008).
 
Uma dieta funcional e exercícios físicos associados também demonstaram serem protetivos para o desenvolvimento da demência bem como para diminuir o curso progressivo dessa patologia (FERRARI, 2007; NASH, 2007). Não obstante, pessoas com tendência a demência que utilizaram vitaminas antioxidantes (vitamina e C e E, por exemplo) apresentaram menor perda cognitiva que pessoas que não utilizaram tal recurso (CHERUBINI et al., 2005; FOTUHI et al., 2008; NASH, 2007).
 
Ademais, Shatenstein et al. (2007) identificaram que pessoas com demência tenderam a ter uma alimentação mais pobre em macronutrientes, cálcio, ferro, zinco, vitamina K, vitamina A e ácidos gordurosos. O que pode acentuar o curso degenerativo da doença. Aspecto que justifica a ministração de suplementos alimentares para essa população, devido à dificuldade de se alimentar, um dos sintomas que tendem a fazer parte do quadro de demência.
 
Em relação ao ácido alfa lipóico e à coenzima Q10, potentes antioxidantes cerebrais, ou seja, redutores dos radicais livres, existem evidências em estudos que essas substâncias também contribuem significativamente para a redução da progressão das perdas cognitivas em pessoas com demência, além de serem agentes protetivos. Tais substâncias são produzidas naturalmente pelo organismo, reduzindo sua produção com a idade (HARGREAVES et al. 2008; HOLMQUIST et al., 2007; MACZUREK et al., 2008; PIECZENIK e NEUSTADT, 2007; RUIZ-JIMÉNEZ, J. et al., 2007).
 
Uma vida com compromissos e ativa também revelou melhorar as perdas cognitivas em demências mais moderadas (STINE-MORROW et al., 2008). O uso do fumo também pode vulnerabilizar as pessoas para a demência (LETENNEUR et al., 2004; ROCHE, 2008). Desse modo, a mudança do estilo de vida é um fator fundamental para minimizar o curso das perdas evidenciadas na demência.
 
Portanto, podemos observar que, no estudo de Bragin et al. (2005), foram utilizados como tratamento da demência vários recursos disponíveis para tanto. Ocorreu uma melhora significativa em funções cognitivas importantes, prejudicadas pela demência moderada.
 
Assim, o diagnóstico precoce da demência é um aspecto importante para que os tratamentos existentes possam diminuir a progressão das perdas cognitivas, funcionais, sociais e profissionais em pessoas com essa patologia. Conforme demonstrou o estudo de Bragin et al. (2005), o tratamento deve ser integrativo, envolvendo uma equipe multidiscliplinar, com medicações específicas e suplementação alimentar, além de uma mudança do estilo de vida que inclui exercícios físicos moderados, cessação do uso do fumo, uma alimentação adequada e uma vida com o máximo possível de atividades.
 
Uma abordagem integrativa pode reduzir o curso das perdas cognitivas da demência, porém, ainda não existem tratamentos que possam “curar” integralmente essa patologia. Assim, a prevenção ao longo da vida é o melhor recurso existente. É importante durante a vida manter uma alimentação saudável e exercícios físicos regulares; bem como, na aposentadoria, torna-se imprescindível manter um estilo de vida ativo.
 
O Ministério da Saúde em parceria com o Ministério da Educação, a partir do decreto presidencial nº 6.286, de 5 de dezembro de 2007, vem desenvolvendo o programa Saúde na Escola com a visão de que os cuidados com a saúde começam na infância. Nesse programa, estão inclusos os cuidados com a alimentação e com os exercícios físicos regulares. O Ministério da Saúde é responsável pelo repasse de verbas às escolas locais; e o Ministério da Educação, pelos materiais educativos.
 
Essas ações governamentais são de especial importância, tendo em vista que a saúde é um recurso a ser preservado ao longo da vida para redundar em uma posteridade mais saudável. Contudo, acreditamos que tanto as esferas públicas como as privadas devem se engajar em programas preventivos e de saúde integral em prol da população. Os investimentos nesses programas serão bem menores que os custos financeiros com o tratamento da demência na terceira idade, já que essa patologia, com as perdas progressivas respectivas, acompanham as pessoas por mais de uma década de vida (MANCKOUNDIA e PFITZENMEYER, 2008). Nesse sentido, tais programas devem educar as pessoas em todas as faixas etárias, especialmente na infância; bem como as pessoas que estão ingressando na terceira idade devem ser alertadas para a necessidade de manterem um estilo de vida saudável.
 
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Referências
 
BASIT, R.; NERIMAN, D.; HOWLETT, D. C. Imaging in the evaluation of dementia. The Foundation Years, v. 5, n. 1, p. 34-36, fev. 2009.
 
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BRASIL. Orientações sobre o Programa Saúde na Escola para a elaboração dos Projetos Locais. Brasília:Ministério da Saúde e Ministério da Educação, 2007.
 
CHARCHAT-FICHMAN, H. et al. Declínio da capacidade cognitiva durante o envelhecimento. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 27, n. 1, p. 79-82, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbp/v27n1/23718.pdf. Acesso em: 04 fev. 2009.
 
CHEN, K. et al. The effects of a Simplified Tai-Chi Exercise Program (STEP) on the physical health of older adults living in long-term care facilities: A single group design with multiple time points. International Journal of Nursing Studies, v. 45, n. 4, p. 501-507, abr. 2008.
 
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Autor: Marli Appel - Equipe SIS.SAÚDE
Fonte: Vide referências

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