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Superproteção
 
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22/04/2010

Superproteção

Como lidar com essa questão?

“A superproteção por parte dos pais pode ser entendida como um sentimento constante de que os filhos jamais estão preparados, ou seja, são incapazes de lidar com os ‘perigos’ do mundo fora de casa”, explica Guilherme Vanoni Polanczyk, psiquiatria especialista em infância e adolescência e pesquisador ligado ao Instituto de Psiquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Até certo ponto, diz o psiquiatra, os medos dos pais são reais: a violência, as drogas e as situações de risco realmente estão presentes no dia a dia, especialmente em grandes centros urbanos, como São Paulo. E a transição da infância para a adolescência é bastante confusa para os pais. Afinal, até que ponto aquelas crianças que brincavam no quintal de casa estão crescidas o suficiente e preparadas para lidar com situações diversas, que envolvem escolhas e opções cujos resultados podem ser danosos para sua saúde física e mental?

Adolescência é fase dinâmica e os pais precisam acompanhar

“Muitos pais acabam, em determinado momento, perdendo o laço com os filhos. O trabalho, o estresse, a correria diária os afastam da convivência familiar. E se isso acontece nesse período entre os 13 e 14 anos – quando as crianças começam a requerer maior liberdade de escolhas – o estranhamento pode levar à superproteção”, diz Polanczyk.

Quando essa fase começa, a interação se torna mais dinâmica ainda e os limites precisam ser avaliados constantemente. Da parte dos pais há um investimento emocional – que envolve cuidados, preocupação, escolhas – muito grande. E essa atenção começa a ser relativizada pelos adolescentes, que iniciaram a procura pela própria identidade, começam a testar o poder de decisão e mesmo a argumentação lógica. Nesse ponto, não há mais volta: meninos e meninas estão a caminho de se tornarem homens e mulheres.

Ter contato com o “mundo exterior”, ou seja, fora do núcleo familiar protegido pelos olhos dos pais e cuidadores, faz que esses jovens e adolescentes comecem a desenvolver suas habilidades sociais, suas percepções e a manejar suas decisões, pesando prós e contras e tentando vislumbrar o custo – emocional, por exemplo – de duas opções.

“Os pais que conhecem os próprios filhos têm uma melhor noção do quanto eles conseguem assumir e gerenciar os riscos. E isso – assumir riscos – faz parte do processo de aprendizado”, pontua Polanczyk.

Superproteção

Mas se os pais não vislumbram esse processo de emancipação podem acabar ficando apreensivos. E a realidade – que pode ser realmente violenta, mas eventualmente e em certos níveis – pode ser vista de forma fantasiosa – a violência é “sempre” presente, o perigo é “constante” – e isso leva à superproteção.

“Esses pais podem não ampliar os limites dos filhos. A ‘balada’ é proibida, só pode ir ao shopping – ambiente controlado pela segurança – por exemplo. Nada pode ser feito à noite, tudo à luz do dia ou dentro de casa. Até certa idade isso não é atípico, mas se isso persistir, a vida do jovem fica complicada”, observa o especialista. O pior é quando essas limitações começam a envolver intromissão na privacidade dos adolescentes.

Outra questão é quanto ao uso da internet. A partir do momento em que a vivência real é cerceada, muitos jovens recorrem à internet para ter alguma liberdade. Nesse espaço, a invasão dos pais é menor. Em compensação, a maturidade da vivência social pode não florescer tão harmoniosamente quanto aquela que é permeada pelo contato pessoal.

Reação dos filhos

Na outra ponta da questão está a reação dos filhos, o quanto eles suportarão os limites impostos pela superproteção. “Basicamente as reações podem tomar três caminhos distintos, mas isso não quer dizer que não há outras formas de respostas a essa superproteção”, explica o psiquiatra. “Primeiro é confronto direto, o rompimento brusco com os pais, que leva a discussões acaloradas. Alguns pais podem se tornar mais flexíveis com o tempo, mas se isso não acontecer, o atrito dentro da família vai se tornando insuportável e pode haver um distanciamento entre pais e filhos.”

Alguns jovens podem evitar o confronto direto, mas se posicionam contrários a toda e qualquer regra. E, ao evitarem dar ouvidos às opiniões dos familiares – muitas vezes preferindo as intervenções dos amigos da mesma idade –, podem acabar respondendo de forma menos assertiva a determinadas situações. Nesse caso, o comportamento de risco se acentua. O abuso de álcool e drogas, por exemplo, é uma possibilidade. Brigas, direção perigosa, sexo arriscado, também são outros exemplos desse tipo de comportamento.

Uma terceira possibilidade é a aceitação da situação imposta pelos pais. “Ele pode achar que realmente não consegue decidir nada sem a ajuda dos pais. Aceita esse comportamento e não se arrisca. Acaba não conseguindo ter vivências sociais e desenvolve formas de lidar com os problemas. Essa superproteção poda as vivências dos filhos”, diz o especialista.

Preparação e flexibilização

Polanczyk diz que os pais precisam ter em mente essa preparação para lidar com a flexibilização dos limites impostos aos filhos. O processo de revisão de regras e construção de concessões é algo que, a partir do final da infância, deve ser constante. Além disso, esses pais também precisam relativizar suas fantasias sobre os reais riscos da vivência real, fora de casa.

“As mães, especialmente, têm de estar mais preparadas. Elas normalmente são mais ligadas aos filhos, por diversas razões, e têm maior dificuldade em deixar que esses limites se ampliem. E os filhos também têm de procurar trabalhar suas autonomias, se posicionar diante do problema e enfrentar a situação de forma consistente. Demonstrar que se está preparado para lidar com novos problemas e ganhar a confiança dos pais é o caminho natural”, finaliza Guilherme Polanczyk.


Autor: Enio Rodrigo
Fonte: O que eu tenho?

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