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Papiloma vírus e riscos à saúde
 
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01/10/2009

Papiloma vírus e riscos à saúde

Conheça mais a respeito

Introdução
 
O vírus popularmente conhecido como HPV (papiloma vírus) é pertencente à família Papovaviridae. Sua transmissão ocorre por vias sexuais; e manifesta-se, geralmente, na pele e mucosas genitais (a chamada “crista de galo”). Está presente em ambos os sexos e sua prevalência é alta.  Estima-se que cerca de 20% da população sexualmente ativa esteja infectada (BASEMAN e KOUTSKY, 2005) e são conhecidos mais de 120 tipos de HPV.
 
A contaminação com o vírus ocorre de forma predominantemente sexual, associando-se também ao consumo de drogas. A maior incidência é em mulheres jovens (até 25 anos), pois, diminui com o passar da idade (HERRERO et al., 2000). Além disso, estudos indicam que, quanto maior a idade do parceiro do sexo masculino, maiores são as chances de contaminação para a mulher (BASEMAN e KOUTSKY, 2005).
 
Embora alguns casos se manifestem de modo benigno, por meio de verrugas que não causam maiores complicações clínicas, existem casos de agravamentos que progridem em óbito. Dessa forma, é de relevância e pertinência a discussão deste tema, que engloba não somente a saúde da mulher, mas temáticas que perpassam tópicos de educação sexual e comportamentos de risco.
 
Para entender melhor
 
Os dados epidemiológicos sobre a prevalência do vírus HPV são escassos no Brasil e no Mercosul. Estudos indicam que as variações entre populações são grandes, entre 1,4% de prevalência em mulheres espanholas até 25,6% em países como Nigéria (BEUTNER e TYRING, 1997).
 
Sabe-se que as taxas de transmissão do vírus são muito altas, pois, ocorrem majoritariamente via sexual e mesmo os preservativos não são suficientes para impedir a infecção. A doença é tão prevalente que 80% da população, em média, tende a apresentar alguma experiência ao longo da vida com o HPV (BURCHELL et al., 2006).
 
Estudos indicam forte associação do HPV de alto risco com as neoplasias intra-epiteliais cervicais (TULIO et al., 2007), o câncer cervical invasivo (RAMA et al., 2008; SCHIFFMANN e BRINTON, 1995) e outras doenças graves (INSINGA et al., 2005; KOUTSKY et al., 1988). Tal fato ocorre, em parte, em decorrência de que o organismo não consegue desenvolver anticorpos necessários ao combate do vírus.
 
Para o diagnóstico correto são sugeridos exames das verrugas genitais por meio de consulta aos profissionais capacitados, como urologistas, infectologistas, ginecologistas ou dermatologistas. Porém, nos casos mais graves ou quando manifestações externas não se fazem presentes, são necessários exames citopatológicos, como é o caso do preventivo papanicolau, bem como o emprego de técnicas de diagnóstico molecular.
 
Novos achados em pesquisas clínicas
 
Um estudo suíço recente (COTTIER et al., 2009) apontou para a importância da prevenção da doença. Nessa pesquisa, 169 mulheres foram avaliadas em relação aos riscos relativos a diferentes tipos do vírus HPV e foram distribuídas em três grupos: o primeiro, composto só por mulheres com o vírus HPV-16; o segundo, com mulheres com o vírus HPV-16 e outra variação de baixo risco; e o terceiro, com mulheres com o vírus HPV-16 e outra variação de alto risco. Os pesquisadores concluíram que as mulheres do grupo HPV-16 e outra variação de alto risco obtiveram maiores chances de evolução não benigna para outras patologias.
 
Na Espanha, pesquisadores buscaram investigar a relação do vírus HPV com a neoplasia do esôfago (JUNQUERA et al., 2009). A amostra foi constituída por 20 pessoas com tal diagnóstico. Foram examinadas mucosas normais e tumorais. Os resultados indicaram que mais da metade (54%) apresentava, no mínimo, uma variação do vírus HPV, mais incidente nas pessoas com carcinoma escamoso. Desse modo, há indícios de que o HPV serve como fator de risco para mais de uma patologia grave.
 
Estudo a ser publicado (VELÁZQUEZ-MÁRQUEZ et al., 2009) trouxe importante acréscimo ao conhecimento da prevalência da doença, bem como averiguou a associação entre os tipos mais graves de HPV com o câncer cervical. Os pesquisadores estudaram amostras de 326 mulheres mexicanas através do exame Papanicolau. 
 
Os resultados da pesquisa levaram ao grupo de pesquisadores a concluir que o HPV, de modo geral, é o agente causal diretamente relacionado ao maior número de mortes de mulheres mexicanas. Isto ocorre na medida em que o câncer cervical é o responsável pela maior parcela de óbitos femininos neste país, estritamente relacionado ao HPV, mais especificamente ao HPV do tipo 16. Esses achados corroboram com o estudo de Cottier e colaboradores (2009).
 
Contudo, já existe disponível no mercado vacinas para os dois tipos mais graves do HPV, que se associam ao câncer de colo do útero com maiores freqüências, que são o tipo 16 e 18. Essa vacina é considerada uma “revolução” em termos de prevenção do câncer. Desse modo, recomenda-se que as pessoas pertencentes ao grupo de risco busquem informações com profissionais capacitados com a finalidade de evitar maiores problemas em decorrência do HPV.
 
A Sociedade Brasileira de Imunizações recomenda a vacinação preferencialmente até os 26 anos, alegando que, neste período, há uma maior probabilidade de ainda não ocorrer o contato com o vírus. Em países como Itália (MENNINI et al, 2009), Suíça (SZUCS et al., 2008), Estados Unidos (ELBASHA et al., 2007), Espanha (CORTÉS-BORDOY et al., 2009) e Canadá (BRISSON et al., 2007), a vacina anti-HPV (aprovada em 2007 para o uso no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária  - Avisa) é compreendida como uma solução barata a eficaz na prevenção e promoção da saúde pública.
 
Discussão
 
Embora muitos casos não impliquem em maiores complicações clínicas, de acordo com o tipo do vírus que ocorre a contaminação, a comunidade científica faz um alerta no sentido de que o vírus HPV pode ser um “facilitador” de doenças mais graves em decorrência de alterações do poder imunológico do organismo.
 
Além disso, a distribuição da prevalência da doença segue um gráfico em “U”, ou seja, possui maior prevalência na idade jovem, existindo uma queda na idade adulta e ressurgindo após os 55 anos. As mulheres são particularmente as mais prejudicadas pelo vírus, que é associado a uma diversidade de cânceres específicos ao sexo feminino. Assim, iniciativas e estudos que investiguem as causas dessa distribuição e prevalência são válidos para que medidas terapêuticas e preventivas possam ser empregadas.
 
Referências
 
BASEMAN, J. G.; KOUTSKY, L. A. The epidemiology of human papillomavirus infections. Journal of Clinical Virology, v. 32, n. 1, p. S16-24,  mar. 2005.
 
BEUTNER, R.; TYRING, S. Human papillomavirus and human disease.The American Journal of Medicine, v. 102, n. 5A, p. 9-15, mai. 1997.
 
BRISSON, M. et al. Potential cost-effectiveness of prophylactic human papillomavirus vaccines in Canada. Vaccine, v. 25, n. 29, p. 5399–5408, jul. 2007.
 
BURCHELL, A. N. et al. Epidemiology and transmission dynamics of genital HPV infection. Vaccine, v. 24, n. 3, p. 52-61, ago. 2006.
 
CORTÉS-BORDOY, J. et al.Vacunas profilácticas frente al virus del papiloma humano: Documento de consenso 2008. SEMERGEN - Medicina de Familia, v. 35, n. 1, p. 20-28, jan. 2009.
 
ELBASHA, E. H; DASBACH, E. J.; INSINGA, R. Model for assessing human papillomavirus vaccination strategies. Emerging Infectious Diseases, v. 13, n. 12, p. 1958-1959, dez. 2007.
 
COTTIER, O. et al. Clinical follow-up of women infected with human papillomavirus-16, either alone or with other human papillomavirus types: identification of different risk groups. American Journal of Obstetrics and Gynecology, v. 200, n. 3, p. 286.e1-286.e6, mar. 2009.
 
INSINGA, R. P.; DASBACH, E. J.; ELBASHA, E. H. Assessing the annual economic burden of preventing and treating anogenital human papillomavirus-related disease in the US: analytic framework and review of the literature. Pharmacoeconomics, v. 23, p. 1107–1122, 2005.
 
JUNQUERA, F. S. et al. Alta prevalencia del Virus del Papiloma Humano en una población Española con neoplasia de esófago. Gastroeneterología y Hepatologia, v. 32, n. 3, p. 32, mar. 2009.
 
KOUTSKY, L. A.; GALLOWAY, D. A.; HOLMES, K. K. Epidemiology of genital human papillomavirus infection. Epidemiologic Reviews, v. 10, p. 122–163, 1988.
 
HERRERO, R. et al. Population based study of HPV infection and cervical neoplasia in rural Costa Rica. Journal of the National Cancer Institute, v. 92, n. 6, p. 64-74, mar. 2000.
 
MENNINI, P. et al. Health and economic impact associated with a quadrivalent HPV vaccine in Italy. Gynecologic Oncology, v. 112, n. 2, p. 370-376, fev. 2009.
 
RAMA, C. H. et al. Prevalência do HPV em mulheres rastreadas para o câncer cervical. Revista Saúde Pública, v. 42, n.1, p.123-130, 2008.
 
SCHIFFMANN, M. H.; BRINTON, L. A. The epidemiology of cervical carcinogenesis. Cancer, v. 76, p. 1888-901, 1995.
 
SZUCS, T. D. et al.  Cost-effectiveness analysis of adding a quadrivalent HPV vaccine to the cervical cancer screening programme in Switzerland. Current Medical Research and Opinion, v. 24, n. 5,  p. 1473–1483, mai. 2008.
 
TULIO, S. et al. Relação entre a carga viral de HPV oncogênico determinada pelo método de captura híbrida e o diagnóstico citológicode lesões de alto grau. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, v. 43, n.1, p. 31-35, fev. 2007.
 
VELÁZQUEZ-MÁRQUEZ, N. et al. Prevalence of human papillomavirus genotypes in women from a rural region of Puebla, Mexico. International Journal of Infectious Diseases, no prelo, 2009.

Autor: Guilherme Wendt - Equipe SIS.Saúde
Fonte: Vide referências

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