Ao lado dos transgênicos e da decodificação do genoma humano, a terapia com células-tronco tornou-se um dos temas mais debatidos da ciência mundial na última década. É, ao mesmo tempo, tida como revolucionária e salvação para todos os males, ou mesmo como anti-ética, por ter como uma de suas ferramentas células de embriões humanos.
O Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) promove, no dia 13, um simpósio para discutir o tema. Mais do que apresentar novidades científicas relacionadas ao assunto, o encontro tem como objetivo debater questões jurídicas, filosóficas e morais que permeiam a questão.
O simpósio Células tronco: potencialidades, implicações éticas e perspectivas na área da saúde é destinado a profissionais da saúde, estudantes de graduação e ao público geral que tenha interesse no tema.
Diálogo
O professor José Eduardo Krieger, organizador do encontro, explica que a criação de um simpósio com esse perfil se justifica pela necessidade de um aprofundamento das discussões sobre o assunto. O médico aponta que o boom das células-tronco teve início em 2001 – ou seja, há um intervalo de menos de uma década, tempo insuficiente para que a sociedade assimilasse todas os desdobramentos da novidade.
“Quando se lida com a vida humana, é preciso que sejam discutidos novos marcos regulatórios. Para que a comunidade científica saiba como proceder”, conta Krieger. Por isso que a programação do simpósio reúne especialistas de porte da área jurídica, como o ministro José Antonio Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o reitor da USP, João Grandino Rodas, ex-diretor da Faculdade de Direito (FD). “A presença de um ministro do Supremo é essencial para que o Tribunal saiba como os cientistas têm tratado a questão”, explica.
O médico conta que o fato da terapia com células-tronco ser uma questão relativamente nova tem feito com que a integração entre diferentes esferas do conhecimento seja cada vez mais relevante. “Para que um juiz tome alguma decisão sobre o assunto, ele precisa conhecer melhor o tema. O jornalista também tem que saber, para produzir melhor seus textos. E nós, da área científica, também temos que estar atentos aos conhecimentos dessas diferentes áreas”, explica. O jornalista Marcelo Leite, da Folha de S. Paulo, será um dos representantes da área de comunicação no encontro.
Ciência
Afinal, qual a verdadeira contribuição das células-tronco, em que elas podem acrescentar para a melhoria na qualidade de vida das pessoas? A resposta ainda está longe de ser definida de maneira precisa.
José Eduardo Krieger conta que, atualmente, a comunidade científica está em uma terceira etapa em relação às terapias com as células-tronco. A primeira, segundo o médico, foi a “inocente”, quando a potencialidade das células-tronco era tema de dúvidas; a segunda, foi uma que Krieger define como a “fase do ‘Ave!’”, numa referência à saudação típica aos imperadores romanos – ou seja, via-se as células-tronco como verdadeiras divindades, prontas para resolverem todos os males da humanidade, de problemas cardíacos até a cura da paralisia.
E a terceira, a atual, é a racional, quando a comunidade científica sabe que se trata de um material de imenso potencial, mas cuja aplicabilidade ainda não é sabida com toda a precisão.
Krieger destaca como relevante o fato do Brasil ser um dos países de maior destaque relacionados ao tema. Segundo o professor, as pesquisas aqui desenvolvidas estão em estágio similar às da Europa e Estados Unidos. Este é mais um motivo, de acordo com o médico, para que as discussões relacionadas aos aspectos jurídicos das células-tronco aqui estejam bem solidificadas: “ainda há, em alguns setores, um preconceito internacional que diz que o Brasil é um país do ‘vale-tudo’, sem muito respeito às normas. Precisamos nos mobilizar para que isso não aconteça no que se refere às células-tronco”, diz.
Serviço
O simpósio Células-tronco: potencialidades, implicações éticas e perspectivas na área da saúde acontece no dia 13, das 8 às 12 horas. O local é o Teatro Central da Faculdade de Medicina da USP - Av. Dr. Arnaldo, 455, Cerqueira César, São Paulo, próximo ao metrô Clínicas.
As inscrições são grautitas, mas devem ser feitas por antecedência pelo telefone (11) 3069-4442 ou email eventocelulatronco@hcnet.usp.br.