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Ausência paterna: é possível crescer ou viver sem um pai?
 
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02/09/2010

Ausência paterna: é possível crescer ou viver sem um pai?

Podemos notar que o estímulo dos pais em relação ao filho é uma questão muito importante para o desenvolvimento tanto do ponto de vista físico quanto emocional e social

O termo “ausência paterna” pode ser usado somente para pais que se preocupam mais com o trabalho e não dedicam tempo aos filhos ou também para pais que abandonam seus filhos?

Há diferença nos termos empregados, pois ausência paterna pode significar, por exemplo, além do que foi especificado na própria pergunta, como o companheiro que não dá apoio à mulher na época da gestação e no pós-parto. Ou ainda pode ser usado para aqueles pais (pais e mães) que não acompanham de perto e/ou afetivamente o desenvolvimento do filho, portanto, vale lembrar que essa ausência pode causar sérios prejuízos em seu desenvolvimento global.

Como a ausência paterna pode influenciar a vida do filho? Que lacunas se abrem por causa dessa ausência? Tanto reações boas quanto ruins.

Nós, enquanto espécie humana, somos seres completamente dependentes dos cuidados geralmente maternos, nos primeiros anos de vida. Um renomado pediatra e psicanalista – Spitz, um dos grandes estudiosos da relação mãe-bebê –, observou diversas doenças decorrentes tanto da ausência total da mãe na vida do bebê quanto de sua ausência parcial, ou mesmo quando os cuidados eram somente “eficientes”/“básicos” (troca de fraldas, alimentação, banho...), mas não afetivos. Podemos notar que o estímulo dos pais em relação ao filho é uma questão muito importante para o desenvolvimento tanto do ponto de vista físico quanto emocional e social, nunca se esquecendo de respeitar a faixa etária e o grau de desenvolvimento emocional em que a criança se encontra para que ela possa desenvolver do melhor modo possível suas habilidades naturais. Entretanto, há casos em que chamamos de “resilientes”, ou seja, aqueles indivíduos que – apesar de terem sido muitas vezes até maltratados ou mesmo abusados na infância – conseguem se desenvolver e dar andamento adequado aos diferentes setores da vida. Nesse caso, a “ausência” significaria mais “a presença” de alguém que realmente atrapalha ou atrapalhou a saúde da criança como um todo. Mas, pelo fato de a criança ter – constitucionalmente – uma condição mental/emocional que a faz lutar pela vida, consegue seguir adiante, apesar do que sofreu na infância e/ou adolescência, e dar um bom andamento às dificuldades da vida.

Há diferença entre ter a ausência do pai desde criança ou sofrê-la no período da adolescência? Por quê? E é possível notar o sofrimento da criança ou adolescente por esse motivo através de algum sintoma?

A diferença é que, quando o pai é ausente desde quando o filho é pequeno ou mesmo quando se trata de uma criança maior, essa fica sem parâmetro de modelo masculino, a não ser que alguém faça essa função (tio, avô, amigo da mãe, professor) para que a criança possa se identificar e fortalecer cada vez mais sua personalidade e seu caráter, independentemente se a criança é do sexo masculino ou feminino. Já na adolescência, também há prejuízo, mas, dependendo de como foi a fase da infância, esse prejuízo será maior ou menor. Provavelmente, uma das reações é de muita revolta, quando o adolescente passa a não aceitar novas amizades que a mãe faz, ou quando ele faz o que bem entende, passando por cima da “autoridade” da mãe. Outras vezes essa ausência pode ser percebida quando o rendimento acadêmico cai, ou quando o comportamento do filho muda de forma radical – se era comunicativo e passa a ser muito calado, se fica muito isolado... São importantes aspectos aos quais o pai ou a mãe (ou quem estiver com a criança ou o adolescente) devem ficar atentos e, se necessário, procurar ajuda de um profissional.

Em caso de separação ou falecimento dos pais, como proceder para evitar possíveis traumas?

Penso ser impossível evitar possíveis traumas em caso de morte, já que a perda de pessoas queridas e importantes já é um trauma em si e terá que ser elaborado pelo tempo que for necessário. Muitas vezes, quando a criança fica “paralisada” em seu desenvolvimento, é fundamental buscar ajuda profissional.

O que é interessante é – no caso de separação – os pais poderem contar aos filhos que não viverão mais juntos, mas que os amam e que sempre serão seus pais, porém, não amam um ao outro enquanto casal, homem e mulher, e isso não tem nada a ver com os filhos. É comum que as crianças se sintam culpadas e responsáveis pela separação dos pais, daí a importância de esclarecer e reafirmar o amor por eles e quão importante é o fato de os filhos poderem cuidar dos setores da vida que dizem respeito a eles e não que se ocupem dos problemas do casal.

Pais ou mães que assumem os dois papéis dentro de casa conseguem exercer a função 100%?

Não é viável – humanamente falando – que o pai ou a mãe consigam ocupar o lugar do outro. O mais saudável é que saibam e sintam a falta que um(a) companheiro(a) pode fazer em termos de parceria, de ajuda mútua, e buscar preencher o que é real e possível – dentro do que lhes cabe. Obviamente, as responsabilidades que normalmente são divididas em um casamento onde há amizade, respeito, união, entre outros, ficam redobradas quando somente um dos pais passa a ser o único cuidador.

Tios e avós podem ajudar na tentativa de busca por figura masculina na vida da criança?

Certamente que sim e eles têm um papel muito importante, pois a ligação afetiva – comumente – é forte. Sendo assim, essa ligação auxilia a criança a superar a ausência, seja do pai ou da mãe, embora ninguém, nunca, possa vir a ocupar o lugar que é somente dos pais.

Dra. Patricia V. Spada - CRP: 35169-6 - é psicóloga clínica com doutorado pelo Departamento de Pós-Graduação em Nutrição da UNIFESP/EPM. No Pós-Doutorado, atua em linha de pesquisa na área psicológica da alimentação/nutrição, principalmente nos seguintes temas: vínculo mãe-filho e obesidade infantil, bem como dinâmica familiar.


Autor: Dra. Patricia V. Spada
Fonte: Site Idmed

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