O tema qualificação profissional está em evidência há alguns meses, sendo, inclusive, parte das plataformas de governo na última campanha eleitoral. As apresentações e debates na sociedade sobre o assunto ratificam a preocupação pela falta de profissionais qualificados em número suficiente para atender ao firme e dinâmico crescimento da economia brasileira. Um exemplo de setor com esta carência é o de análises clínicas, no qual possuo vasta experiência.

Acredito que um bom recurso para a profissionalização seja a participação do universitário em programas internos desenvolvidos pela própria instituição de ensino e a procura por programas de estágio. Ao se envolver com as atividades diárias de um laboratório de análises clínicas o estudante adquire novos conhecimentos, tem uma visão mais ampla do mercado e complementa, com a prática, toda a teoria aprendida em sala de aula e nos laboratórios das universidades, que disponibilizam recursos e infra-estrutura. Este é o momento em que o universitário põe, de fato, a mão na massa. Por estas e por outras razões, hoje o estágio é considerado um processo de aprendizagem indispensável a um profissional que deseja estar preparado para enfrentar os desafios de uma carreira, principalmente na área da saúde, em que o processo é obrigatório, justamente por lidar com a vida dos pacientes.

Início de carreira não é uma fase fácil, principalmente aos profissionais da saúde. A tensa jornada de trabalho já começa no próprio programa de estágio, quando o aluno tem que estudar e, muitas vezes, trabalhar e conciliar seu período de estágio obrigatório. Mesmo com todo esforço e cansaço, a dedicação continua sendo cobrada, por se tratar de uma área que envolve procedimentos delicados.

Ressalto que, durante o estágio em laboratórios e hospitais, os supervisores devem avaliar o desempenho do universitário, seu comprometimento e também seu comportamento com o público. Cada detalhe é relevante para se definir um bom profissional, já que muitos jovens escolhem uma profissão nesta área por tratar-se de um mercado promissor e com boa remuneração, e não por se identificar com os valores éticos e humanos envolvidos. No caso do profissional de análises clínicas, a avaliação errada de um exame pode comprometer o resultado do diagnóstico e, consequentemente, a saúde do paciente. Cada tubo de sangue na mão de um analista, por exemplo, deve ser visto como uma vida! Jamais o profissional pode perder a essência do trabalho e processar a rotina atuando no piloto automático.

Outro ponto interessante a respeito do estágio é a possibilidade e satisfação que a empresa responsável pelo programa tem de acompanhar o crescimento profissional de cada jovem. Durante o estágio, é fundamental que o estudante atue em diversas áreas para aprimorar suas habilidades em diferentes atividades, desde a coleta até o diagnóstico final, além de adquirir mais conhecimento dos procedimentos e ter acesso ao funcionamento dos equipamentos e dos processos médicos e laboratoriais. Para mim, esse passo a passo deve incluir especialmente situações de urgência e emergência, por se tratar de um setor bastante delicado, que requer concentração, responsabilidade e habilidade. Tudo isso prepara o aluno para, depois de sua formação, fazer parte do quadro de colaboradores de pequenas a grandes empresas, um procedimento comum que muitas companhias adotam para manter um padrão de qualidade no atendimento, ou buscar novos talentos dentre os estagiários.

Além disso, investir sempre em treinamento, seja para estagiários ou funcionários, é importantíssimo. Não é raro encontrar profissionais que atuam em laboratórios há anos, mas que, no momento de um processo seletivo, são barrados por não conseguir cumprir um teste prático de microscopia, por exemplo. Muitas vezes, a deficiência no processo existe pela falta de orientação do profissional ou de oportunidade dele conviver com especialistas exigentes e desenvolver atividades em todas as áreas do laboratório.

Felizmente, já existem muitas empresas da área da saúde que adotam iniciativas em busca da qualificação de futuros profissionais, como fechar parcerias com universidades e com governos municipais e estaduais para oferecer espaço com equipamentos de última geração, além de vivência com especialistas qualificados e experiências reais de mercado para estudantes e pessoas formadas que precisam reciclar e ampliar seus conhecimentos. Afinal, a carga horária de estágio é obrigatória na grade acadêmica dos estudantes de enfermagem, medicina, farmácia, entre outras. A troca de experiência e o contato direto com as funções diárias e situações emergenciais agrega ainda mais na profissionalização.

Como empresário do setor e por já ter presenciado diversas situações delicadas em momentos emergenciais, já implantei um novo projeto de estágio e aprimoramento das atividades laboratoriais ao meu negócio para enriquecer a teoria e a prática de cada participante, gerar oportunidade de trabalho com remuneração compatível ao mercado, e, ainda, contribuir para a formação pessoal e profissional dos universitários. Acredito que iniciativas como essa podem melhorar e agilizar no atendimento, na realização do exame e no resultado do diagnóstico, principalmente, no setor de emergência de um Pronto Socorro, que atende uma grande demanda diariamente.

Por isso, cada vez mais as empresas, principalmente na área da saúde, devem implantar e aprimorar programas de estágio e trainee e as instituições de ensino, por sua vez, precisam incentivar e ajudar cada vez mais os estudantes a conseguirem oportunidades nos diversos setores de atuação, fazendo o papel de pontes entre o meio acadêmico e o mundo profissional. Apostar na juventude é investir no futuro.