Os avanços na área da nutrição hospitalar foram debatidos durante a I Jornada de Nutrição Hospitalar do Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (Sindihospa). O evento ocorreu na última sexta-feira (01), no Novotel Três Figueiras.
Estiveram presentes durante a abertura solene do evento o Sr. Mauro Stormovski, representando o Presidente do Sindihospa; a coordenadora do Comitê de Nutrição do Sindihospa e representante da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral, nutricionista Cláudia Balhesteiro Marchese; a presidente do Conselho Regional de Nutricionistas do Rio Grande do Sul, nutricionista Carmem Kieling Franco; e a presidente do Sindicato dos Nutricionistas do Rio Grande do Sul, nutricionista Maria Terezinha Oscar Govinatzki.
Mauro Stormovski lembrou que é preciso considerar a importância econômica que a ciência da nutrição representa nas instituições de saúde. “Dentro de uma cadeia de prestação de cuidados assistenciais, a área nutricional exerce um papel de destaque não somente por contribuir no reestabelecimento da saúde do indivíduo, mas por agregar valor no faturamento das instituições”, afirmou.
Após a abertura solene, iniciaram-se as atividades científicas da Jornada. Na parte da manhã, ocorreram três conferências, que abordaram temáticas relacionadas à importância da nutrição para a prevenção e tratamento das úlceras de pressão, assim como estratégias de aconselhamento na adesão nutricional e também o tema inovador da gastronomia hospitalar.
As úlceras de pressão são também conhecidas como úlceras de decúbito ou equivocadamente como escaras (evolução necrótica das mesmas), apresentando elevada prevalência em pacientes idosos, desnutridos, imobilizados e/ou acamados. A desnutrição compromete a síntese proteica e a capacidade de reparação tecidual. Conforme afirmou a nutricionista Cláudia Balhesteiro Marchese (Hospital Mãe de Deus), as úlceras de pressão estão relacionadas com incremento de mortalidade e aumento significativo dos custos hospitalares. Estudo realizado no Reino Unido demonstrou que as úlceras de pressão aumentaram o tempo de permanência hospitalar e relacionaram-se como principal fator de aumento de custos, representando gastos de £ 750 milhões/ano e adicionando custos na ordem de £ 6,9 milhões pela perda resultante da não disponibilidade de leito hospitalar para uso com outros pacientes, devido à permanência hospitalar de portadores de lesões relacionadas à desnutrição, que podem ser prevenidas e tratadas com uma adequada terapia nutricional, na qual é preciso atentar para a oferta proteico-calórica e hidratação do paciente. Marchese foi a palestrante da atividade intitulada “Úlceras de Pressão: Importância da Nutrição na Prevenção e Estratégia Terapêutica”.
Assim, durante a internação hospitalar, o paciente deve ser acompanhado por equipe interdisciplinar, que irá diagnosticar os diferentes estágios da lesão para que o nutricionista possa pautar-se nessa informação para o adequado planejamento das necessidades de macro e micronutrientes. “O profissional deve realizar avaliação nutricional para diagnosticar a presença ou o risco de desnutrição, na qual a avaliação subjetiva global representa importante metodologia a ser complementada com testes laboratoriais como dosagem de albumina e hemograma, pois a presença de anemia compromete a difusão tissular de oxigênio e nutrientes, comprometendo a cicatrização da lesão”, lembrou a especialista. Marchese destacou também que “é muito importante que a estratégia terapêutica indicada pelo profissional seja avaliada e supervisionada por equipes interdisciplinares”.
Na sequência, a nutricionista Simone Bernardes (Universidade FEEVALE) explicou a relação estabelecida entre os indivíduos com o alimento, considerando não apenas os aspectos comportamentais externos, mas também os mecanismos intrapsíquicos que motivam determinados padrões e hábitos alimentares, bem como suas influências sociais e culturais. A especialista proferiu a palestra intitulada “Estratégias de Aconselhamento para a adesão à Intervenção Nutricional”.
O aconselhamento nutricional consiste em um processo no qual os clientes são motivados para adoção de hábitos saudáveis e mudanças de estilo de vida. De acordo com Bernardes, os profissionais devem buscar compreender os inúmeros condicionantes comportamentais para uma atuação mais efetiva junto aos clientes. “Um dos exercícios mais importantes que precisamos desenvolver enquanto nutricionistas clínicos é a capacidade de escuta, compreensão e empatia”, lembrou.
Encerrando as atividades da manhã, a nutricionista Nathália Zakzuk (Hospital Santa Catarina) e o gastrônomo Fred França (Hospital Bruno Born) compartilharam experiências no tocante aos desafios da implementação e desenvolvimento da gastronomia hospitalar. Vislumbrada como importante tendência no mercado hospitalar como apoio para alcance de metas assistenciais e terapêuticas, a gastronomia hospitalar congrega a preservação das propriedades nutricionais dos alimentos, com aplicação da técnica dietética, segurança alimentar, aspectos organolépticos, como apresentação, sabor e aroma e a agilidade no preparo e distribuição dos pratos.
Zakzuk apresentou o tema sob a perspectiva do mercado privado, enquanto França expôs as particularidades no campo da saúde pública. Ambos relataram que o sucesso da gastronomia no ambiente hospitalar depende de uma ampla e coordenada reestruturação da cultura da instituição, com o foco na atratividade e qualidade da alimentação, contribuindo para aumento da segurança do paciente. “É preciso desenvolver novos fornecedores, treinar a equipe interna e compreender quais são as necessidades e desejos dos clientes”, destacou Fred França. Já Nathália Zakzuk lembrou que o alinhamento com o planejamento estratégico é fundamental para o sucesso do projeto de gastronomia hospitalar, uma vez que a contribuição do setor de nutrição e dietética frente aos objetivos da instituição ganha destaque a partir desta perspectiva.
Na parte da tarde, quatro atividades foram realizadas. A primeira palestra abordou a terapia nutricional no pós-operatório da cirurgia da obesidade e suas complicações tardias. De acordo com a consultora nutricional Luciana Coppini, existem três fases distintas que merecem atenção do profissional da nutrição em relação à cirurgia. A primeira fase é aquela que vai até o terceiro mês após a cirurgia, caracterizada por uma perda rápida de peso e evolução da dieta. A fase subsequente é caracterizada pelo ajustamento dietético, na qual são introduzidos novos grupos de alimentos e que dura, em média, dois anos e meio. Por fim, existe a terceira fase, período em que normalmente ocorre uma adaptação minimizando as intolerâncias, e, em paralelo, o paciente passa a aumentar gradativamente a ingestão alimentar. “Na última fase, há um risco significativo para reganho de peso, sendo que alguns pacientes recuperam todos os quilos perdidos com a cirurgia”, afirmou a nutricionista.
Do mesmo modo, a especialista salientou que o procedimento cirúrgico desencadeia uma série de alterações no organismo do paciente. As situações mais críticas e que merecem mais atenção são, na visão de Coppini, aquelas que envolvem pacientes adolescentes, gestantes, pessoas com baixa aderência ao uso de suplementos, pacientes hipereméticos, entre outros. Assim, é faz-se necessário acompanhamento nutricional contínuo para que os pacientes submetidos à cirurgia da obesidade não cursem com quadros de desnutrição e/ou voltem a patamares ponderais de obesidade novamente.
“Os Desafios para Certificações na Nutrição Hospitalar” foram abordados na sequência por parte das nutricionistas Helena Royer (Hospital Moinhos de Vento) e Daiane Galafassi (Hospital Pompéia). Royer focou sua comunicação destacando as particularidades da certificação Joint Commission International (JCI), enquanto Galafassi expôs sobre o case da Organização Nacional de Acreditação (ONA).
A integração entre pesquisa científica baseada em evidências e a prática clínica interdisciplinar foi o assunto abordado pela nutricionista Ana Harb, docente do curso de Nutrição da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Harb falou sobre “Nutrição Translacional”, que consiste em uma prática ancorada nas recentes descobertas e que contribui para uma compreensão mais apurada das relações entre genética, saúde e nutrição. Além disso, a especialista lembrou que a Nutrição Translacional visa aprimorar a longevidade e qualidade de vida das pessoas, “através do desenvolvimento e cooperação de equipes de cientistas que concentram esforços para associar as descobertas científicas com a prática de investigação clínica, traduzindo os resultados de ensaios clínicos em mudanças na prática cotidiana”.
Encerrando o evento, ocorreu a conferência sobre “Nutricosmética”, proferida pela nutricionista Aline Petter Schneider (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). A especialista enfatizou que “a busca por um corpo saudável e atraente se faz presente no dia a dia de grande parte dos brasileiros, das mais diversas idades e classes sociais”. Dessa maneira, o uso de suplementos nutricionais para a conquista desse objetivo vem ganhando força. Em sua comunicação, Schneider fez um apanhado dos últimos achados no campo da nutricosmética, expondo sobre as características de determinados produtos e respectivas indicações. Além disso, a nutricionista lembrou acerca dos cuidados em relação ao fotoenvelhecimento da pele e à ação dos radicais livres.
Confira as imagens:
Sobre o Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (Sindihospa) - O Sindihospa foi fundado em 12 de novembro de 1962, por proprietários de Hospitais, Clínicas, Casas de Saúde e similares. Apresenta como missão fortalecer os serviços de saúde de Porto Alegre, estimulando a sua competitividade e promovendo a livre iniciativa, a economia de mercado, a integração de empregados e o respeito aos princípios éticos, em cooperação com o governo e a sociedade, visando o desenvolvimento do setor de saúde. Atualmente, o Sindicato é presidido pelo Adm. Leomar Bammann (Hospital São Lucas da PUC), conta como Vice-Presidente o Adm. Alceu Alves da Silva (Sistema de Saúde Mãe de Deus). Acesse aqui o site do Sindihospa.
