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Os internautas perguntam: Enfim, pode-se ingerir adoçantes artificiais?

Muitos dos leitores do Sis.Saúde enviaram a questão: Enfim, pode-se ingerir adoçantes artificiais? E o que dizer dos refrigerantes Zero? O Sis.Saúde fez um levantamento de pesquisas a respeito e responde a essa questão.

Resposta do Sis.Saúde
 
A questão é de fato controversa! Porém, apenas podemos nos basear em estudos científicos para responder a essa questão. Para isso, fizemos uma análise dos estudos existentes sobre os adoçantes artificiais. A questão dos nossos leitores baseia-se principalmente em relação aos refrigerantes Zero, produto consumido por grande parte da população brasileira e mundial. Nesse produto são encontrados dois tipos de adoçantes artificiais: o ciclamato de sódio e o aspartame.
 
Em relação ao ciclamato de sódio, existem poucos estudos que analisaram essa substância e seus efeitos na saúde. Alguns desses estudos são antigos e datam dos anos 60 até os 80 e muitos foram realizados com animais. Alguns revelaram a possibilidade de danos à saúde, outros não.
 
É importante frisar que os poucos estudos antigos levaram a proibição do ciclamato de sódio nos Estados Unidos e Japão no final dos anos 60. A partir de então, raros estudos foram realizados, tendo em vista que os Estados Unidos são os principais financiadores de pesquisas científicas.
 
Como os métodos estatísticos em pesquisa evoluíram muito a partir dos anos 2000, é importante considerarmos, estão, os poucos estudos existentes a partir de então.
 
Um dos estudos mais recentes foi realizado por pesquisadores brasileiros em ratos (ARRUDA et al., 2003). Nesse estudo, foi identificada a possibilidade de câncer na bexiga com a aplicação de ciclamato de sódio em ratos.
 
Outro estudo foi realizado em seres humanos, na Argentina, em que os pesquisadores compararam pessoas com câncer de bexiga com pessoas sem essa patologia para verificar se haveria diferenças na ingestão de adoçantes artificiais entre os dois grupos (ANDREATTA et al., 2008). Esse estudo não discriminou, nos resultados, o tipo de adoçante artificial mais consumido ou primordialmente consumido. Provavelmente isso ocorreu porque o tamanho da amostra de pessoas com câncer (197 pessoas) não tenha permitido essa divisão. O que necessitaria de uma amostra maior, não disponível aos pesquisadores que realizaram o estudo com pacientes de um hospital na Argentina.
 
O estudo, avaliou, apenas o consumo de adoçantes de modo genérico. Contudo, os resultados desse estudo revelaram uma relação entre o uso regular desses adoçantes por dez anos ou mais e o câncer de bexiga. Mas, avaliando-se esse estudo, paira a pergunta: qual adoçante?
 
Buscando outros estudos para responder a essa questão, um estudo realizado em ratos, no ano de 2006, avaliou a resposta contrátil das paredes da bexiga em relação aos adoç antes acesulfame K, aspartame e sacarina sódica (DASGUPTA et al., 2006). Todos esses adoçantes, em especial a sacarina sódica, revelaram aumentar a resposta contrátil dos músculos da bexiga. Com esse resultado, o estudo sugeriu que, se houver uma equivalência entre o organismo de ratos e de seres humanos, esses adoçantes podem contribuir com a incontinência urinária se ingeridos regularmente.
 
Os estudos mais recentes passaram a ser realizados em relação ao aspartame, principalmente. Um recente estudo experimental observou que ratos fêmeas, alimentadas com uma dieta alta em aspartame, desenvolveram carcinomas renais e da uretra (SOFFRITTI et al., 2006). Nesse estudo, a proporção ingerida pelos animais, proporcional aos organismos, foi maior ao ingerido regularmente por humanos.
 
Outro estudo encontrado, avaliou a ação do aspartame no cérebro de ratos, em especial, na regulação da dopamina (neurotransmissor estimulante do sistema nervoso), indicando que, em grandes quantidades e em ratos, essa substância pode afetar o mecanismo da dopamina. Mas, os próprios autores colocaram que a quantidade administrada aos ratos foi maior que a usualmente consumida por humanos (BRIAN et al., 2007).
 
Esses dois estudos comentados, além de serem realizados com ratos, administrando-se altas doses de aspartame nesses animais, os seus resultados não foram replicados em outros estudos. Em pesquisa, um único estudo não é suficiente para se chegar a conclusões, os seus resultados tornam-se apenas “sugestões”. Para comprovar esses resultados, outros estudos devem ser realizados.
 
Ademais, a grande maioria dos estudos revela que o aspartame não faz mal à saúde humana se ingerido nas doses recomendadas, segundo o que foi apresentado na Primeira Conferência Européia sobre Aspartame, realizada no ano de 2006, em Paris (RENWICK e NORDMANN, 2007). De acordo com as conclusões obtidas nesse Congresso, a ingestão de aspartame por parte da maioria das pessoas é em torno de 10% das doses recomendadas. Também, conclui-se que existem evidências crescentes que até mesmo reduções modestas na ingestão de calorias podem reduzir os fatores de risco associados com várias doenças, como o diabetes e as doenças cardiovasculares.
 
Segundo ABEGAZ e BURSEY (2008), foi avaliada a segurança do aspartame em numerosas ocasiões através de diversas agências reguladoras, inclusive o U.S. Food and Drug Administration (FDA), o European Food Safety Authority (EFSA) e o Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives. Além disso, o aspartame foi aprovado através de agências reguladoras em mais de 100 países no mundo. 
 
Veja o que diz a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) acessando o link abaixo.
 
 
E o que dizer dos refrigerantes Zero?
 
Talvez essa seja a maior controvérsia no que tange ao assunto adoçantes artificiais! Não localizamos nenhum estudo que verificasse a associação dos dois tipos de adoçantes na saúde, seja a de animais ou humanos, por exemplo.
 
Os poucos estudos realizados com o ciclamato de sódio revelaram que essa substância pode fazer mal à saúde. Em relação ao aspartame, a maioria dos estudos demonstrou que não faz mal à saúde humana, só apenas alguns poucos estudos sugeriram a possibilidade de algum malefício.
 
Na verdade, nos defrontamos com a questão relativa à pesquisa. Essa área carece de pesquisas com respeito aos seres humanos.
 
Fica um desafio para os centros de pesquisa e hospitais-escola. Quem sabe, baseando-se no estudo argentino, verificar se há uma associação da ingestão de adoçantes em pessoas com câncer da bexiga. Para isso, vários centros teriam que se unirem para realizarem um grande levantamento, pois, tal tipo de pesquisa, para poder discriminar os tipos de adoçantes utilizados ou mesmo o uso de múltiplos adoçantes concomitantemente, necessitaria de uma significativa amostra.
 
Então, a controvérsia continua enquanto estudos com grandes populações não forem realizados.
 
Talvez, a regra prática que podemos utilizar em nosso dia-a-dia é a moderação.
 
 
Leia mais a respeito
 
 
 
 
 
 
 
 
Referências
 
ABEGAZ, E. G.; BURSEY, R. G. Response to “The effect of aspartame on the acetylcholinesterase activity in hippocampal homogenates of suckling rats” by Simintzi et al. Pharmacological Research, v. 57, n. 1, p. 87-88, jan. 2008.
 
ARRUDA, J. G. F.; MARTINS, A. T.; AZOUBEL, R. Ciclamato de sódio e rim fetal. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, v. 3, n. 2, p. 147-150, abr-jun. 2003
 
ANDREATTA, S. E. et al. Artificial sweetener consumption and urinary tract tumors in Cordoba, Argentina. Preventive Medicine, v. 47, n. 1, p. 136-139, jul. 2008.
 
BRIAN, P. et al.Aspartame decreases evoked extracellular dopamine levels in the rat brain: An in vivo voltammetry study. Neuropharmacology, v. 53, n. 8, p. 967-974, dez. 2007.
 
DASGUPTA, J. et al. Enhancement of rat bladder contraction by artificial sweeteners via increased extracellular Ca2+ influx. Toxicology and Applied Pharmacology, v. 217, n. 2, p. 216-224, dez. 2006.
 
SOFFRITTI, F. First experimental demonstration of the multipotential carcinogenic effects of aspartame administered in the feed to Sprague - Dawley rats, Environ. Health Persp., v. 114, p. 379-385, 2006.
 
RENWICK, A. G.; NORDMANN, H. First European conference on aspartame: Putting safety and benefits into perspective. Synopsis of presentations and conclusions. Food and Chemical Toxicology, v. 45, n. 7, p. 1308-1313, jul. 2007.
 

 


Autor: Marli Appel - Equipe SIS.Saúde
Fonte: Vide referências

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