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Quem nos ensinou a ser assim?

Depois de alguns anos recebendo presentes e beijos no Dia dos Pais, começamos a pensar no que nossos filhos pensam de nós.

Aí, reflito sobre o fato de que nossos filhos talvez sejam, das nossas pessoas mais queridas, as que menos nos conhecem; já que nos vemos e nos falamos pouco.

Tudo o que eles, em geral, sabem da gente, é que não temos medo de quase nada, sabemos um pouco sobre tudo, não somos tão tolerantes como a mãe e vivemos, na maior parte do tempo, sérios.

Sei de tudo isso, porque, como filho, também é assim que vejo o meu pai: nunca chora, nunca se queixa e nunca está em crise; por mais que o mundo lá fora o fustigue, que a vida o frustre, ou que os seus sonhos não se realizem.

Quem nos ensinou a ser assim? Por quê assumimos essa máscara de “fortaleza permanente” e privamos nossos próprios filhos de nos conhecerem melhor?

Será que assim é melhor prá eles ? A resposta, a princípio, é difícil.

Mas, como gostaria de ter conhecido o meu pai muito mais do que conheço e não vejo hoje muitas brechas para isso, penso que talvez não precise dessa forma.Até porque meus filhos podem sentir-se obrigados a corresponder a expectativas que pensam que tenho sobre eles – e isso pode ser pesado.

Então, se, por um lado, o papel de “rocha sólida” lá em casa é meu e não quero transferi-lo prá ninguém, por outro, quem sabe, eu poderia aos poucos ir me mostrando mais gente para os meus filhos. Assim eles saberiam que são filhos de um ser humano.

Você quer trilhar esse caminho comigo? Então vamos lá:

Que tal tirar imediatamente a roupa do trabalho quando chegamos em casa e, depois de um banho rápido, nos entrosarmos com a molecada naquilo que é importante nesse momento para eles?

Quem sabe, elogiar o penteadinho da sua filha e as bugigangas que a mãe dela comprou para orná-la? Brincar com a sua boneca predileta, admirar os detalhes do seu quarto e assistir um pouco de TV com ela?

E tentar jogar o vídeo game com o filhão, aprender a cumprimentá-lo daquele jeito esquisito que ele sabe, ou convidá-lo para ir à oficina buscar o carro?

Essas e tantas outras atitudes nos lembrarão que, primeiro somos pais e, depois, profissionais.E, a eles, mostrarão o quanto também somos desajeitados com muitas coisas, que não sabemos dizer direito a cor das cortinas; mas sabemos rir e perder, e que – como eles – temos ainda muito que aprender.

Claro que cada coisa tem de vir ao seu tempo. Mas eles têm de saber que também tínhamos nossos ídolos, nossos brinquedos, nossas dificuldades na escola, nossos medos.

Que já apanhamos na bunda, já levamos muitas justas broncas e que, mesmo assim, ainda reverenciamos o nosso pai – mesmo que velhinho, cheio das manias, intolerante com as músicas modernas e achando que tudo “no meu tempo” era melhor.

Não é fácil, eu sei, meu amigo. Mas dê aos seus filhos a chance de o conhecerem como os seus mais antigos amigos.

Se não o fizer, chegará o dia em que eles vão achar definitivamente que você é só o pai herói mesmo – importante, mas igual a tantos outros que existem por aí.

Psicoterapeuta Dr Alessandro Vianna - www.alessandrovianna.com.br


Autor: Alessandro Vianna
Fonte: AUSEPRESS

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