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Quem não tomou a primeira dose no início da vida deve recebê-la em idade escolar

As crianças que não receberam a BCG, vacina contra a tuberculose, nos primeiros meses de vida devem ser vacinadas durante a idade escolar, indica estudo realizado no Brasil por uma equipe de brasileiros com colaboração internacional e publicado em novembro na revista científica The Lancet Infectious Diseases. Para chegar a essa conclusão, o grupo de pesquisadores analisou os dados de um estudo que vem acompanhando uma população infantil por nove anos e comparou os custos de tratamento dos casos de tuberculose com o investimento em vacinar as crianças e a proteção que estas ganharam contra a doença.

Evidências internacionais mostravam que a primeira dose deveria ser aplicada na infância, mas não havia evidências claras da utilidade de uma primeira dose de BCG em uma idade mais avançada. “Demonstramos esse conceito que não estava claro na literatura”, diz o epidemiologista Mauricio Lima Barreto, um dos autores do estudo e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA). “Na África e na Ásia, muitas crianças podem se beneficiar com os resultados do trabalho. Lá nem todas tomam a vacina ao nascer”, diz Barreto. Essa é uma situação análoga à do Brasil na década de 1990, quando a pesquisa teve início. O próximo passo dos pesquisadores será tentar clarear um enigma: por que a eficácia da vacina é variável.

O efeito protetor da BCG contra a tuberculose infantil é sempre alto (acima de 90%), mas contra a tuberculose pulmonar – forma mais frequente em adolescentes e em adultos e com maior importância na transmissão da doença – a eficácia do BCG tem variado de 0% até 100%, com grande diferença entre países. No Brasil, há evidências de que a eficácia é mediana. “Existem várias hipóteses para compreender essas diferenças, mas nenhuma foi comprovada”, diz Barreto. A mais aceita, segundo o epidemiologista, propõe que uma série de outras micobactérias que não causam doença possam interferir no processo de imunidade ou mascarar o efeito da BCG.

“Estudamos essa questão. Existem indícios de que à medida que se aproxima do equador o efeito da vacina é menor, por ser um ambiente mais quente e úmido favorável às infecções pelas bactérias que interfeririam na imunidade”, conta o pesquisador. Essas relações ambientais gerariam um efeito sobre a BCG, mas falta a comprovação. Para isso, o grupo de pesquisadores está comparando o efeito da vacina na saúde das pessoas em Salvador e em Manaus. “O esclarecimento do por que da variação de eficácia pode ajudar a desenvolver vacinas mais eficazes”, acredita o epidemiologista.

Segundo Barreto, praticamente todos os brasileiros recém-nascidos recebem a dose da vacina BCG (Bacilo de Calmette-Guérin) contra a tuberculose. Ela faz parte do Calendário Básico de Vacinação da Criança e sua aplicação deve ser feita ao nascimento ou no primeiro mês de vida. Porém, na década de 1990, cerca de 15% das crianças chegavam à idade escolar sem a proteção contra a tuberculose no país.

Procurando verificar os efeitos da vacina BCG e da não-vacinação, a equipe de pesquisadores começou, então, a estudar um grupo de 300 mil crianças de Salvador e Manaus. Em 2005 (edição 117 de novembro), Pesquisa Fapesp noticiou o primeiro resultado desse grande estudo: a administração de uma segunda dose – recomendada pelo Ministério da Saúde em 1994 – não aumenta a proteção. “Nosso trabalho mudou a política de revacinação no Brasil, ela deixou de ser obrigatória”, conta Barreto. O atual estudo é um desdobramento do primeiro.


Autor: Isis Nóbile Diniz
Fonte: Pesquisa FAPESP Online

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