As doenças crônicas, de um modo geral, determinam varias categorias de experiências e é preciso estar preparado para enfrentá-las. No caso da Doença de Parkinson, própria de adultos, usualmente acima dos 50 anos, quando se manifesta, o indivíduo já acumula experiências, agradáveis e outras nem tanto. A família está constituída, há estabilidade profissional, amigos conquistados. Enfim, vivências colhidas sob o domínio de plenas aptidões físicas e mentais.
O diagnóstico da Doença de Parkinson interrompe a continuidade desta ordem estabelecida. Quando se toma conhecimento, é natural que paciente e familiares sofram de imediato, principalmente com o impacto da carga de informações superficiais que predominam no ambiente leigo. Neste primeiro contato com a doença, a repercussão emocional prevalece, gerando desgaste e até superando eventuais perdas físicas que possam já estar ocorrendo. A intensidade e a duração deste primeiro impacto são incertas.
Neste momento, "por que eu?" é um questionamento e uma atitude negativa. Há, no entanto, os que necessitam de longo tempo para terem amenizadas estas consequências afetivas, que irão compor o estigma que a doença determina. Depois que a doença impõe seu modelo de comprometimentos e perdas, obviamente alteram-se vários cenários.
"Eu & Parkinson" constitui uma associação indissolúvel. Doenças são fatos, dispensam a gentileza de aviso prévio, abrem a porta e entram na casa de qualquer pessoa. Não faltam razões para justificar a extensão deste desgaste. Na metáfora, pode-se imaginar o paciente e a permanente tentativa de equilibrar-se numa balança de vários pratos: mal-estar, necessidades, autoimagem, bem-estar, possibilidades, estigma, autoestima. Entre estes fatores, é provável que a deterioração quase sempre inevitável da relação necessidades/possibilidades, tenha um peso considerável neste processo.
A doença causa danos irreversíveis ao cérebro, mas não necessariamente na vida familiar e social. Dessa forma, é muito importante o carinho e o apoio de amigos e familiares para que o paciente não se sinta só.
No trato com as adversidades cada um emite as suas respostas. Resiliência tem a ver com a melhor adequação das respostas, produzir cicatrizes de menor tamanho. Trata-se de uma qualidade que muitos humanos detêm e demonstram: muitas pessoas, diante de um provável desastre, superam as dificuldades e vencem. É a capacidade de reconstituir-se, reinventar-se.
Resiliência na saúde pode ser desenvolvida e aperfeiçoada. Possibilita apreender como adaptar-se às circunstâncias, indicando caminhos para agir adequadamente em função delas. Resiliente, no caso das doenças crônicas, é o ser humano que consegue o melhor nível de recuperação, frente às adversidades.
Qualidade de vida na Doença de Parkinson também passa por aqui. Parte do bem-estar que se pretende e se necessita depende mais desta filosofia, do que de medicamentos. Mesmo porque, a filosofia é o espírito da ciência, enquanto a ciência é (somente) a exploração ordenada dos fenômenos e suas relações. Esta é a reflexão que devemos fazer nesse Dia Internacional da Doença de Parkinson.