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Artigo do oncologista Stephen Stefani

- Para onde vamos hoje doutor? - pergunta o motorista do táxi pegando minha mala para acomodar no porta-malas.

O rapaz era um jovem de uns 30 anos, sorridente, usando uma gravata discreta e irradiando energia. Enquanto eu me instalava e verificava o endereço da minha reunião, o motorista verificou se eu estava com cinto de segurança, se posicionou como se estivesse iniciando a decolagem de um avião e questionou novamente, sempre sorrindo:

- Então, doutor, o senhor está pronto?

Assinalei com a cabeça que sim, um pouco distraído, e mostrei para ele o endereço do meu destino.

- Sabe doutor - puxando a conversa - estou inaugurando meu sistema de gás - é a minha primeira corrida depois de adaptar meu carro.

- Ah, é? Vale a pena? - perguntei, por educação.

- Eu acho que a relação de custo-benefício é favorável...

- Como? O que você disse? - me reacomodei no banco traseiro de forma a ficar mais próximo dele.

O rapaz tinha ganhado minha atenção. Fiquei curioso com uso do termo "custo-benefício"(geralmente ouço o termo muito mal aplicado e quis assegurar que não havia sido por acaso).

- Eu acho que a relação de custo-benefício é favorável - repetiu - o valor que paguei pelo sistema, vai me gerar economia em gasolina. Me permite rodar mais. Se eu mantiver 200 quilômetros rodados por dia, meu retorno de investimento será em seis meses.

Ele não só definiu adequadamente o termo custo-benefício, como citou o conceito de implementação e R.O.I (Return Over Investment).

- E o ar condicionado, GPS e lavagens que mantêm teu carro impecável? - fui adiante, curioso. - Mudam teu resultado?

- Bom... aí é uma questão de custo-efetividade... Estou gastando um pouco mais para meu conforto e de meu passageiro.

O termo estava correto novamente. Cheguei ao meu destino ainda intrigado. Paguei a corrida. Ele agradeceu, meio surpreso com a bela gorjeta, e deixou seu cartão. Na verdade, peguei um táxi e sai com uma reflexão sobre minha área.

A medicina é inundada de novas tecnologias. Algumas novas tecnologias trazem resultados impactantes, como anos a mais de vida (eventualmente corrigidos por qualidade de vida, o que chamamos QALY), e algumas ganhos considerados marginais (como controle de crescimento de doenças por poucos dias, sem impacto real em tempo ou qualidade de vida). O que é praticamente certo é que vão custar mais. Como temos recursos finitos, temos que definir nossas prioridades. Parece razoável optar por aquelas que geram melhor resultado frente ao recurso investido.

Quanto estamos dispostos a gastar a mais para gerar um desfecho melhor é justamente uma decisão que nos falta... E não deve ser só passional ou política, mas científica e objetiva, de forma a alocarmos os recursos da forma certa. A tarefa de nossos governantes é nos conduzir neste debate. Nos falta, muitas vezes, é justamente o motorista. 


Autor: Stephen Doral Stefani
Fonte: Zero Hora

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