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Artigo do especialista em Endoscopia Digestiva e Gastroenterologia, Dr. Henrique Eloy

Dados revelados por um estudo realizado pela Imperial College de Londres em parceria com a Organização Mundial de Saúde (OMS) revelaram que a obesidade infantil atinge atualmente dez vezes mais crianças e adolescentes do que na década de 1970. Isso significa que nos últimos quarenta anos o número de crianças e adolescentes obesos – entre 5 e 19 anos – aumentou dez vezes, correspondendo a 124 milhões de pessoas. A Organização também estima que em 2022 existirão mais crianças obesas do que abaixo do peso em todo o mundo.
 
A estatística de crianças obesas no Brasil também é muito elevada. Um em cada três brasileiros apresenta sobrepeso ainda na infância. O Ministério da Saúde estima que 33% das crianças brasileiras entre 5 a 9 anos, hoje já estejam acima do peso. O índice de meninos obesos alcança 16,6% e dentre as meninas a taxa chega a 11,8%, segundo informações contidas nas Pesquisas de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE 2008-2009. Já entre os jovens com idades de 18 a 24 anos, o percentual de obesos aumentou em 110% nos últimos dez anos no país. 
 
Os números são bastante preocupantes e apontam para uma grande possibilidade de que esses indivíduos se mantenham obesos ou com sobrepeso durante a vida adulta. A obesidade na infância e adolescência é um assunto extremamente importante, pois, acomete pessoas que estão em um processo de formação de personalidade e desenvolvimento físico.
 
A obesidade nessa fase prejudica a saúde desses pacientes, não somente na área física, como a psíquica e a vida social. Com causas multifatoriais, a obesidade está sofrendo maior estímulo por parte de características socioculturais e comportamentais da sociedade atual, mas também pode ser causada por fatores genéticos e hereditários.
 
No âmbito sociocultural, a obesidade nas crianças e adolescentes vem sendo impulsionada pelo aumento do consumo de alimentos industrializados – fast-food, comidas ricas em gordura e pobres em nutrientes –, aliado ao sedentarismo. Com os avanços tecnológicos, as crianças passam mais tempo sentadas usando aparelhos eletrônicos e praticam pouca, ou nenhuma atividade física.
 
Vários estudos comprovam que se uma criança tem um pai obeso, ela terá 40% de chance de vir a se tornar um adulto obeso.  Se os dois pais são obesos, essa possibilidade dobra, assim essa criança terá 80% de chance de se tornar um adulto obeso, contra 10% de possibilidade, caso nenhum dos pais forem obesos. Portanto, a carga genética é muito importante para essas crianças.
 
Em um estudo recente divulgado pelo ‘The BMJ’ (Briths Medical Journal) foi revelado que filhos de mulheres que levem um estilo de vida saudável contam com 75% menos probabilidade de serem obesos. Este é um dado muito importante, pois, evidencia que a influência da família na adoção de bons hábitos físicos e alimentares, podem ser essenciais para a prevenção da obesidade infanto-juvenil.
 
Crianças obesas podem desenvolver hipertensão arterial, dislipidemia (aumento do colesterol triglicérides), diabetes, apneia, depressão, asma brônquica e problemas osteoarticulares, cardiovasculares, ortopédicos e hepáticos. Entre as meninas, a obesidade pode causar um amadurecimento físico precoce, ocasionando uma puberdade antecipada e ciclos menstruais irregulares.
 
Todas as alterações causadas pela obesidade em crianças podem levar a uma queda da capacidade física destes pacientes, assim como a um declínio em seus rendimentos escolares. Estes fatores fazem com que essa criança sofra com comportamentos discriminatórios por parte dos colegas de colégio, levando a casos de bullying, que nós tanto conhecemos, e que quando acontecem, podem agravar ainda mais todos estes problemas, principalmente, no âmbito psíquico.
 
A principal ferramenta terapêutica é a mudança comportamental de toda a família. Não adianta direcionar o tratamento somente a criança ou adolescente, pois a família inteira tem que se comprometer com esse tratamento. 

O uso de medicamentoso ou da cirurgia em crianças é totalmente contraindicado, já em adolescentes, a prática deve ser realizada somente em casos excepcionais, com a indicação formal de toda a equipe multidisciplinar. É de suma importância nestes casos, que antes da realização de uma cirurgia, seja avaliada a maturação óssea destes pacientes, pois caso ela não esteja completa, a operação não pode ser autorizada. Para evitar o uso da cirurgia, os procedimentos endoscópicos – como o Balão intragástrico – pode ser uma indicação eficaz para o tratamento da obesidade em adolescentes. 


Autor: Dr. Henrique Eloy
Fonte: Naves Coelho

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