Imprimir
 

Desenvolvidos na Austrália, aparelhos de silicone são de fácil adaptação e chegam a Caxias do Sul

Pouco conhecidos da comunidade científica e, claro, menos ainda da população, os aparelhos intra-orais de silicone já são uma realidade na Serra Gaúcha. Desenvolvidos na Austrália, eles aparecem como uma chance efetiva para transformar a vida das pessoas que sofrem com noites mal dormidas devido ao ronco ou Síndrome de Apnéia do Sono (pequenas e sucessivas paradas respiratórias durante o sono) e, conseqüentemente, de seus cônjuges. Definidos como uma adaptação das versões destinadas à correção de problemas bucais em crianças, esses modelos são fisiológicos, funcionais e confortáveis. A opção chegou a Caxias por meio do trabalho da primeira especialista em atendimento odontológico a pacientes especiais do Estado, Débora Scariot, que direciona sua atividade a alguns dos principais problemas relacionados à cavidade bucal, como ronco, apnéia, respiração bucal, bruxismo e alterações no desenvolvimento orofacial.

Licenciada pela Myofuncional Research – empresa de pesquisa em terapia muscular que desenvolve os aparelhos –, Débora tem obtido resultados surpreendentes com seus pacientes. Em alguns casos, o ronco é 75% eliminado. Utilizados em outros países há 10 anos, a especialista conheceu o sistema de aparelhos há oito, durante um curso em ortopedia funcional. “Quando me apresentaram a novidade, optei por usá-la no tratamento da minha filha, que apresentava mordida aberta e respiração buco-nasal decorrente do hábito de chupar dedo.” O sucesso do tratamento com crianças e adolescentes respiradores bucais levou à superação das expectativas e, a partir daí, a profissional passou a oferecer o tratamento em sua clínica também para adultos.
 
Com profundo conhecimento sobre as dificuldades respiratórias, devido a sua experiência também com portadores da síndrome de Down, ela percebeu que não somente crianças necessitavam do tratamento como também e, principalmente, os adultos poderiam se beneficiar do uso, já que, aproximadamente 30% da população sofre de ronco. “A opção mais comum ainda utilizada por alguns profissionais são os aparelhos rígidos de acrílico, porém, o índice de rejeição é muito grande pelo desconforto causado, e as pessoas acabam preferindo conviver com o ronco. Infelizmente, em alguns casos, a indicação ainda é o uso dessas versões, mas grande parte dos pacientes podem se beneficiar com o aparelho pré-fabricado de silicone”.
 
Para situações mais graves, esclarece a especialista, o médico otorrinolaringologista poderá encaminhar para cirurgia ou sugerir ao paciente a utilização de um aparelho que bombeia oxigênio diretamente aos pulmões. Antes de qualquer definição, porém, é necessária uma análise profunda, já que o tratamento do ronco e da apnéia envolve uma série de medidas. “O problema pode estar associado a uma doença sistêmica por exemplo ou a obesidade. Por isso, o primeiro passo é uma avaliação com otorrinolaringologista e a realização do exame do sono, chamado polissonografia, para, posteriormente, a busca do tratamento mais adequado ao seu caso”.
 
Os benefícios da boa oxigenação dos sistemas proporcionada pelo aparelho tem um reflexo amplo, contribuem para o bem estar geral dos pacientes que, sem exceção, relatam melhora na sua disposição física e emocional. Observa-se também, já na primeira semana de uso, alívio da enxaqueca, quando presente, em 90% dos casos. “Uma dieta saudável, a prática de atividades físicas, inspirar e expirar profundamente quando ao ar livre, além de abandonar os maus hábitos também são ações importantes para um sono mais saudável e, conseqüentemente, mais saúde”, conclui Débora.
 
Como funciona
 
Quando colocado em boca, o aparelho de silicone aumenta o espaço intrabucal para a língua e impede a retração da mandíbula pela ação do relaxamento muscular que ocorre durante o sono. Como a base da língua está inserida no meio e na parte interna do maxilar inferior, esta também fica numa posição mais anterior com o uso do aparelho, impedindo um colapso dos tecidos na região orofaríngea permitindo, então, a passagem de ar.
 
Problemas respiratórios comuns a crianças e adultos
 
A experiência do trabalho sobre as questões respiratórias permitiu a Débora Scariot constatar semelhanças os problemas de crianças e adultos. Com exceção das cáries e doenças gengivais, o ronco, a respiração oral e as disfunções da face, como o bruxismo e/ou o “apertamento” dentário são os problemas mais freqüentes comuns a adultos e crianças. Entre eles, o ronco e a respiração bucal são os mais graves quando considerados os prejuízos sistêmicos. Decorrentes de vários fatores podem levar a problemas no sono, déficit de oxigenação, cansaço, desânimo, dores musculares e irritabilidade. O adulto fica mal humorado, e a criança geralmente desatenta, apresentando baixo rendimento escolar.
 
Uma das principais causas do ronco é o excesso de peso corporal, que resulta no aumento nos tecidos moles da via aérea superior devido ao tecido adiposo. Flacidez da musculatura da língua e/ou falta de espaço para o posicionamento lingual devido à atresia (falta de desenvolvimento) de maxilares, falta de desenvolvimento e crescimento da mandíbula ou extrações dentárias indevidas são outras características que contribuem para o problema. Doenças que comprometem o sistema muscular também podem levar ao ronco ou a apnéia.
 
“Para o adulto, o ronco pode variar de um pequeno problema, incomodando “apenas” o cônjuge, ou pode se tornar no maior problema de sua vida, pois a pessoa simplesmente não descansa e não deixa mais ninguém dormir num raio de 100 metros”, alerta a especialista. O ronco e a apnéia tendem a aumentar com a idade. Aproximadamente 60% dos homens e 40% das mulheres roncam regularmente entre 60 e 65 anos de idade. Como resultado desses esforços respiratórios ocorre a fragmentação do sono e a sensação de cansaço diurno, semelhante aos que fazem a apnéia, com a diferença de que as paradas respiratórias levam à diminuição da oxigenação do sistema.
 
Nas crianças, os problemas respiratórios das mais diversas origens estão associados às alterações no desenvolvimento da face e da cavidade bucal. O pouco tempo de amamentação no peito, bico e mamadeira por tempo prolongado e, muito freqüentemente, a falta de estímulo mastigatório decorrente de uma dieta facilitada são as causas principiais de todas as alterações funcionais da face.
 
Tratamento do ronco começa na primeira infância
 
Diversos estudos têm levado os especialistas a colocarem a respiração bucal e a obstrução nasal como um dos fatores iniciais na modificação das estruturas funcionais da face. As modificações da posição da língua, dos dentes, a falta de desenvolvimento dos maxilares, bem como a diminuição das dimensões nasais e dos seios da face em conjunto são descritos como desencadeadores dos distúrbios do sono, causando o ronco e apnéia. Por essas razões o diagnóstico clínico precoce feitos pelos médicos e odontopediatras, podem resultar em tratamento preventivo desses males e melhorar a qualidade de vida desses pacientes que, se não tratados, serão os futuros roncadores quando adultos.

Autor: Simoni Schiavo
Fonte: Enter

Imprimir