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Defeito no cromossomo 16 é responsável por quase um em cada mil casos

Pessoas que nascem com um defeito genético no cromossomo 16 têm 43 vezes mais risco de se tornarem obesas mórbidas do que as que não têm o problema, conclui o maior estudo do gênero publicado hoje na revista científica "Nature". Trata-se de uma deleção genética (falta de um pedaço de gene) nesse trecho do DNA.

Pesquisadores do Imperial College London avaliaram 16.053 pacientes (entre pessoas com peso normal, sobrepeso, OBESIDADE e OBESIDADE mórbida) de oito centros europeus e constataram a presença da anormalidade genética no cromossomo 16 em 0,7% dos pacientes -13 eram obesos mórbidos e três eram obesos. O defeito foi encontrado em apenas um paciente magro e em nenhum com sobrepeso.

Com essa descoberta, essa torna-se a segunda causa genética mais frequente associada à OBESIDADE mórbida -perde apenas para a mutação do gene MC4R, no cromossomo 18, que é responsável por cerca de 4% dos casos da doença.

Doença poligênica

A OBESIDADE é uma doença poligênica -o que significa que múltiplas alterações genéticas chamadas de polimorfismos (envolvendo absorção de ALIMENTOS, gasto calórico, apetite etc) podem favorecer o ganho de peso em algumas pessoas e dificultar em outras.

A novidade, nesse caso, é que se descobriu que uma única alteração genética é capaz de apontar se a pessoa desenvolverá ou não o problema. E isso, no futuro, poderá servir de base para a realização de exames genéticos para fazer o diagnóstico e também para definir qual o melhor tipo de tratamento.

"Esse estudo é um marco. Trata-se de uma região de cromossomos importantes na regulação do peso. Pacientes que nascerem com esse defeito quase certamente serão obesos mórbidos. Não há DIETA que resolva isso, eles terão que fazer o tratamento mais drástico, que é reduzir o estômago", diz Márcio Mancini, presidente do Departamento de OBESIDADE da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) e médico responsável pelo Grupo de OBESIDADE e Síndrome Metabólica do HC.

O endocrinologista Daniel Lerário concorda e acrescenta que, daqui a alguns anos, será possível fazer o diagnóstico individualizado dos casos de OBESIDADE mórbida.

"Os pesquisadores descobriram um gene que é determinante nos casos de OBESIDADE mórbida, independentemente dos hábitos de vida e do ambiente em que a pessoa vive. A tendência, no futuro, será alocar cada um em um caso específico de diagnóstico e não chamar tudo de OBESIDADE e ponto final", diz Lerário.

Para o endocrinologista Paulo Rosenbaum, do centro de cirurgia da OBESIDADE do hospital Albert Einstein, os resultados "abrem as portas" para novos estudos genéticos relacionados à OBESIDADE. "Com o tempo, saberemos como esses genes se comportarão e será mais fácil definir o tratamento mais indicado para o paciente", diz.

O Brasil e o mundo vivem uma epidemia de OBESIDADE. Cerca de 70 milhões de brasileiros (40% da população) estão com sobrepeso. Os obesos representam quase 15% da população e os obesos mórbidos chegam a cerca de 2%.


Autor: Fernanda Bassette
Fonte: Folha de São Paulo

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