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A medicina brasileira deu um salto de qualidade com a era digital, juntando computadores e internet

Onde dói?, Pergunta o doutor, em São Paulo. Em Parintins, podia responder o paciente. Afinal, o Agricultor de 42 anos está no interior do Estado do Amazonas. Lugar bacana, famoso pela festa do boi, mas meio complicado para quem tem problema no coração. Parintins só tem cardiologista dez dias por mês "Ele chegou a desmaiar e a esposa encontrou ele desmaiado durante o trabalho dele no campo", conta um médico amazonense.

Na cyber-consulta, o especialista da USP, a 2.500 quilômetros, pode ajudar no diagnóstico do clínico lá de Parintins. Longe dos olhos, mas perto do cardiologista. Até o eletro chega via internet para análise do Doutor Carlos Alberto Pastore, cardiologista do Instituto do Coração. "Quando você tem o paciente na sua frente, tem os exames, tem um médico lá na ponta que transmite a informação, isso facilita e nos dá segurança para dizer que você está atendendo o paciente adequadamente", afirma.

"Do ponto de vista tecnológico vamos evoluir muito, a ponto que, provavelmente em uma década no máximo, teremos um chip em que, colocando uma gota de sangue, você consegue fazer 150 exames laboratoriais e transfere via telemedicina", conta o Presidente do Conselho Brasileiro de Telemedicina, Chao Lung Wen.

Curioso, mesmo, é saber que essa tecnologia do bem foi desenvolvida, originalmente, para os campos de batalha. No tempo da guerra fria, em que russos e americanos se desafiavam mundo afora, o Pentágono desenvolveu a telemedicina para atender soldados feridos longe da base. A mesma receita serviu para o programa espacial americano.

O avanço mais recente foi por causa da guerra do Afeganistão. Os americanos queriam levar as melhores técnicas cirúrgicas aos combatentes feridos no campo de batalha, mas sem por em risco os seus médicos. Acabaram inventando a cirurgia robótica.

Hoje, o cirurgião que comanda o robô fica ao lado do paciente. A vantagem é que, em vez de fazer cortes e suturas com as próprias mãos, ele usa a precisão dos braços mecânicos. Se o cirurgião fizer um movimento brusco por acidente, a máquina trava e protege o paciente. "Você tem uma maior segurança daquilo que está fazendo, uma possibilidade de tratamento superior ao que você faz pela laparoscopia. Uma cirurgia, um procedimento mais rápido, mais seguro, com menor taxa de sangramento e melhor recuperação do paciente", explica o Gerente médico do centro cirúrgico do Hospital Sírio-Libanês, Sérgio Arap.

De volta à USP, os computadores de última geração já estão ajudando a treinar cirurgiões. Em vez de ganhar experiência em pacientes de hospitais universitários, os residentes aprendem a fazer cirurgias num ambiente virtual. A operação feita no abdômen através de pinças, chamada de laparoscopia, exige muito treino. Nos computadores, um software de realidade virtual reproduz as sensações de peso e consistência dos órgãos e tecidos tocados pelas pinças do cirurgião.

A alternativa a isso seria operar uma pessoa de verdade? "Um ser humano, com problemas éticos para o ser humano ou até animais. Esse é o futuro, não tenha dúvida nenhuma". Computadores também oferecem respostas para o tratamento de doenças difíceis, como o câncer. A nova máquina de radioterapia é guiada por imagens produzidas por um software. Assim, os médicos conseguem atingir as células cancerígenas sem errar a mira, mesmo quando o paciente se mexe naturalmente com a respiração.

Funciona assim: uma tomografia faz um retrato tridimensional do tumor. Diante de uma tela, gerada por computação gráfica, o médico determina onde a radiação vai ser aplicada e por onde ela vai entrar no corpo do paciente. O software de imagens ajuda a concentrar todas os feixes no câncer. Só as células doentes que precisam ser destruídas, recebem a radiação necessária. A dose pode ser bem mais alta e, portanto, mais eficiente porque os tecidos sadios não são atingidos.

Desse jeito dá pra usar a radioterapia em tumores em lugares delicados, como os pulmões, o fígado e a coluna vertebral. Cânceres que, de outra forma, só poderiam ser tratados com quimioterapia. "É possível curar um câncer pulmão. Tumores iniciais de pulmão, tratado com alta tecnologia, desde que tenha indicação, ou seja, tumores periféricos até 5 cm, é possível cuidar em torno de 80% desses pacientes com essa radioterapia de alta tecnologia".

Há pouco menos de dois anos o comerciante Antônio Martins recebeu um diagnóstico de câncer de próstata. "É uma notícia difícil, no início. A primeiro solução foi à cirurgia. E a segunda saída seria a radioterapia. Só que não foi possível fazer a cirurgia porque a minha próstata estava em uma situação muito difícil", contra Sr. Antônio

Como o "Plano a" não deu certo, a família depositou toda fé no "Plano B". "A gente tem idéia que aquilo não vai proporcionar benefício nenhum, mas na realidade é o que resolve. Dá essa impressão de mágica", diz Antônio.

Mágica não. Foi à tecnologia que, depois de dois meses, curou Sr. Antônio do câncer. "Eu ter iniciado o tratamento e ter iniciado neste mesmo momento essa nova tecnologia, para mim, foi uma dádiva, foi um presente na realidade", completa Sr. Antônio.
 
 
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Autor:
Fonte: Central Globo de Jornalismo - G1

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